| Paphiopedilum Leeanum | |
Embora pareça uma atividade simples e trivial, o ato de comprar orquídeas pode levar a uma série de armadilhas e golpes, além de esconder truques e macetes que seriam capazes de otimizar o processo, seja ele online ou presencial. A aquisição de orquídeas precisa ser feita na época certa, através de fornecedores idôneos e qualificados. Ao longo deste artigo, vamos conhecer as principais dicas para adquirir orquídeas de qualidade, com segurança e a preços justos.
Quando comecei a me interessar por orquídeas, a primeira coisa que me assolou foi o impulso de acessar o site de uma floricultura online e comprar meia dúzia de exemplares. Este ímpeto consumista logo se dissipou quando percebi que as orquídeas mais simples custavam a partir de cem reais. Fiquei chocado. Como poderia montar uma coleção de orquídeas, com algumas dezenas de plantas, com valores neste nível estratosférico?
Na época, ainda não era tão comum encontrar orquídeas à venda em feiras e supermercados, como ocorre atualmente. Foi somente com o tempo e a experiência que fui descobrindo outros locais mais apropriados para se comprar orquídeas, que não as floriculturas.
Neste contexto, achei por bem iniciar esta lista top 10 de dicas com os lugares onde não comprar orquídeas. Desta forma, já podemos começar nos esquivando de alguns golpes e armadilhas que, infelizmente, abundam neste mercado.
Sendo assim, a primeira dica é não comprar orquídeas na rua. Mais precisamente, nas calçadas, onde ficam os vendedores que costumam coletar exemplares nativos das matas e revendê-los ao público mais desavisado. Esta é uma atividade ilegal, já que muitas espécies de orquídeas da flora brasileira encontram-se ameaçadas de extinção. Algumas delas já não são mais encontradas em seus habitats de origem.
É relativamente fácil reconhecer uma orquídea coletada ilegalmente da natureza. Via de regra, a planta apresenta as folhas mais sujas, com detritos naturais do ambiente em que a espécie vivia, geralmente comidas por insetos. As raízes costumam estar danificadas, já que a orquídea foi arrancada de alguma árvore, na qual se hospedava, sem lhe causar danos. Muitas vezes, percebemos que o exemplar está em um vaso, mas completamente solto, sem um enraizamento apropriado, já que não foi cultivado ali.
Ao comprarmos uma orquídea nestas condições, estamos fomentando uma atividade ilegal, extrativista, que contribui para a extinção de inúmeras espécies nativas. Além disso, a probabilidade de uma planta dessas sobreviver, em nosso ambiente doméstico e artificial de cultivo, em casas e apartamentos, é bastante baixa. Afinal, ela cresceu e se desenvolveu em seu habitat original, sob condições climáticas naturais e ideais, em termos de umidade relativa do ar, ventilação e iluminação. Apenas estufas profissionais conseguem replicar com fidedignidade este tipo de ambiente, que é diferente para cada espécie de orquídea.
Como já vimos anteriormente, as floriculturas são outro exemplo de local em que a compra de orquídeas não é recomendada. Isso porque estes estabelecimentos comerciais atendem a outro tipo de público, mais interessado em adquirir um presente grande e vistoso, de aparência sofisticada. Consequentemente, os preços cobrados refletem esta preferência. Neste contexto, as orquídeas vendidas em floriculturas são exemplares híbridos, exóticos, oriundos de espécies asiáticas, que costumam despertar pouco interesse no público realmente interessado na família botânica Orchidaceae.
Outro local em que é preciso ter muito cuidado ao se comprar orquídeas é a internet. Muito embora existam sites de empresas idôneas, é bastante comum cairmos em golpes, quando o assunto é comprar orquídeas online. O motivo é muito simples, pagamos antecipadamente por um produto que não podemos ver. Somente quando a planta chega em casa, após dias apertada em uma caixa de transporte, muitas vezes improvisada, somos capazes de verificar o estado da planta e a veracidade de sua identidade.
