| Odontoglossum pulchellum | |
Muito embora esta orquídea esteja representada em floriculturas ao redor do mundo, sob a forma de infinitos híbridos, geralmente com estampas coloridas, é muito raro encontrarmos espécies puras de Odontoglossum, seja no mercado ou nas coleções. Este é um caso comum entre as orquidáceas mais populares, em que a prole acaba se tornando mais famosa do que seus progenitores.
A orquídea Odontoglossum está presente na genealogia de muitos híbridos intergenéricos, assim denominados graças ao fato de serem originários de cruzamentos envolvendo vários gêneros botânicos distintos. Neste contexto, talvez a orquídea híbrida mais conhecida seja a Colmanara, que é resultante da miscigenação envolvendo os gêneros Odontoglossum, Oncidium e Miltonia.
Já o híbrido conhecido como orquídea Beallara é ainda mais complexo, descendendo dos gêneros Odontoglossum, Miltonia, Brassia e Cochlioda. Talvez menos popularizado, o híbrido Wilsonara, por sua vez, é resultado do cruzamento entre Odontoglossum, Oncidium e Cochlioda. Por fim, temos um híbrido mais simples e óbvio, chamado Odontocidium, que é claramente originário dos gêneros Odontoglossum e Oncidium.
Toda esta miscelânea somente é possível porque tratam-se de orquídeas muito próximas, do ponto de vista genético. Todos os gêneros acima mencionados fazem parte da subtribo Oncidiinae, dentro da família Orchidaceae. São orquídeas tipicamente epífitas, de pseudobulbos ovoides, lateralmente achatados, que produzem longas hastes florais, repletas de flores delicadas, com grandes e vistosos labelos, lembrando as saias rodadas de uma bailarina.
O gênero Odontoglossum foi primeiramente descrito pelo botânico alemão Karl Sigismund Kunth, em 1816. Trata-se de um grupo relativamente pequeno de orquídeas, constituído por cerca de cem espécies. No entanto, é sempre bom ter em mente que estas classificações e reclassificações estão constantemente sendo alteradas. Não há monotonia, no mundo da taxonomia botânica.
A orquídea Odontoglossum é originária de regiões localizadas em altitudes mais elevadas, acostumada a temperaturas mais baixas. Há diversas espécies andinas, concentrando-se em áreas mais ao norte desta cordilheira. Também podemos encontrar espécies de Odontoglossum em florestas úmidas distribuídas ao longo das Américas Central e do Sul, sempre em áreas mais altas.
O desenvolvimento dos representantes do gênero Odontoglossum ocorre de forma simpodial, o que significa que a orquídea vai emitindo novas brotações, uma à frente da outra, de modo que a planta vai caminhando pelos troncos das árvores, formando volumosas touceiras.
Ainda que existam espécies deste gênero que apresentam flores minimalistas, como o Odontoglossum pulchellum, apresentado na foto de abertura deste artigo, a imensa maioria é composta por orquídeas de flores pintalgadas, exibindo estampas vistosas e multicoloridas. Este é o motivo pelo qual estas orquídeas são tão intensamente utilizadas como matrizes, em inúmeros cruzamentos, gerando híbridos ainda maiores, mais floríferos e mais chamativos.
É interessante notar que, no caso do Odontoglossum pulchellum, suas flores não passam pelo processo de ressupinação, permanecendo com o labelo virado para cima. O mesmo costuma acontecer com diversas espécies do gênero Epidendrum. Com efeito, a primeira espécie de Odontoglossum descrita, considerada a forma tipo, foi nomeada como Odontoglossum epidendroides. Outras espécies comumente encontradas nas coleções, principalmente no exterior, são Odontoglossum crispum e Odontoglossum harryanum. Lembrando que, no Brasil, o mais comum é encontrarmos orquídeas híbridas descendentes de Odontoglossum.
