| Tradescantia sillamontana | |
Suculentas felpudas, aveludadas, sedosas ou de pelúcia. Estes seriam os termos mais apropriados para designar as curiosas espécies de plantas suculentas capazes de produzir uma delicada penugem sobre a superfície de suas folhas. No entanto, como a alcunha suculentas peludas é a mais utilizada, para esta classe de vegetais, assim será, ao longo deste artigo, que apresenta uma seleção das minhas preferidas.
Muitos cultivadores de suculentas conhecem a pruína, substância cerosa depositada sobre as folhas de várias espécies, que tem a aparência de um pó translúcido, conferindo um aspecto fosco à planta. Não se trata de um capricho da natureza, tal adaptação visa proteger a planta da insolação intensa à qual ela é submetida, em seu habitat de origem, diminuindo a perda de água por evaporação e transpiração. No caso das suculentas peludas, o princípio é o mesmo. A cobertura de pelos, tecnicamente denominados tricomas, protege a epiderme vegetal dos raios solares, garantindo a sobrevivência da planta, em ambientes muito quentes e secos.
É o caso desta célebre suculenta peluda, destacada na foto de abertura deste artigo, conhecida como suculenta teia de aranha. Seu nome científico é Tradescantia sillamontana, em referência ao local em que é nativamente encontrada, a montanha Cerro della Silla, no México. Os pelos que recobrem a superfície de suas folhas suculentas são tão longos e intricados, que se assemelham a teias de aranha. O mesmo nome popular é utilizado no exterior, cobweb spiderwort succulent. Também há quem apelide esta suculenta peluda de veludo branco ou Tradescantia lanosa.
Em ambientes muito sombreados, esta suculenta peluda tende a ficar estiolada, mais fina e comprida, com um grande espaçamento entre as folhas. Além disso, sua pelagem fica mais rala, sob estas condições de cultivo. Quanto mais luz a planta receber, mais compacta e peluda ficará esta curiosa suculenta.
Existem algumas pistas que nos ajudam a identificar uma suculenta peluda, antes mesmo que vejamos a planta. Diversos nomes científicos, em latim, fazem referência à presença de pelos na superfície das folhas, nas diferentes espécies que apresentam esta característica. Termos como lanosa, tomentosa, hirsuta, setosa e velutina, entre outros, são indicadores de que há pelos nas estruturas vegetais das plantas em questão.
É o caso da suculenta peluda conhecida como orelha de gato, cujo nome científico é Kalanchoe tomentosa. Em latim, a palavra tomentum significa lã, pelo. Ao contrário da suculenta teia de aranha, esta é uma planta que apresenta uma pelagem mais ordenada, composta por cerdas mais curtas, densamente organizadas sobre a superfície das folhas suculentas.
Kalanchoe tomentosa |
Sendo assim, seu aspecto é de uma planta de pelúcia. O charme adicional fica por conta da coloração levemente azulada das folhas, com as margens marcadas por um tom amarronzado, chocolate. No exterior, esta suculenta peluda é conhecida como panda plant.
Não são muitos os exemplos de suculentas peludas dentro do gênero Kalanchoe. Outra espécie que apresenta folhas recobertas por pelos, embora muito mais curtos e discretos, é a Kalanchoe millotii. De tão curta, a pelagem só pode ser percebida através do toque sobre as folhas, que apresentam a textura de um tecido aveludado.
Outra suculenta peluda que podemos identificar apenas pelo nome científico é a Cotyledon tomentosa, popularmente conhecida como suculenta patinha de urso. O mesmo nome popular é utilizado em inglês, bear's paw succulent.
Cotyledon tomentosa |
Suas folhas gorduchas são recobertas por uma delicada penugem, mais curta do que a observada na suculenta orelha de gato. É interessante notar que até mesmo as hastes, botões e flores apresentam tricomas em suas superfícies. Esta é uma suculenta peluda por inteiro. Há outros exemplos de flores com pelos, como veremos a seguir.
Tanto a Kalanchoe tomentosa como a Cotyledon tomentosa são espécies de suculentas originárias do continente africano, ocorrendo predominantemente mais ao sul da região, incluindo a ilha de Madagascar. Devido às condições áridas às quais são submetidas, com insolação intensa e água escassa, estas espécies dependem de adaptações capazes de protegê-las da desidratação excessiva, sendo a cobertura por pelos uma delas.
Mudando de gênero, mas ainda na mesma família botânica, temos o exemplo da suculenta peluda cujo nome científico é Echeveria setosa. O termo seta, em latim, significa cerda, pelo curto. Percebam que são todas nuances em torno de um mesmo conceito. Como suas folhas suculentas e peludas organizam-se sob a forma de rosetas simétricas, esta espécie é comumente chamada de rosa de pedra sedosa.