Já tive muitos problemas comprando orquídeas pela internet. Em alguns casos, simplesmente não recebi as plantas em casa, e tive que lutar para reaver o dinheiro pago. Em outras situações, recebi plantas minúsculas, muito menores do que as anunciadas. Além disso, são inúmeros os casos em que os vendedores enviam orquídeas danificadas, com pragas e doenças. Também há problemas de identificação, quando os exemplares enviados não correspondem às espécies anunciadas.
O problema de identificação é grave porque, via de regra, as orquídeas vendidas pela internet não são enviadas com flores. É preciso cultivá-las por alguns anos, até que venham a florescer. Somente então, saberemos se a espécie anunciada corresponde, de fato, àquela pela qual pagamos. Infelizmente, nem sempre isso acontece, e a frustração é imensa.
Neste contexto, a melhor forma de se adquirir uma orquídea é presencialmente, a partir de um fornecedor idôneo e confiável. Uma excelente oportunidade para se conhecer profissionais sérios é durante as exposições de orquídeas, que costumam acontecer ao longo de todo o ano, em diferentes estações, em boa parte das cidades do país.
Nestes eventos, paralelamente à exposição de exemplares raros e premiados, de colecionadores, existe uma área destinada à venda de orquídeas. Nestes locais, é possível comprar mudas jovens a preços bastante acessíveis. Além disso, cada stand é devidamente identificado com o nome do orquidário produtor, sendo possível, em muitos casos, conversar pessoalmente com cada fornecedor. Em eventos deste tipo, é bastante comum que o vendedor de orquídeas seja também um grande conhecedor e pesquisador do assunto.
Esta dica é fundamental porque, ao comprarmos orquídeas de um produtor idôneo, estamos contribuindo para a preservação do meio ambiente. Isso devido ao fato de que as espécies vendidas por orquidários comerciais sérios são obtidas a partir de sementes germinadas em laboratório, sob condições estéreis e controladas. Uma única cápsula de sementes de orquídea é capaz de dar origem a milhares de plantas, que são cultivadas em estufas climatizadas, durante vários anos, até que atinjam a maturidade e sejam capazes de produzir flores.
Além disso, estas empresas especializadas precisam ter uma licença ambiental específica, para que possam comercializar orquídeas nativas. Este documento atesta que os exemplares vendidos não são coletados da natureza, sendo produzidos em condições laboratoriais, a partir de sementes selecionadas.
Neste contexto, outra dica de fundamental importância é a de jamais, sob hipótese alguma, comprar sementes de orquídeas. É bastante comum vermos proliferar, principalmente na internet, anúncios de sementes dos mais variados tipos de orquídeas, alguns que sequer existem na natureza. São todos anúncios enganosos, de produtos que não correspondem à realidade. Não é possível comercializar estas sementes, já que se trata de uma material microscópico, com a aparência de um punhado de poeira. Além disso, sua germinação é bastante complicada, que somente ocorre sob condições muito específicas. Por estes motivos, nenhum produtor sério vende sementes de orquídeas.
Esta é uma dica que precisa ser compartilhada entre parentes e amigos, atingindo o maior número possível de pessoas, já que, a todo instante, recebo mensagens de leitores que compraram sementes de orquídeas, perguntando-me sobre a melhor forma de plantá-las.
Nesta sequência de raciocínio, outra importante dica para comprar orquídeas refere-se ao estágio de amadurecimento da muda que vamos levar para casa. Como já vimos anteriormente, são necessários vários anos de cultivo, para que uma orquídea atinja a idade adulta e seja capaz de florescer. Este período de tempo varia bastante, de acordo com cada gênero e espécie de orquídea. Além disso, mudas obtidas a partir de sementes demoram muito mais para amadurecerem, quando comparadas àquelas obtidas de forma vegetativa, como acontece com os keikis formados espontaneamente. É por esta razão que orquídeas como o Dendrobium loddigesii, que produz mudas loucamente, são vendidas a preços mais baixos.
Neste sentido, nem sempre é possível sabermos se uma muda de orquídea é adulta ou não, no momento da compra. Em feiras e exposições, é comum que haja um exemplar florido, como amostra, que não está à venda. Ao redor, ficam as mudas que são, de fato, comercializadas. Neste momento, é importantíssimo estar atento ao grau de maturidade destas mudas. Os produtores idôneos identificam as orquídeas de acordo com a sua idade, com siglas específicas. De modo geral, elas refletem o tamanho do vaso, no qual ela está sendo cultivada, em polegadas, ou a idade da muda, em anos.
