| Bulbophyllum rothschildianum | |
Dentre os milhares de representantes da família botânica Orchidaceae, aquelas espécies pertencentes ao gênero Bulbophyllum são as que produzem as florações mais exóticas, de aparência bastante distinta da maioria das orquídeas que estamos acostumados a ver em floriculturas. Além disso, trata-se do gênero mais populoso entre as orquidáceas, abrigando mais de duas mil espécies. Também é um dos maiores grupos de plantas capazes de produzir flores, dentro do reino vegetal.
A diversidade de formas, cores e perfumes das flores encontradas nas diferentes espécies de Bulbophyllum é, de fato, impressionante. Na foto de abertura deste artigo, por exemplo, podemos observar a inflorescência produzida pelo Bulbophyllum rothschildianum, que mais se assemelha a um animal das profundezas marinhas. De quebra, somos brindados com um nome científico quilométrico, de difícil pronunciação, repleto de consoantes.
É raro encontrar uma orquídea Bulbophyllum cuja flor evidencie, de forma didática, a clássica formação composta por três sépalas, duas pétalas e um labelo, comumente encontrada em orquídeas mais conhecidas, como Cattleya e Phalaenopsis, por exemplo. Lembrando que, tecnicamente, temos sempre três sépalas e três pétalas, já que o labelo é uma pétala modificada, geralmente mais vistosa, que tem a finalidade de atrair os agentes polinizadores em direção aos órgãos reprodutivos da flor.
Neste contexto, outro fator que contribui bastante para a polinização das orquídeas do gênero Bulbophyllum é o odor exalado por suas florações. De modo geral, estas espécies são conhecidas por produzirem um perfume nada agradável. Apenas para citarmos alguns exemplos, dentre os milhares existentes, temos flores de Bulbophyllum com cheiro de carniça, sangue, urina ou esterco. Isso acontece porque a maior parte destas orquídeas é polinizada por moscas varejeiras. Sendo assim, não é possível atraí-las com um perfume de rosas.
Felizmente, há exceções dentro deste exótico gênero botânico. Existem exemplos de espécies de Bulbophyllum cujas flores são capazes de exalar aromas mais agradáveis, do tipo frutado. Neste caso, os agentes polinizadores são aquelas clássicas moscas de frutas. No entanto, estes são casos menos conhecidos.
Ainda assim, a fama de orquídea fedorenta não afugenta os colecionadores mais aguerridos. Existem cultivadores dedicados exclusivamente ao gênero Bulbophyllum. Frente às milhares de espécies existentes, fica fácil montar uma grande e diversificada coleção de orquídeas pertencentes a este exótico táxon botânico. O único problema é quando várias delas resolvem florescer ao mesmo tempo. Há quem afirme que algumas espécies produzem flores cujo odor lembra aquele exalado por uma manada de elefantes mortos.
A orquídea Bulbophyllum pode ser encontrada nativamente em diversas regiões do globo terrestre. Existem espécies originárias dos continentes americano, africano e asiático. Também existem orquídeas deste gênero em diversas ilhas do Pacífico e na Oceania.
De modo geral, estas plantas apresentam um hábito epífito de vida, vegetando com as raízes aéreas, aderidas aos troncos das árvores, geralmente no interior de florestas tropicais, quentes, úmidas e sombreadas. Dada a grande diversidade encontrada no gênero Bulbophyllum, podemos também encontrar representantes de hábito rupícola, cujas raízes assentam-se diretamente sobre as rochas. Neste caso, tanto a água como os nutrientes são retirados do material orgânico acumulado nos interstícios entre as pedras.
Quando não estão floridas, as orquídeas Bulbophyllum assemelham-se bastante às demais representantes da família. São plantas de crescimento simpodial, o que significa que diversos pseudobulbos são produzidos sequencialmente, conectados por um rizoma. É justamente esta característica anatômica que serviu de inspiração para o nome científico do gênero, composto pela latinização das palavras gregas bolbos, que significa bulbo, e phyllon, folha.
As orquídeas do gênero Bulbophyllum costumam florescer ao longo de todo o ano, sendo que a maior parte das espécies não possui uma época de floração definida. Como são plantas originárias de regiões mais quentes, elas não toleram baixas temperaturas ou geadas.
O cultivo de Bulbophyllum é considerado mais desafiador. Estas orquídeas necessitam de elevados níveis de umidade relativa do ar, no ambiente de cultivo. Sendo assim, estas não são plantas que costumam se desenvolver bem dentro de casas e apartamentos, principalmente se o ambiente sofrer a ação de aparelhos de ar condicionado.
