| Dendrobium loddigesii | |
Nos tempos difíceis que estamos atravessando, nem sempre é viável adquirir novas orquídeas para a coleção, sendo que há outras tantas prioridades no cotidiano de todos nós. Felizmente, não é complexo realizar a propagação destas incríveis plantas diferenciadas. O importante é estarmos atentos ao fato de que cada gênero apresenta suas peculiaridades, quando o assunto é produzir novas mudas de graça.
Para quem não está familiarizado com esta família botânica, Orchidaceae, pode ser tentador enveredar pelo caminho da propagação através de sementes. Embora este seja um método comumente utilizado para a obtenção de novos exemplares de diversas plantas, no caso específico das orquídeas, infelizmente, as dificuldades são enormes.
Não obstante, é muito comum encontrarmos anúncios de vendedores inescrupulosos, tentando negociar sementes de orquídeas, muitas vezes de espécies que nem existem. Uma vez que estas estruturas reprodutivas são microscópicas, apresentando uma germinação extremamente complexa, que requer a simbiose com fungos específicos, não é comum que o cultivador doméstico alcance o sucesso, ao utilizar este método para propagar suas orquídeas.
Na natureza, a taxa de germinação das sementes de orquidáceas é baixíssima, ocorrendo sob condições muito específicas. Por este motivo, o mais comum é que as cápsulas destas plantas sejam enviadas a laboratórios especializados, que conseguem a propagação das orquídeas sob condições estéreis, utilizando técnicas de cultivo in vitro. Vale ressaltar que são necessários vários anos de cultivo, para que uma semente se torne uma planta adulta. Também devido a este empecilho, nenhum produtor idôneo vende sementes de orquídeas ao público em geral.
Outro método bastante avançado para se propagar orquídeas consiste no cultivo de células meristemáticas, em condições laboratoriais. Ao contrário do que acontece com as sementes, os milhares de indivíduos resultantes deste processo de propagação são geneticamente idênticos à planta matriz.
Felizmente, existem outros métodos para se propagar as orquídeas, que são muito mais simples e rápidos. O processo propagativo mais interessante e peculiar à família botânica Orchidaceae baseia-se na capacidade que estas plantas têm de produzir keikis. Esta é uma palavra havaiana que significa bebês. Na prática, os keikis de orquídeas são pequenas brotações vegetativas, que costumam surgir a partir de diferentes partes da planta mãe, dependendo do gênero.
Convém salientar que não são todas as orquidáceas que produzem keikis. O caso mais comum e frequentemente observado ocorre nas espécies do gênero Phalaenopsis. Estes pequenos brotos costumam surgir nas hastes florais destas orquídeas, geralmente após o término da floração. Mais raramente, as brotações podem ocorrer a partir da base da planta mãe. Esta é uma excelente forma de se propagar orquídeas, uma vez que o tempo necessário para um keiki se tornar adulto é muito menor do que aquele requerido para transformar uma semente em uma nova muda.
Embora seja tentador separar o bebê, tão logo ele surja, é importante aguardar um tempo longo o suficiente para que o broto adquira raízes, e que estas estruturas sejam suficientemente longas para se tornarem capazes de sustentar a nova muda, após a separação. A propagação de orquídeas através de keikis também pode ser realizada com os gêneros Vanda e Dendrobium, por exemplo. Algumas orquídeas terrestres, como o Epidendrum fulgens e Epidendrum radicans, também são conhecidas por emitirem brotos em abundância.
Os motivos que levam uma orquídea a produzir keikis ainda não são bem compreendidos. Se fossem, provavelmente as pessoas passariam a comprar muito menos, já que seriam capazes de manter uma produção caseira de mudas. O fato é que este é um evento mais frequentemente observado em determinadas espécies, sendo mais raro em outras. No caso da orquídea Dendrobium, por exemplo, sabe-se que a ausência de um stress hídrico, passo importante para a ocorrência da floração, acaba induzindo a formação de brotos, no lugar de flores. Sendo assim, basta regar a orquídea com mais frequência, na época em que ela deveria ser mantida mais seca, o inverno.