De qualquer forma, os mesmos princípios básicos de cultivo se aplicam. Por ser originária dos Andes, esta é uma orquídea que não se desenvolve bem em localidades de clima muito quente e seco. Além disso, como a maioria das espécies vem de habitats localizados em regiões de altitudes elevadas, o Odontoglossum não se adapta bem quando cultivado ao nível do mar.
Embora sejam plantas de florestas úmidas, as espécies de Odontoglossum costumam ocorrer nas extremidades das matas, de modo que apreciam níveis mais intensos de luminosidade. Porém, é preciso protegê-las do sol direto, nas horas mais quentes do dia. A luminosidade ideal para o cultivo da orquídea Odontoglossum é aquela filtrada por uma tela de sombreamento, do tipo capaz de reter 50% da radiação solar incidente.
Em ambientes muito sombreados, principalmente dentro de casas e apartamentos, pode ser mais desafiador fazer esta orquídea florescer. O cultivo dos híbridos descendentes de Odontoglossum, no entanto, costuma ser mais tranquilo, já que estas orquídeas são mais miscigenadas, resistentes e adaptáveis aos ambientes domésticos.
Trata-se de uma orquídea que aprecia níveis elevados de umidade relativa do ar, principalmente quando cultivada sob a forma epífita, com as raízes aderidas a troncos de árvores, pedaços de madeira ou cascas de peroba, por exemplo.
A orquídea Odontoglossum e seus híbridos também podem ser cultivados em vasos. Os de barro são ideais por apresentarem furos nas laterais e serem mais porosos, permitindo que o substrato em seu interior seque mais rapidamente. Em ambientes muito secos, principalmente internos, vale a pena recorrer ao vaso de plástico, que possui a capacidade de reter a umidade por mais tempo. Neste caso, a frequência das regas deve ser mais espaçada.
É importante que as regas do Odontoglossum sejam bem moderadas, ocorrendo somente quando o substrato estiver seco. A frequência vai depender da natureza do material utilizado como substrato. De maneira geral, utiliza-se uma mistura composta por casca de pinus, carvão vegetal e fibra de coco. Há quem aprecie o uso da brita pura, principalmente no cultivo de orquídeas da subtribo Oncidiinae. Outra alternativa, quem tem dado bons resultados, aqui no apartamento, é a casca de macadâmia.
A adubação da orquídea Odontoglossum pode ser orgânica, inorgânica, ou organonomineral, que é uma mistura de ambas. O importante é não adubar demais, visto que o acúmulo de sais minerais no substrato pode causar queimaduras nas pontas das folhas, além de prejudicar o desenvolvimento das raízes. Aqui no apartamento, dou preferência aos adubos inorgânicos, do tipo NPK, por uma questão de praticidade. Alterno fórmulas de manutenção e floração, semanalmente, utilizando metade da dose recomendada pelo fabricante.
A multiplicação do Odontoglossum é muito simples, devendo ocorrer no período em que a orquídea está emitindo novos brotos e raízes, geralmente no início da primavera. No momento da divisão da touceira, é preciso tomar cuidado para manter, ao menos, três pseudobulbos em cada segmento. Desta forma, a planta terá energia armazenada para produzir novas brotações.
Seja um híbrido ou espécie pura, vale sempre a pena ter alguns representantes deste belíssimo e florífero gênero botânico na coleção. Com tantas cores e estampas disponíveis, torna-se impossível não se apaixonar por uma dúzia destas vistosas orquídeas.
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Por Sergio Oyama Junior
Bacharel em biologia pela Unicamp, com mestrado e doutorado em bioquímica pela Usp, escreve sobre o cultivo de orquídeas, suculentas, cactos e outras plantas dentro de casas e apartamentos.
São Paulo, SP, Brasil
Bacharel em biologia pela Unicamp, com mestrado e doutorado em bioquímica pela Usp, escreve sobre o cultivo de orquídeas, suculentas, cactos e outras plantas dentro de casas e apartamentos.
São Paulo, SP, Brasil