Echeveria setosa |
Neste caso, a pelagem é bastante proeminente, conferindo uma aparência única à planta. De tão fofa e felpuda, parece artificial. O contraste entre o verde mais fechado das folhas suculentas e os tricomas brancos, com uma leve nuance azulada, ressalta ainda mais a beleza desta espécie, de origem mexicana.
Existem diferentes variedades de Echeveria setosa, algumas com folhas mais longas, outras com a penugem mais rala. O importante é cultivar estas suculentas peludas em um local com bastante luminosidade, para que suas rosetas permaneçam compactas e simétricas, à medida que se desenvolvem. A luminosidade também tem influência na densidade dos tricomas sobre a superfície das folhas, uma vez que estes exercem um papel protetivo.
Outra suculenta peluda bastante apreciada pelos colecionadores é a Echeveria pulvinata. Embora careça de um nome popular mais conhecido, no Brasil, esta espécie recebe o carinhoso apelido chenille plant, no exterior, em referência ao tecido felpudo utilizado na decoração.
Echeveria pulvinata |
Além da aparência aveludada, esta suculenta peluda impressiona pela belíssima coloração, que mescla nuances azuladas, esverdeadas, rosadas e avermelhadas, sempre em um tom pastel. Seu colorido fica mais acentuado quando a planta é cultivada em ambientes com bastante luminosidade. Além disso, as baixas temperaturas contribuem para realçar esta característica.
A Echeveria pulvinata também é uma suculenta de origem mexicana. Trata-se de uma espécie adaptada às condições áridas, quentes e secas, que é capaz de sobreviver em solos arenosos, rochosos e pouco férteis. Com o passar do tempo, a planta vai se tornando mais alta, com um porte arbustivo, emitindo novas brotações laterais, de modo que as rosetas peludas concentram-se em suas extremidades.
Já a espécie Delosperma echinatum é outro exemplo de suculenta peluda, embora não se pareça como tal. Em um primeiro momento, a planta lembra um cacto repleto de espinhos. No entanto, seus caules e folhas suculentas são recobertos pelos mesmos tricomas que ocorrem nos exemplos anteriores. A diferença é que estas estruturas possuem uma aparência mais espessa, organizados de forma mais espaçada, como podemos observar na imagem abaixo.
Delosperma echinatum |
Apesar do aspecto feroz, esta suculenta peluda é inofensiva. Seus pelos são longos e macios, conferindo às folhas a aparência de um pepino do mar. Em inglês, esta espécie é chamada de pickle plant, em referência ao formato de picles de suas folhas.
Trata-se de uma suculenta africana, pertencente à família botânica Alzoaceae, a mesma da suculenta coração partido, Delosperma lehmannii.
Por fim, temos o exemplo de uma suculenta que não apresenta pelos em sua parte vegetativa, até porque não possui folhas. Trata-se da Stapelia hirsuta, conhecida por produzir enormes flores peludas. Esta é uma planta popularmente chamada de cacto estrela, embora não pertença à família Cactaceae.
Stapelia hirsuta |
Esta suculenta de flores peludas faz parte da família Apocynaceae, a mesma da flor de cera, Hoya carnosa. Trata-se de uma espécie de origem africana, conhecida por suas florações que exalam um odor extremamente desagradável, de carne em decomposição, que visa atrair seus agentes polinizadores. Neste caso, a cobertura de pelos não tem uma função protetora. Ela vista mimetizar o cadáver de um animal peludo, para dar mais autenticidade ao odor de carniça da flor. Aliás, este é o termo utilizado para designar esta planta, carrion plant, em inglês.
Informações detalhadas sobre o cultivo de cada uma das suculentas peludas apresentadas nesta seleção podem ser encontradas através dos respetivos links, distribuídos ao longo do artigo. Como uma regra geral, é importante evitar verter água sobre as folhas peludas destas suculentas, principalmente aquelas em forma de roseta, uma vez que o acúmulo de umidade pode favorecer o desenvolvimento de fungos, capazes de causar manchas amarronzadas nestas estruturas, arruinado sua beleza peculiar.
Publicado em: | Última atualização:
Por Sergio Oyama Junior
Bacharel em biologia pela Unicamp, com mestrado e doutorado em bioquímica pela Usp, escreve sobre o cultivo de orquídeas, suculentas, cactos e outras plantas dentro de casas e apartamentos.
São Paulo, SP, Brasil
Bacharel em biologia pela Unicamp, com mestrado e doutorado em bioquímica pela Usp, escreve sobre o cultivo de orquídeas, suculentas, cactos e outras plantas dentro de casas e apartamentos.
São Paulo, SP, Brasil