| Cattleya guttata | |
As orquídeas pintalgadas exercem um incrível fascínio sobre os colecionadores desta família botânica, graças aos interessantes padrões no melhor estilo animal print que suas pétalas e sépalas são capazes de exibir. Não por acaso, estas orquídeas acabam associadas a termos relacionados aos grandes felinos, como tigres, onças e leopardos. A espécie botânica Cattleya guttata traz um belíssimo exemplo desta estampa de leopardo, que mescla tons de caramelo, bronze e cobre, contrastando com um esfuziante labelo pink.
Além da orquídea Cattleya guttata, também produzem flores com estampas que lembram a pele de um leopardo as espécies Cattleya schilleriana e Cattleya aclandiae, já apresentadas, aqui no blog. São todas orquídeas exclusivamente brasileiras, endêmicas de estados específicos. No caso da Cattleya guttata, sua ocorrência se dá nativamente nas regiões nordeste, sudeste e sul do Brasil.
Não por acaso, existe uma belíssima variedade desta espécie, denominada Cattleya guttata leopardina, com pétalas e sépalas intensamente cobertas por pintas em tons bronzeados, acobreados, que lembram o animal print encontrado na pelagem dos leopardos.
Também não é uma coincidência o fato de esta variedade de Cattleya guttata ser constantemente confundida com outra espécie que tem nome de felino, a orquídea Cattleya tigrina, igualmente pintalgada, com o labelo pink. Tecnicamente, estas manchas consistem na deposição de um pigmento na coloração púrpura sobre um fundo amarelo, levemente esverdeado, que resulta no efeito ótico de pintas amarronzadas, em tons de caramelo ou bronze.
No meio desta confusão, ainda existe a Cattleya leopoldii, assim batizada em homenagem ao rei Leopoldo I, da Bélgica. Durante muitos anos, esta espécie foi considerada uma variedade da Cattleya guttata. De fato, são plantas bastante parecidas, com florações exuberantes, pintalgadas, muitas delas exibindo padrões que nos remetem à pelagem de um leopardo. Em todos os casos, a forma tipo destas orquídeas sempre apresenta o labelo pink, mas esta estrutura pode exibir uma coloração branca (alba) ou azulada (caerulea), dependendo da variedade em questão.
Para não ficarmos malucos, neste artigo, iremos nos concentrar na orquídea Cattleya guttata. Trata-se de uma espécie pertencente ao grande grupo de orquídeas bifoliadas, frequentemente encontradas no gênero Cattleya, que tipicamente produzem duas folhas coriáceas, a partir dos ápices de seus pseudobulbos longos e delgados.
A Cattleya guttata é uma orquídea de hábito epífito, vegetando sobre os troncos das árvores, com as raízes aéreas aderias às rugosidades destas estruturas, em regiões de clima quente e úmido, parcialmente protegida pelas copas das árvores. Em muitas regiões, esta espécie pode ser encontrada vegetando sob sol pleno, em seus habitats de origem.
Esta é uma orquídea que costuma ocorrer ao longo da região costeira do Brasil, ao nível do mar, com uma predominância nos estados do sul e sudeste do país.
É interessante notar que as florações da Cattleya guttata costumam surgir a partir de pseudobulbos maduros, com espatas secas. Muitas vezes, o cultivador fica desanimado ao ver esta estrutura secar. A espata é uma folha modificada, com a finalidade de proteger os botões florais da orquídea, durante seu desenvolvimento. É importante não perder as esperanças e, principalmente, não cortar estas espatas secas, já que botões florais podem estar a caminho.
A época de floração da orquídea Cattleya guttata consiste, predominantemente, nos meses do outono e inverno, quando longas e fartas inflorescências são produzidas. O número de flores por haste costuma ficar entre cinco e dez, podendo chegar a trinta. Além do belíssimo colorido, as pétalas e sépalas produzem um suave perfume adocicado. A textura das flores é firme, de aparência brilhante, cerosa.
