| Senecio vitalis cristata | |
Assemelhando-se a uma criatura mítica emergindo das profundezas do mar, esta rara planta suculenta tem levado os colecionadores à loucura. Sua anatomia em forma de rabo de sereia ou rabo de peixe é resultado de uma mutação que induz ao crescimento anômalo da espécie botânica Senecio vitalis. Trata-se da variedade cristata, que pode ser observada em diversos cactos e suculentas.
A suculenta rabo de sereia costuma ser chamada, equivocadamente, de cacto rabo de sereia ou cacto rabo de peixe. Muito embora todos os cactos sejam exemplos de plantas suculentas, o inverso não é verdadeiro. Apenas os representantes da família Cactaceae são considerados cactos verdadeiros. No caso do Senecio vitalis, sua ascendência está relacionada à família Asteraceae.
Este sugestivo nome popular também é utilizado em países de língua inglesa, onde a planta é conhecida como mermaid tail succulent. A variação crested Senecio vitalis também é comumente citada, em diversas fontes. No Brasil, esta espécie acaba recebendo outros apelidos, tais como suculenta cauda de sereia ou suculenta cauda de peixe. Vamos combinar que o termo 'cauda' é mais elegante do que 'rabo'.
Ainda assim, o mais comum é que ouçamos a designação de maior popularidade, suculenta rabo de sereia. Em sua forma tipo, original, o Senecio vitalis é encontrado apenas no continente africano, mais precisamente na região costeira pertencente à província do Cabo Ocidental, na África do Sul. Esta planta tem a aparência típica de uma suculenta comum, formando pequenos arbustos que se espalham pela superfície, como uma forração. Suas folhas são cilíndricas e curvadas para cima.
Já o Senecio vitalis cristata é bastante diferente, com seu caule achatado lateralmente, em forma de triângulo invertido, a partir do qual surgem diversas folhas suculentas e cilíndricas, como uma franja. Esta morfologia diferenciada, que nos remete ao formato de cauda de peixe, é resultado de uma mutação espontânea, de ocorrência raríssima e natural, que não pode ser induzida artificialmente.
Outro fator que contribui para a raridade e exclusividade da suculenta rabo de sereia é a dificuldade de sua propagação. Nem sempre um pedaço da planta mutante irá se transformar em uma cópia idêntica à progenitora. O mais provável é que haja uma reversão para a forma tipo. Mas é uma questão de tentativa e erro. Também existe a improvável possibilidade de uma planta tipo espontaneamente dar origem a uma forma cristata. É como ganhar na loteria.
O cultivo da suculenta rabo de sereia segue os mesmos princípios básicos estabelecidos para todas as plantas desta categoria informal. O ideal é tentar recriar as condições climáticas de seu habitat original. No caso do Senecio vitalis, é importante fornecer um solo bem aerado, rapidamente drenável, de natureza mais arenosa e pobre em matéria orgânica.
Existem substratos próprios para o cultivo de cactos e suculentas, prontos para o uso, à venda em lojas de jardinagem e garden centers. No entanto, é possível fazer uma mistura caseira, com terra vegetal e areia grossa de construção, em partes iguais. Vale sempre ressaltar que a areia da praia não é própria para este fim, visto que contém elevados níveis de salinidade, prejudiciais ao desenvolvimento das raízes.
O vaso para o cultivo da suculenta rabo de sereia não pode ser muito grande. Quanto maior o recipiente, mais substrato será necessário para preenchê-lo, o que torna a secagem do material mais demorada. Esta é uma planta que não pode ficar com as raízes úmidas por muito tempo. Por este motivo, as regas devem ser bem espaçadas, ocorrendo apenas quando o solo estiver completamente seco. No inverno, é importante reduzir a frequência das irrigações. Como sempre, o uso do pratinho sob o vaso deve ser evitado, já que o acúmulo de água pode levar ao apodrecimento das raízes.
A melhor forma de se aferir a umidade do substrato é através do peso do vaso. Quanto mais leve estiver, mais seco estará o solo em seu interior. Além disso, o toque com a ponta do dedo, afundando-o levemente, ajuda na tomada de decisão. Caso haja algum indício de que o material ainda está úmido, a rega deve ser postergada. Para facilitar este processo de verificação diária, o ideal é evitar a colocação daquela clássica camada de pedrisco branco, por cima do solo, que tem função apenas decorativa.
A suculenta rabo de sereia não necessita de uma adubação muito elaborada ou rica em compostos orgânicos. Uma fórmula de manutenção, do tipo NPK, especialmente elaborada para a nutrição de cactos e suculentas, é suficiente para garantir um bom desenvolvimento da planta. É importante evitar fornecer um fertilizante muito rico em nitrogênio, que tende a induzir um crescimento acelerado da parte vegetativa, resultando em caules estiolados e frágeis.
Outro fator importante para o cultivo bem-sucedido da suculenta rabo de sereia ou rabo de peixe é a luminosidade. Quanto mais luz puder ser fornecida à planta, melhor será o seu desenvolvimento. No entanto, vale lembrar que as formas cristatas tendem a apresentar um crescimento mais lento. Também vale ressaltar que o sol direto, nas horas mais quentes do dia, pode causar danos às folhas desta planta. O ideal é uma condição de meia sombra, com bastante luminosidade indireta e algumas horas de sol pleno, no início da manhã ou no final da tarde.
Não existem relatos de que a suculenta rabo de sereia possa causar intoxicações, caso seja acidentalmente ingerida. Contudo, é preciso manuseá-la com cuidado, já que algumas pessoas podem sofrer reações alérgicas, quando entram em contato com a seiva desta planta. Acima de tudo, esta é uma suculenta para ser mantida bem longe do alcance de crianças e animais de estimação, já que uma mordida ou um esbarrão podem arruinar a aparência deste raríssimo espécime.
Ainda que seja difícil encontrar uma suculenta rabo de sereia ou rabo de peixe à venda, no mercado, vale a pena conhecer a origem e as características desta planta única, capaz de brilhar na coleção daqueles que apreciam cactos e suculentas. Muito embora outras espécies possam receber este apelido, o Senecio vitalis, em sua forma cristata, é o mais típico representante cuja anatomia se assemelha à cauda de uma sereia, peixe ou baleia.
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Por Sergio Oyama Junior
Bacharel em biologia pela Unicamp, com mestrado e doutorado em bioquímica pela Usp, escreve sobre o cultivo de orquídeas, suculentas, cactos e outras plantas dentro de casas e apartamentos.
São Paulo, SP, Brasil
Bacharel em biologia pela Unicamp, com mestrado e doutorado em bioquímica pela Usp, escreve sobre o cultivo de orquídeas, suculentas, cactos e outras plantas dentro de casas e apartamentos.
São Paulo, SP, Brasil