Umidificadores de ambiente, do tipo ultrassônico, aquários, fontes de água ou bandejas umidificadoras são alguns dos recursos capazes de oferecer um microclima mais saudável para o cultivo da orquídea Bulbophyllum. Outro fator importante a ser considerado é a correta circulação de ar no ambiente.
A orquídea Bulbophyllum aprecia uma luminosidade difusa, indireta ou filtrada. Ambientes muito sombreados, principalmente internos, podem fazer com que a planta não seja capaz de produzir flores. Em coberturas ou varandas ensolaradas, é importante que a orquídea seja protegida do sol pleno por uma tela de sombreamento, capaz de reter 50% da radiação solar incidente.
Como se trata de uma orquídea epífita, o Bulbophyllum é melhor cultivado em troncos de árvores, pedaços de madeira, cachepots vazados ou cascas de peroba, por exemplo. Sob estas condições de cultivo, no entanto, é importante que os níveis de umidade relativa do ar sejam elevados. Ambientes muito secos, ou que sofrem a incidência de correntes de vento, tendem a desidratar a planta muito rapidamente.
Nestes casos, o ideal é plantar a orquídea Bulbophyllum em pequenos vasos de plástico, material capaz de reter a umidade em seu interior por um período mais prolongado. O vaso de barro, por sua vez, costuma secar mais rapidamente, devido à sua porosidade. A frequência das regas deve ser ajustada de acordo com o material escolhido.
O substrato clássico utilizado no cultivo do Bulbophyllum é aquele composto por casca de pinus, carvão vegetal e fibra de coco. O musgo sphagnum puro também costuma ser utilizado, principalmente em regiões mais quentes e secas. Por fim, vários cultivadores têm obtido sucesso com o uso de materiais alternativos, como a casca de macadâmia ou brita pura. O importante é escolher uma combinação de materiais que melhor se adeque ao clima predominante em cada ambiente de cultivo.
A orquídea Bulbophyllum pode receber uma adubação orgânica ou inorgânica, dependendo da preferência do cultivador. Em ambos os casos, existem formulações próprias para o cultivo de orquídeas, à venda em lojas de jardinagem. Eu costumo utilizar a adubação do tipo NPK, alternando fórmulas de manutenção e floração, semanalmente. É sempre importante evitar o excesso de adubo, uma vez que este tende a se acumular no substrato, causando um aumento na salinidade presente no material e, consequentemente, prejudicando o desenvolvimento das raízes.
Além do Bulbophyllum rothschildianum, outra espécie bastante cobiçada pelos colecionadores é o Bulbophyllum medusae, cujas inflorescências produzem um espetáculo, graças aos longos filamentos brancos em cascata. Mais do que a cabeça da famosa figura mitológica, estas florações nos remetem, novamente, àquelas temidas colônias de animais marinhos. Outra inflorescência fora do comum é aquela produzida pelo Bulbophyllum careyanum, que lembra a floração de um Dendrobium.
Também bastante comum nas coleções é o Bulbophyllum lobbii, cuja flor solitária lembra o capacete de um soldado romano ou um artefato egípcio. Dentre os híbridos mais cultivados, temos o Bulbophyllum Louis Sander, resultado do cruzamento entre as espécies Bulbophyllum longissimum e Bulbophyllum ornatissimum. Por fim, infelizmente, temos diversas espécies ameaçadas de extinção, em seus habitats de origem, como é o caso do Bulbophyllum filiforme e Bulbophyllum kupense, entre muitos outros.
Ainda que seja uma orquídea cujo cultivo é considerado mais complicado, o Bulbophyllum é um prato cheio para os colecionadores que apreciam flores exóticas e diferenciadas. Cada espécie é uma verdadeira lição de botânica, dada a complexidade das inflorescências e seus intrincados mecanismos de polinização.
Publicado em: | Última atualização:
Por Sergio Oyama Junior
Bacharel em biologia pela Unicamp, com mestrado e doutorado em bioquímica pela Usp, escreve sobre o cultivo de orquídeas, suculentas, cactos e outras plantas dentro de casas e apartamentos.
São Paulo, SP, Brasil
Bacharel em biologia pela Unicamp, com mestrado e doutorado em bioquímica pela Usp, escreve sobre o cultivo de orquídeas, suculentas, cactos e outras plantas dentro de casas e apartamentos.
São Paulo, SP, Brasil