| Opuntia microdasys | |
Cacto orelha de coelho, orelha de Mickey, figueira da Índia ou palma forrageira, estes são alguns dos nomes populares comumente utilizados para designar as diferentes espécies pertencentes ao gênero Opuntia, da família botânica Cactaceae. De todos os formatos e tamanhos, com poucos ou muitos espinhos, agressivos ou não, ornamentais ou comestíveis, estas fascinantes plantas apresentam a resistência e facilidade de cultivo como principais atrativos para o cultivador iniciante.
A denominação científica deste versátil gênero botânico, Opuntia, corresponde à latinização do nome de uma cidade localizada na Antiga Grécia, Opus. Segundo Teofrasto, filósofo grego, discípulo de Aristóteles, e considerado o pai da botânica, os habitantes desta região, denominados Opuntii, conheciam uma planta comestível, que se multiplicava através do plantio de suas folhas.
No entanto, durante os primórdios da nomenclatura botânica, em 1753, o estudioso sueco Carl Linnaeus colocou todas as espécies de cactos dentro do gênero Cactus. Um ano depois, a confusão já começou. Em 1754, o botânico escocês Philip Miller decidiu dividir este gênero inicial em vários subgrupos, sendo Opuntia um deles. Atualmente, conseguimos dar um passo além, transferindo várias espécies de Opuntia para gêneros recentemente inventados, tais como Brasiliopuntia ou Austrocylindropuntia, entre outros.
Curiosamente, as cactáceas do gênero Opuntia são originárias do Novo Mundo, ocorrendo exclusivamente ao longo de todas as Américas. Sendo assim, a origem grega do nome foi apenas uma inspiração trazida do Velho Mundo, sem um compromisso estrito com a realidade.
As diferentes espécies de Opuntia são particularmente abundantes no México. Elas também são frequentemente encontradas em regiões semiáridas dos Estados Unidos, onde são popularmente conhecidas como prickly pears, peras espinhosas, em razão da aparência de seus frutos.
Atualmente, os cactos Opuntia são cultivados em todas as partes do mundo, tendo sido artificialmente introduzidos nos ambientes selvagens de diversos outros continentes, que não o americano. Em algumas regiões, o cacto Opuntia é considerado invasivo.
Dentre as espécies de interesse ornamental, indubitavelmente a Opuntia microdasys encabeça a lista dos colecionadores. No Brasil, ela é mais conhecida como cacto orelha de Mickey. Em países de língua inglesa, o apelido mais utilizado é bunny ears cactus, cacto orelha de coelho. Trata-se de uma espécie mexicana, de pequeno porte, que apresenta a interessante característica de produzir espinhos em diferentes colorações, como branca, amarela e avermelhada, dependendo da variedade. Embora sejam pequenas e pouco agressivas, estas estruturas penetram facilmente na pele, causando um grande desconforto.
Já a espécie Opuntia monacantha é originária de diversos países da América do Sul, tais como Brasil, Argentina e Paraguai. Esta é uma opúncia bastante versátil, comumente utilizada no paisagismo de áreas externas, como cercas vivas, além de servir como alimento alternativo para o gado. Em algumas regiões, esta Opuntia costuma ser utilizada na preparação de diversos pratos, para o consumo humano.
Em relação ao seu cultivo como planta ornamental, em ambientes urbanos, a Opuntia monacantha faz bastante sucesso em sua forma mutante, denominada monstruosa. Embora não pareça, trata-se de um termo científico, nada assustador, utilizado para indicar uma forma anômala de crescimento, onde os ramos do cacto se desenvolvem de forma aleatória, criando uma escultura viva.
O mesmo ocorre com outra espécie de Opuntia bastante conhecida dos cultivadores, a Opuntia subulata, que também atende pelo pouco simplificado nome científico Austrocylindopuntia subulata, também nativa da América do Sul. Embora possa atingir grandes dimensões, em sua forma tipo, frequentemente utilizada como cerca viva, esta espécie também apresenta uma forma monstruosa, de menor porte, bastante apreciada como planta ornamental.
Tanto a Opuntia monacantha monstruosa como a Opuntia subulata monstruosa, por serem mais compactas, podem ser cultivadas em vasos, dentro de casas e apartamentos, desde que fiquem em um local com bastante luminosidade. Estes são cactos de crescimento vigoroso, bastante resistentes e de fácil cultivo.
