| Cymbidium aloifolium | |
As orquídeas do gênero Cymbidium, que estamos mais acostumados a encontrar no mercado, frequentemente apresentam longas hastes florais, repletas de flores grandes e vistosas, em diferentes colorações. Tratam-se de exemplares híbridos, resultantes de vários anos de cruzamentos seletivos, até que a forma e tamanho desejados sejam atingidos. Neste artigo, a orquídea em destaque é uma espécie pura, cujo nome científico é Cymbidium aloifolium.
Infelizmente, ainda não é comum encontrarmos espécies de Cymbidium nas coleções, principalmente aqui no Brasil. Também não é fácil termos acesso a este tipo de orquídea, em floriculturas e garden centers. O Cymbidium aloifolium, por exemplo, somente poderá ser adquirido de produtores especializados, em orquidários confiáveis. As áreas de vendas, em exposições de orquídeas, são ótimos locais para se procurar por espécies mais diferenciadas.
Ao contrário de seus parentes, híbridos repolhudos, o Cymbidium aloifolium apresenta flores pequenas e delicadas, ao longo de hastes pendentes. Esta foi a primeira espécie de Cymbidium descrita na Europa, ainda em 1753, pelo botânico sueco Carl Linnaeus. É interessante notar que, neste início de sua taxonomia, a espécie era conhecida como Epidendrum aloifolium.
O Cymbidium aloifolium é uma orquídea de origem asiática, ocorrendo naturalmente em uma vasta área encoberta por diversos países, tais como China, Tailândia, Vietnam e Malásia, entre outros. Em seu habitat de origem, encontra-se vegetando em uma grande variedade de ambientes, de florestas secas a áreas abertas, do tipo savana, sob sombra parcial.
Ao contrário da maioria dos híbridos de Cymbidium, que possui um hábito de vida terrestre, a espécie Cymbidium aloifolium pode ser encontrada nos troncos das árvores, vivendo como uma orquídea epífita. Bastante versátil, há ainda a possibilidade de encontrarmos exemplares desta espécie vegetando sobre rochas, como rupícola. Neste caso, suas raízes nutrem-se da umidade e detritos acumulados nas fendas entre as pedras.
Os pseudobulbos do Cymbidium aloifolium são pequenos, apresentando folhas bem mais rígidas, de natureza coriácea, que surgem a partir de seus ápices. Esta é a razão pela qual o nome científico, em latim, significa folha em forma de Aloe. No exterior, a espécie é conhecida como the Aloe leafed Cymbidium.
Também diferindo da maioria das orquídeas Cymbidium que conhecemos, célebres por florescerem durante o inverno, a espécie Cymbidium aloifolium produz suas inflorescências pendentes um pouco mais tarde, durante o final do inverno e ao longo da primavera.
Uma das grandes vantagens de se cultivar este Cymbidium pendente reside no fato de esta espécie não depender tanto do frio para florescer, como ocorre com os híbridos que estamos acostumados a cultivar. Por ser uma orquídea originária de regiões de clima mais ameno, o Cymbidium aloifolium tem mais chances de florescer sob as temperaturas que podemos oferecer, aqui no Brasil.
O Cymbidium aloifolium também não necessita de uma luminosidade muito intensa, com várias horas de sol direto, para que possa se desenvolver e florescer bem. Esta é uma espécie que se adapta a ambientes de meia sombra, com a luz filtrada por uma tela de sombreamento, capaz de reter 50% da radiação solar incidente. O sol direto do início da manhã e final da tarde é bem tolerado, e pode contribuir para o surgimento das flores.
Uma outra diferença importante, em relação aos híbridos de Cymbidium clássicos, que são plantados diretamente na terra, é que o Cymbidium aloifolium prefere um substrato para orquídeas epífitas, composto por casca de pinus, carvão vegetal e fibra de coco. Esta é uma espécie cujas raízes estão habituadas ao contato com a madeira em decomposição, de natureza mais ácida. Alternativamente, como também pode apresentar um hábito rupícola, esta orquídea vai bem em substratos compostos por brita pura, por exemplo.
As regas do Cymbidium aloifolium devem ser moderadas, permitindo que o substrato tenha a oportunidade de secar bem, entre uma irrigação e outra, independentemente da periodicidade. Durante o inverno, é importante reduzir o fornecimento de água. Este é um sinal climático que interfere no metabolismo da orquídea, estimulando-a a florescer, na estação seguinte.
As folhas do Cymbidium aloifolium costumam ser atacadas por cochonilhas, principalmente aquelas de carapaça marrom. Estas pragas parecem perceber qual é o lado da planta que nós não enxergamos, de modo que as colônias se concentram nestes pontos cegos. É bom ficar de olho e sempre fazer a remoção manual, com água e detergente, antes que inseticidas mais tóxicos precisem ser utilizados.
A adubação do Cymbidium aloifolium pode ser do tipo orgânica, inorgânica ou uma combinação das duas modalidades. Cada cultivador acaba encontrando seu esquema de fertilização preferido. Aqui no apartamento, utilizo fórmulas do tipo NPK, com macro e micronutrientes, específicas para diferentes etapas do desenvolvimento das orquídeas. Durante a fase de desenvolvimento dos pseudobulbos, aplico uma fórmula de manutenção, com níveis equilibrados de nitrogênio, fósforo e potássio. Para estimular a floração, alterno este adubo com uma formulação mais rica em fósforo, semanalmente. Durante os meses de inverno, a adubação pode ser suspensa.
É importante utilizar metade da dose recomendada pelo fabricante, uma vez que o excesso de adubação pode causar um acúmulo de sais minerais no substrato, prejudicando o desenvolvimento das raízes. De tempos em tempos, convém colocar o vaso debaixo de uma corrente generosa de água, para que estes elementos sejam lavados do substrato.
A orquídea Cymbidium aloifolium pode ser multiplicada através da divisão de suas touceiras. Durante este processo, é importante que cada segmento contenha, ao menos, três pseudobulbos. Estas estruturas irão fornecer água e nutrientes para que novos brotos surjam, permitindo que a muda possa se enraizar e continuar seu desenvolvimento. Tanto a propagação como um eventual replante devem ser realizados após o final da floração, para evitar que este processo seja interrompido. O melhor momento para dividir e transplantar a orquídea é quando ela começa a emitir novos brotos e raízes.
Por ser uma orquídea que produz florações pendentes, mais delicadas, o Cymbidium aloifolium é uma excelente opção para diversificar a coleção. Além disso, por depender menos de uma estação fria, bem definida, suas chances de florescer, no Brasil, são maiores. Vale a pena dar uma explorada no gigantesco universo de espécies de orquídeas Cymbidium, até então pouco conhecidas do público em geral.
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Por Sergio Oyama Junior
Bacharel em biologia pela Unicamp, com mestrado e doutorado em bioquímica pela Usp, escreve sobre o cultivo de orquídeas, suculentas, cactos e outras plantas dentro de casas e apartamentos.
São Paulo, SP, Brasil
Bacharel em biologia pela Unicamp, com mestrado e doutorado em bioquímica pela Usp, escreve sobre o cultivo de orquídeas, suculentas, cactos e outras plantas dentro de casas e apartamentos.
São Paulo, SP, Brasil