No caso da orquídea Phalaenopsis, há quem defenda a tese de que a planta passe a produzir keikis quando está com a saúde muito debilitada. Percebendo que seu fim está próximo, ela emite novos brotos, com o intuito de perpetuar a espécie. No entanto, esta não é uma regra rígida. Há muitos casos de plantas saudáveis que se propagam frequentemente, através da produção de bebês.
Também é possível propagar orquídeas que não produzem estas novas mudas, de maneira espontânea. As orquidáceas que possuem a forma de crescimento simpodial, onde novos pseudobulbos vão sendo produzidos, um à frente do outro, ao longo de um rizoma, podem ser propagadas através da divisão da touceira. Este procedimento pode ser feito com as várias espécies dos gêneros Cattleya, Laelia e Ondicium, por exemplo.
Nestes casos, é importante ter em mente o fato de que estas orquídeas apresentam uma frente de crescimento, que está ativamente emitindo novos pseudobulbos. Este é o segmento que tem mais chances de se desenvolver bem, após a separação. Já a parte traseira do corte dependerá do despertar de uma gema dormente, que passará a produzir novas raízes e brotações. Seu futuro é mais incerto, por este motivo.
Além disso, quando a propagação de orquídeas for realizada através de cortes no rizoma, é importante que cada segmento tenha, ao menos, três pseudobulbos. Estas estruturas funcionam como reservatórios de água e energia, sendo capazes de sustentar o desenvolvimento da planta, para a produção de novas raízes e brotos. Também vale ressaltar que, neste caso, existe um momento certo para se propagar estas orquídeas. O corte não deve ser realizado quando a planta estiver florida, pois este stress adicional pode fazer com que a orquídea aborte a floração. Também é fundamental evitar a tentativa de propagação da orquídea enquanto esta estiver em seu período de dormência.
Como uma regra geral, o melhor momento para se propagar uma orquídea é quando a planta está ativamente produzindo novas raízes e brotos, independentemente da estação do ano. Ao contrário do que possa sugerir o senso comum, algumas orquídeas estão com o metabolismo mais ativo durante os meses mais frios do ano. O importante é sempre respeitar o ciclo de vida de cada gênero e espécie.
Em um primeiro momento, as novas mudas de orquídeas devem ser cultivadas em um local mais sombreado, com elevados níveis de umidade relativa do ar, já que seu sistema radicular está incipiente ou é inexistente. O substrato ideal é aquele capaz de reter mais água, como o musgo sphagnum. Este material pode ser misturado à clássica composição para orquídeas epífitas, formada por casca de pinus, carvão vegetal e fibra de coco.
Neste primeiro estágio da propagação de uma orquídea, é fundamental evitar plantar a muda em um recipiente muito grande. O vaso deve ser proporcional ao tamanho da planta, para que não haja excesso de substrato, que levaria mais tempo para secar, entre uma rega e outra. Também é importante proteger as plântulas do excesso de vento e sol.
Como podemos perceber, propagar orquídeas não é um bicho de sete cabeças. Cada gênero e espécie apresenta suas peculiaridades, que devem ser respeitadas, na hora de se pensar em obter novos exemplares. O timing também é essencial, já que não é a todo instante que podemos nos aventurar na propagação de orquídeas. Com bastante carinho e paciência, é perfeitamente possível aumentar a coleção e obter novas plantas, que podem ser presenteadas ou trocadas. Nossos bolsos agradecem.
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Por Sergio Oyama Junior
Bacharel em biologia pela Unicamp, com mestrado e doutorado em bioquímica pela Usp, escreve sobre o cultivo de orquídeas, suculentas, cactos e outras plantas dentro de casas e apartamentos.
São Paulo, SP, Brasil
Bacharel em biologia pela Unicamp, com mestrado e doutorado em bioquímica pela Usp, escreve sobre o cultivo de orquídeas, suculentas, cactos e outras plantas dentro de casas e apartamentos.
São Paulo, SP, Brasil