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Orquídea Cyrtopodium


Orquídea Cyrtopodium punctatum
| Cyrtopodium punctatum |

Camufladas em meio a longas e copiosas inflorescências, produzidas por densas touceiras, as flores individuais das diferentes espécies pertencentes ao gênero Cyrtopodium revelam detalhes surpreendentes. Suas pétalas e sépalas costumam mesclar várias tonalidades de amarelo, sendo frequentemente ornamentadas por marcações alaranjadas, avermelhadas ou acastanhadas. Já o labelo costuma ser mais discreto.

As várias espécies de Cyrtopodium costumam receber um nome popular curioso, no exterior, cigar orchids. A origem de tal apelido encontra-se no formato inusitado dos pseudobulbos produzidos por estas orquídeas, que lembram charutos. São estruturas cilíndricas, fusiformes, com as extremidades bem afuniladas. No Brasil, dependendo da região, os nomes populares mais comuns são rabo de tatu, bisturi do mato, sumaré ou aquela cola utilizada para consertar calçados, visto que os pseudobulbos de algumas espécies liberam um líquido viscoso.


O gênero Cyrtopodium encontra-se distribuído ao longo de todo o continente americano, desde o sul da América do Norte, no estado da Flórida, Estados Unidos, até o sul da América do Sul, na Argentina. Também existem representantes do México, América Central e Brasil.

A espécie Cyrtopodium cardiochilum, por exemplo, é originária da região sudeste brasileira, ocorrendo no Rio de Janeiro. No entanto, o principal centro de distribuição deste gênero, em território nacional, encontra-se no Planalto Central. Nesta região, muitas espécies foram descobertas e descritas pela bióloga e engenheira florestal Lou Menezes, que já concedeu uma entrevista, aqui para o blog.

Dentre as orquídeas Cyrtopodium já descobertas por esta pesquisadora, encontram-se Cyrtopodium braemii, Cyrtopodium cachimboense, Cyrtopodium caiapoense, Cyrtopodium cipoense, Cyrtopodium confusum, Cyrtopodium fowliei, Cyrtopodium holstii, Cyrtopodium minutum, Cyrtopodium witeckii e Cyrtopodium withneri. Lou Menezes acredita que ainda devam existir espécies brasileiras a serem descobertas, nas região Centro-Oeste do país.

Outra espécie brasileira interessante é o Cyrtopodium paranaense, que, apesar do nome, ocorre nativamente ao longo de boa parte da costa do Brasil, desde o estado do Ceará até o Rio Grande do Sul.


A primeira descrição de uma orquídea Cyrtopodium ocorreu ainda no início do século XIX. Em 1812, o botânico inglês Aylmer Bourke Lambert fez o registro formal da espécie tipo, Cyrtopodium andersonii, que foi posteriormente utilizada para a proposição de todo o gênero, em 1813, em um trabalho realizado pelo botânico escocês Robert Brown.

O Cyrtopodium puctatum, que ilustra este artigo, é originário do estado da Flórida, sendo uma das espécies mais comumente encontradas em cultivo, principalmente em países do hemisfério norte. Trata-se de uma orquídea terrestre, podendo também apresentar o hábito rupícola, vegetando sobre rochas. Diversas propriedades medicinais são atribuídas aos extratos vegetais desta orquídea Cyrtopodium. Inclusive, existem no mercado produtos fitoterápicos à base de Cyrtopodium punctatum, principalmente pomadas para afecções dermatológicas.

Também existe o hábito de se ferver os pseudobulbos do Cyrtopodium puctatum, para a produção de xaropes com efeito expectorante, utilizados no tratamento de doenças como asma e bronquite. No entanto, é importante salientar que estes procedimentos têm origem na medicina popular e ainda não foram comprovados cientificamente.


Embora o cultivo da orquídea Cyrtopodium seja bastante tranquilo, visto tratar-se de um gênero muito rústico e resistente, é preciso estar atento às condições climáticas de cada localidade, em relação às espécies escolhidas para compor a coleção. Por exemplo, aquelas orquídeas Cyrtopodium originárias do Cerrado dificilmente irão se desenvolver adequadamente no litoral. O inverso também é verdadeiro, uma vez que espécies adaptadas às condições climáticas de regiões costeiras terão mais dificuldade de adaptação à vida em locais de clima muito seco.