Para os cultivadores mais ansiosos, que não têm muita paciência para esperar, o ideal é comprar orquídeas identificadas com a sigla NBS, near blooming size, termo em inglês que significa 'próximo do tamanho de floração'. Muitos produtores identificam suas plantas como 'capazes de florescer na próxima estação'. Como bem sabemos, de maneira geral, as orquídeas costumam florescer apenas uma vez ao ano, em sua estação mais típica. Isso vale principalmente para as espécies. Já os indivíduos híbridos podem florescer mais de uma vez por ano.
Ainda que não apresente flores, uma muda de orquídea pode revelar algumas pistas quanto à sua futura floração. Por exemplo, espécies que produzem flores bastante pigmentadas, com cores intensas ou pintalgas, costumam apresentar as pontas das raízes avermelhadas. Já os exemplares albinos, que produzem flores completamente brancas, têm as pontas das raízes esverdeadas, sem sinais de pigmentação. Além disso, as folhas das mudas também podem revelar algumas características sobre o tipo e qualidade das flores que virão a ser produzidas pela orquídea em questão.
Neste quesito, vale relembrar a dica das plantas coletadas ilegalmente da natureza, que apresentam as imperfeições típicas de seu ambiente original. Mudas produzidas em laboratório e cultivadas em estufas possuem as folhas e raízes impecáveis, completamente limpas e brilhantes, firmes e sem nenhum dano aparente. Uma não é melhor do que a outra, é apenas um elemento estético que nos ajuda a verificar a procedência da planta.
Para aqueles que preferem comprar orquídeas já floridas, é importante que estejam atentos às estações do ano nas quais cada espécie tipicamente floresce. É por este motivo que existem diversas exposições de orquídeas ao longo do ano. Caso o cultivador esteja interessado em adquirir o gênero Cymbidium, por exemplo, é mais comum encontrá-lo florido durante os meses mais frios. Já diversas espécies do gênero Cattleya costumam florescer durante o outono, mas há exceções e particularidades. As cobiçadas orquídeas Vanda, por sua vez, podem ser encontradas floridas ao longo de todo o ano, já que são importadas do sudeste asiático e mantidas em estufas climatizadas.
Por outro lado, as famosas orquídeas sapatinho, do gênero Paphiopedilum, costumam dar as caras no outono, por volta do Dia das Mães, ficando floridas até o início do inverno. Para quem gosta de Dendrobium, por sua vez, o melhor é comprar a orquídea florida no início da primavera.
Neste contexto, ao invés de comprar uma grande quantidade de orquídeas de uma só vez, como eu pretendia fazer, no início da minha jornada, o ideal é fracionar as aquisições ao longo do ano, de acordo com as estações próprias de cada espécie. Desta forma, com o passar do tempo, vamos formatando uma coleção de orquídeas que é capaz de florescer o ano inteiro.
Confesso que já estou meio perdido nesta lista de dicas para comprar orquídeas, mas acredito que já foram mais de dez. De todo modo, o mais importante é saber o que não comprar e onde não comprar. Afinal, nos tempos difíceis que estamos atravessando, mais do que nunca, o dinheiro não está aceitando desaforos.
O importante é comprar orquídeas de qualidade, de fornecedores idôneos, com a devida identificação da espécie e seu grau de maturidade. Não é preciso ter pressa, as aquisições podem ser feitas de maneira gradual, ao longo das estações, para que a coleção fique cada vez mais rica em variedade e sempre florida.
Publicado em: | Última atualização:
Por Sergio Oyama Junior
Bacharel em biologia pela Unicamp, com mestrado e doutorado em bioquímica pela Usp, escreve sobre o cultivo de orquídeas, suculentas, cactos e outras plantas dentro de casas e apartamentos.
São Paulo, SP, Brasil
Bacharel em biologia pela Unicamp, com mestrado e doutorado em bioquímica pela Usp, escreve sobre o cultivo de orquídeas, suculentas, cactos e outras plantas dentro de casas e apartamentos.
São Paulo, SP, Brasil