Já a figueira da Índia, cujo nome científico é Opuntia ficus-indica, costuma ser cultivada em áreas externas, por apresentar um tamanho mais avantajado. Esta é uma cactácea que precisa de bastante sol pleno para que seu desenvolvimento, floração e frutificação ocorram de forma apropriada. No entanto, para quem aprecia uma planta exótica, em áreas internas, nada impede que este cacto Opuntia seja mantido dentro de um belo e espaçoso vaso, desde que posicionado em um ambiente com bastante claridade. Neste caso, o destaque ficará por conta de seu aspecto vegetativo, apenas.
O mesmo vale para a espécie Opuntia cochenilifera, conhecida como cacto palma. Embora possua uma grande importância econômica, na alimentação de humanos e ruminantes, esta cactácea também se presta ao uso paisagístico, principalmente em jardins de inspiração desértica. Esta Opuntia também pode ser cultivada em interiores, ainda que dificilmente floresça ou produza frutos, sob estas condições. Sua clássica aparência de cacto de desenho animado transforma qualquer canto sem graça em um importante ponto focal. Novamente, neste caso, o importante é que o máximo de luminosidade esteja disponível à planta.
Ainda que possam se desenvolver rapidamente em áreas externas, sem maiores problemas, os cactos do gênero Opuntia precisam de maiores cuidados, dentro de casas e apartamentos. Embora não sejam exigentes quanto ao tipo de solo, em ambientes internos, presos aos vasos, estas cactáceas precisam de recipientes com um bom sistema de drenagem, capaz de escoar rapidamente a água das regas.
Além de furos no fundo, os recipientes precisam ser preparados com uma camada composta por argila expandida, brita ou qualquer material particulado. Por cima deste material, uma manta geotêxtil é posicionada, com o intuito de reter o substrato e impedir que as raízes entupam os drenos do vaso.
O cacto Opuntia aprecia um solo bem aerado, pouco compactado e rapidamente drenável. Um substrato arenoso pode ser preparado através da mistura de terra vegetal e areia grossa de construção, em partes iguais. Além disso, existem compostos prontos para o uso, à venda em lojas de jardinagem e garden centers.
O importante é manter um grande espaçamento entre as regas do cacto Opuntia. Deve-se aguardar até que o solo fique completamente seco, para somente então efetuar uma nova irrigação. Dentro de casas e apartamentos, devido à menor insolação e incidência de ventos, o material no interior dos vasos tende a secar mais lentamente. Além disso, durante os meses mais frios do ano, a frequência das regas deve ser bastante reduzida.
O cacto Opuntia não é exigente quanto à adubação. Estas espécies vegetais estão adaptadas à vida em solos pouco férteis, de modo que uma formulação de manutenção, própria para o cultivo de cactos e suculentas, pode ser aplicada durante a primavera e verão. No inverno, não é necessário adubar.
Embora os cactos do gênero Opuntia não sejam tóxicos, muito pelo contrário, é recomendável mantê-los fora do alcance de crianças e pets, uma vez que as diferentes espécies podem representar riscos à integridade física destes pequenos curiosos, devido à natureza de seus espinhos. Ainda assim, existem variedades desprovidas destas estruturas, sendo importante verificar bem, antes de levar a cactácea para casa.
Fofo ou espinhoso, de porte mignon ou avantajado, sempre vai existir um cacto Opuntia pelo qual teremos maior simpatia. Por serem, literalmente, duros de matar, estes seres clorofilados merecem um lugar de destaque nas coleções dos amantes de plantas suculentas, cactáceas inclusas.
Publicado em: | Última atualização:
Por Sergio Oyama Junior
Bacharel em biologia pela Unicamp, com mestrado e doutorado em bioquímica pela Usp, escreve sobre o cultivo de orquídeas, suculentas, cactos e outras plantas dentro de casas e apartamentos.
São Paulo, SP, Brasil
Bacharel em biologia pela Unicamp, com mestrado e doutorado em bioquímica pela Usp, escreve sobre o cultivo de orquídeas, suculentas, cactos e outras plantas dentro de casas e apartamentos.
São Paulo, SP, Brasil