Esta é uma orquídea que pode ser cultivada de forma a mimetizar seu hábito epífito de crescimento, em troncos de árvores, pedaços de madeiras rugosas ou com ranhuras, cascas de árvores, como peroba, ou cachepots vazados, feitos de ripas de madeira, entre uma infinidade de outros materiais.
No entanto, ao longo do tempo, a orquídea Cattleya guttata vai emitindo novos pseudobulbos, em diversas frentes de crescimento, de forma que a touceira tende a se avolumar. Sendo assim, por uma questão de praticidade, esta planta fica melhor acomodada em vasos preenchidos com substratos próprios para o cultivo de orquídeas epífitas.
Neste caso, os materiais também são os mais diversos. O substrato clássico é aquele composto por casca de pinus, carvão vegetal e fibra de coco, que já pode ser adquirido pronto para o uso, em lojas especializadas. A vantagem deste material é que ele já vem tratado, tendo passado por um processo que visa a retirada do excesso de tanino, presente nos tecidos vegetais que compõem o substrato.
Alternativamente, muitos cultivadores vêm obtendo sucesso com o uso da casca de macadâmia como substrato para orquídeas epífitas. A brita pura também costuma ser bastante utilizada.
A frequência das regas da orquídea Cattleya guttata tem uma íntima relação com a natureza do material utilizado como vaso e substrato. A partir desta combinação, o cultivador tem como perceber qual é a frequência ideal para as irrigações. Como uma regra geral, elas somente devem ocorrer quando o material no interior do vaso estiver completamente seco. O excesso de umidade em torno das raízes de orquídeas epífitas é o principal fator que leva ao seu declínio e morte.
A adubação da Cattleya guttata pode ser orgânica ou inorgânica, ficando a escolha a cargo do cultivador, de acordo com suas preferências e hábitos de manutenção de suas orquídeas. Por uma questão de praticidade, aqui no apartamento, dou preferência aos fertilizantes inorgânicos, minerais, do tipo NPK. Utilizo formulações próprias para o cultivo de orquídeas, com macro e micronutrientes.
Via de regra, aplico doses semanais de adubo, utilizando metade da dose recomendada pelo fabricante, alternando fórmulas de manutenção, com níveis equilibrados de nitrogênio, fósforo e potássio, e floração, mais rica em fósforo. É importante que o substrato seja abundantemente lavado, sob um fluxo generoso de água, de tempos em tempos, para que o excesso de sais minerais, provenientes dos fertilizantes, seja removido. O acúmulo destas substâncias leva a um aumento nos níveis de salinidade no substrato, causando queimaduras nas raízes.
Para que a orquídea Cattleya guttata floresça adequadamente, a planta deve ser exposta a níveis intensos de luminosidade. Esta espécie tolera o sol direto do início da manhã e final da tarde. Contudo, nas horas mais quentes do dia, principalmente no verão, convém protegê-la com uma tela de sombreamento, capaz de reter 50% da radiação solar incidente.
Além de belíssima, esta é uma orquídea bastante resistente, assim como os grande felinos representados nas estampas de suas flores ricamente pintalgadas. Ainda que existam diversos híbridos com estampas semelhantes, a Cattleya guttata apresenta o charme de ser uma espécie exclusivamente brasileira, perfeita para os colecionadores que valorizam a flora nativa do país e se preocupam com a sua conservação.
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Por Sergio Oyama Junior
Bacharel em biologia pela Unicamp, com mestrado e doutorado em bioquímica pela Usp, escreve sobre o cultivo de orquídeas, suculentas, cactos e outras plantas dentro de casas e apartamentos.
São Paulo, SP, Brasil
Bacharel em biologia pela Unicamp, com mestrado e doutorado em bioquímica pela Usp, escreve sobre o cultivo de orquídeas, suculentas, cactos e outras plantas dentro de casas e apartamentos.
São Paulo, SP, Brasil