De modo geral, as diferentes espécies de Cyrtopodium precisam de níveis elevados de luminosidade, para que possam florescer e apresentar um bom desenvolvimento. Muitas espécies apreciam o cultivo sob sol pleno. É preciso fazer uma distinção entre as orquídeas epífitas, terrestres ou rupícolas, que podem compor este gênero botânico. Cada uma irá requerer níveis diferentes de exposição à luz solar.

Neste sentido, varandas, coberturas e jardineiras externas são boas opções de locais para o cultivo da orquídea Cyrtopodium. No entanto, é bom levar em consideração o fato de esta planta atingir um porte considerável. Apenas as hastes florais de algumas espécies podem chegar a um metro e meio de comprimento. Com o passar dos anos, a parte vegetativa também tende a formar volumosas touceiras, que demandam bastante espaço no local de cultivo.


Dependendo da espécie e do hábito vegetativo da orquídea em questão, o Cyrtopodium pode ser plantado em uma grande variedade de solos e substratos. De modo geral, os materiais precisam ser ricos em matéria orgânica, bem aerados e capazes de drenar rapidamente a água das regas, para que não haja acúmulo de umidade ao redor das raízes da orquídea. Substratos próprios para o cultivo de plantas epífitas, compostos por casca de pinus, carvão vegetal e fibra de coco, podem ser misturados ao solo, para uma maior porosidade, aeração e fornecimento de nitrogênio, resultante da decomposição da madeira presente no material. Além disso, a este substrato podem ser acrescentadas porções de areia, terra vegetal, húmus de minhoca ou esterco curtido, em proporções igualitárias.

A orquídea Cyrtopodium aprecia uma adubação orgânica, que pode ser constituída por torta de mamona, farinha de osso ou bokashi. Além disso, uma formulação de manutenção, do tipo NPK, com macro e micronutrientes, pode complementar este esquema de fertilização. Por fim, adubos de floração, mais ricos em fósforo, podem ser fornecidos, intercaladamente, durante os meses mais quentes do ano, na primavera e verão. Durante o inverno, a adubação do Cyrtopodium pode ser interrompida.

As regas da orquídea Cyrtopodium devem ser frequentes, durante o período de desenvolvimento dos pseudobulbos, mas de modo a evitar que o solo fique encharcado. Para tanto, é essencial que o vaso tenha furos no fundo e uma boa camada de drenagem. No entanto, quando estas estruturas atingirem a maturidade e, principalmente, após a queda de suas folhas, é importante reduzir a frequência das irrigações. O mesmo deve acontecer com a chegada do inverno.


A multiplicação do Cyrtopodium ocorre facilmente através da divisão de suas touceiras. Ao longo de seu desenvolvimento, esta orquídea vai emitindo pequenos brotos laterais, a partir da base de seus pseudobulbos. É importante evitar o acúmulo de umidade ao redor destas estruturas, uma vez que existe uma grande tendência de que apodreçam, antes que consigam chegar à idade adulta. Durante a divisão, é preciso prestar atenção à regra de se manter, ao menos, três pseudobulbos em cada segmento.

Como vimos no início deste artigo, algumas espécies de Cyrtopodium podem ser utilizadas no preparo de medicamentos fitoterápicos, de modo que sua ingestão acidental, por crianças ou animais de estimação, não irá causar problemas mais graves.

Esta é uma orquídea para quem dispõe de bastante espaço e ambientes com uma luminosidade abundante. Quando bem entouceiradas, as diferentes espécies de Cyrtopodium costumam presentear os cultivadores com um show de floração. O único cuidado a ser tomado é quanto à escolha da espécie, já que existem plantas adaptadas às mais diversificadas condições climáticas, de acordo com suas origens.

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Bacharel em biologia pela Unicamp, com mestrado e doutorado em bioquímica pela Usp, escreve sobre o cultivo de orquídeas, suculentas, cactos e outras plantas dentro de casas e apartamentos.

São Paulo, SP, Brasil