| Dendrobium densiflorum | |
Existe um seleto grupo de orquídeas, pertencentes ao gênero Dendrobium, que se notabilizam pelas inflorescências densas e fartas, em diferentes colorações, cujo aspecto lembra um cacho de uva. Estas florações pendem da parte superior de longos e afilados pseudobulbos em forma de cana, geralmente desprovidos de folhas. Neste artigo, apresentamos a orquídea Dendrobium densiflorum, cujo nome científico se traduz exatamente nesta característica, de flores densamente organizadas em um racemo.
Esta arquitetura floral também é encontrada na orquídea Dendrobium thyrsiflorum, já apresentada anteriormente, aqui no blog. Para diferenciá-las, basta observar a coloração das pétalas e sépalas, que são amarelas, no caso do Dendrobium densiflorum, e brancas, na espécie thyrsiflorum. Em ambos os casos, o labelo apresenta um tom bem escuro de amarelo, quase alaranjado. Esta é a estrutura em destaque da flor, responsável pela atração dos agentes polinizadores. Olhando com atenção, percebemos que o labelo é delicadamente franjeado, em ambas as espécies.
O Dendrobium densiflorum pertence à seção Callista, um subgrupo dentro do gênero Dendrobium, do qual também fazem parte as espécies Dendrobium amabile e Dendrobium farmeri, entre outras. É interessante notar que o nome desta seção é derivado da palavra grega kallistos, cuja tradução é muito bonito. Atualmente, existem taxonomistas que consideram esta seção um gênero.
De fato, as florações do Dendrobium densiflorum e seus companheiros de seção são belíssimas, muito exuberantes. Este é o tipo de orquídea que sempre tem um lugar garantido nos pódios, em exposições. Por apresentar um desenvolvimento acelerado, esta espécie é conhecida por formar touceiras enormes, repletas de pseudobulbos. Sendo assim, quando vários deles florescem ao mesmo tempo, o espetáculo é garantido.
Esta é uma espécie que pode ser considerada antiga, já que sua descrição formal ocorreu em 1830, tendo sido realizada por John Lindley, o botânico inglês cujo nome foi latinizado para nomear a orquídea Dendrobium lindleyi, de flores semelhantes às do Dendrobium densiflorum.
Assim como diversas outras orquídeas do gênero, o Dendrobium densiflorum é de origem asiática, ocorrendo nativamente em países como Tailândia, Índia, Nepal e China. Em seu habitat de origem, esta orquídea pode ser encontrada vegetando sob a forma epífita, presa aos troncos das árvores, com as raízes aéreas, ou rupícola, crescendo sobre rochas. É interessante ressaltar que, em ambos os casos, os nutrientes não são retirados dos hospedeiros, de modo que a orquídea não vive como um parasita.
As árvores servem apenas como suporte físico para as raízes, que se nutrem de pequenos detritos fornecidos pelo ambiente. Da mesma forma, as rochas agem como ponto de apoio, sendo que a umidade e os nutrientes são retirados pelas raízes do material orgânico que se acumula nas fendas entre as pedras.
Em países de língua inglesa, a orquídea Dendrobium densiflorum é conhecida como pineapple orchid, orquídea abacaxi, graças ao formato e à coloração de suas inflorescências. Uma característica que distingue esta espécie dos demais representantes da seção Callista é o fato de seus pseudobulbos, uma vez atingindo a maturidade, permanecerem com suas folhas, geralmente concentradas na parte apical destas estruturas.
A floração do Dendrobium densiflorum ocorre tipicamente durante os meses da primavera. De modo geral, as orquídeas deste gênero apreciam um inverno mais frio e seco, para que possam florescer na estação subsequente. Durante este período, a adubação pode ser suspensa.
É por esta razão que pode ser desafiador fazer o Dendrobium densiflorum florescer, em muitas regiões do país, que não possuem uma estação do ano mais fria, bem definida. Também é comum que continuemos a regar esta orquídea normalmente, durante o outono e inverno, de modo que, quando chega o momento da floração, na primavera, somos contemplados com inúmeros keikis, no lugar de flores.
Keiki é uma palavra havaiana que significa bebê. São pequenos brotos produzidos a partir de gemas localizadas nos nós, ao longo dos pseudobulbos do Dendrobium densiflorum e diversas outras orquídeas deste e de outros gêneros. Ainda que atrapalhem a floração, ao menos estas estruturas podem ser utilizadas para multiplicar a orquídea.
Ainda que o Dendrobium densiflorum seja uma orquídea epífita, e possa ser tentador cultivá-la como tal, em pedaços de madeira ou cascas de árvores, é importante ter em mente que esta é uma planta de grande porte, que forma volumosas touceiras. Neste contexto, o mais prático é cultivar esta espécie em vasos, cujos diâmetros podem ir aumentando, à medida que a orquídea cresce.
Esta é uma orquídea que aprecia vasos justos, compatíveis com o tamanho da touceira, e não excessivamente grandes. Recipientes muito maiores do que a planta exigem uma quantidade extra de substrato, que demora mais pra secar, prejudicando o desenvolvimento da orquídea.
O melhor material para o cultivo do Dendrobium densiflorum é aquele próprio para orquídeas epífitas, composto por casca de pinus, carvão vegetal e fibra de coco. Materiais alternativos, como casca de macadâmia ou brita pura também podem ser utilizados, desde que o cultivador tenha experiência.
Estes elementos que compõem o substrato escolhido irão determinar a frequência das regas, que deve ser moderada. É importante esperar que o material esteja completamente seco, antes que uma nova irrigação seja efetuada. Durante o outono e inverno, as regas devem ser bastante reduzidas, ocorrendo apenas esporadicamente, para evitar que os pseudobulbos fiquem demasiadamente desidratados.
Além do stress hídrico, outro fator essencial para que o Dendrobium densiflorum floresça adequadamente é a luminosidade. Esta deve ser abundante, porém indireta. O ideal é fornecer a luz filtrada por uma tela de sombreamento, capaz de reter 50% dos raios solares. Esta orquídea pode ser exposta ao sol pleno durante as primeiras horas da manhã ou do final da tarde.
Outro elemento que ajuda na floração do Dendrobium densiflorum é a adubação. Durante a fase de crescimento e maturação dos pseudobulbos, uma formulação do tipo NPK, própria para a manutenção de orquídeas, pode ser fornecida, alternando-a com um fertilizante próprio para floração, mais rico em fósforo. Eu costumo utilizar metade da dose recomendada pelo fabricante, semanalmente. Durante o outono e inverno, o fornecimento de adubo deve ser suspenso.
De modo geral, o cultivo do Dendrobium densiflorum é bastante tranquilo. Trata-se de uma orquídea muito resistente, pouco atacada por pragas, que cresce aceleradamente e floresce abundantemente, desde que as condições acima mencionadas sejam cumpridas. Para quem tem bastante espaço e ambientes iluminados, esta é uma excelente opção para abrilhantar a coleção.
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Por Sergio Oyama Junior
Bacharel em biologia pela Unicamp, com mestrado e doutorado em bioquímica pela Usp, escreve sobre o cultivo de orquídeas, suculentas, cactos e outras plantas dentro de casas e apartamentos.
São Paulo, SP, Brasil
Bacharel em biologia pela Unicamp, com mestrado e doutorado em bioquímica pela Usp, escreve sobre o cultivo de orquídeas, suculentas, cactos e outras plantas dentro de casas e apartamentos.
São Paulo, SP, Brasil