| Ctenanthe burle-marxii | |
Esta é outra belíssima planta de sombra cuja infinidade de nomes populares e científicos acaba tornando desafiadora a sua correta identificação. Conhecida por todos como Maranta Burle Marx ou Calathea Burle Marx, em homenagem ao reconhecido artista plástico e paisagista brasileiro, Roberto Burle Marx, esta planta recebeu uma nomenclatura científica bem diferente, Ctenanthe burle-marxii. Neste caso, o nome do homenageado aparece em sua forma latinizada, além de apresentar as iniciais em letras minúsculas, por se tratar da designação de uma espécie.
Na verdade, uma grande variedade de espécies pertencentes aos gêneros Maranta, Calathea, Ctenanthe e Stromanthe, entre muitos outros, acabam sendo popularmente chamadas de marantas, uma vez que todas fazem parte da família botânica Marantaceae. É o caso da Ctenanthe burle-marxii, que ficou famosa em todo o mundo como maranta Burle Marx.
O paisagista Roberto Burle Marx foi pioneiro na utilização de plantas nativas brasileiras em seus projetos. Durante as várias expedições que organizou, explorando a flora pertencente aos diversos biomas do país, este estudioso acabou descobrindo muitas espécies novas. Sendo assim, além da Ctenanthe burle-marxii, mais de outras trinta plantas foram classificadas com seu nome latinizado.
Seu trabalho ganhou uma belíssima obra escrita por Pietro Maria Bardi, intitulado 'I Giardini Tropicali di Burle Marx', publicado em 1964, em Milão. Os projetos de paisagismo do Eixo Monumental de Brasília e da Embaixada do Brasil em Washington, entre muitíssimos outros, são de autoria de Burle Marx.
Em 2021, o Sítio Roberto Burle Marx, localizado em Barra de Guaratiba, Rio de Janeiro, foi reconhecido como Patrimônio Mundial da Humanidade, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, Unesco.
Em todos estes projetos, sempre tiveram lugar de destaque as plantas dos diversos biomas brasileiros, tais como Caatinga, Cerrado e Mata Atlântica, entre outros. Neste contexto, situa-se a Maranta Burle Marx, estrela do artigo de hoje.
Presente no solo das matas úmidas e quentes, em diversas regiões de clima tropical e subtropical, esta exclusiva espécie brasileira ganhou fama mundial, sendo bastante cultivada como planta de interior. Em países de língua inglesa, a Maranta Burle Marx é popularmente conhecida como fishbone prayer plant. De fato, as marcações mais escuras em suas folhas nos remetem à aparência de uma espinha de peixe, fishbone. Além disso, o termo prayer plant faz referência ao curioso hábito que a Ctenanthe burle-marxii e diversas outras marantáceas possuem de fechar as folhas na posição vertical, durante a noite. No Brasil, estas plantas são conhecidas como rezadeiras.
No paisagismo de áreas externas, a Maranta Burle Marx funciona como uma forração, ideal para ambientes sombreados, sob as copas das árvores, onde a grama convencional não prospera, por necessitar de sol pleno.
Mas é dentro de casas e apartamentos, ao redor do mundo, que a Maranta Burle Marx brilha com mais intensidade. Por ser uma planta tropical, esta folhagem aprecia as temperaturas amenas e constantes ao longo de todo o ano, condições climáticas típicas de ambientes internos. Além disso, por viver protegida do sol pleno, no interior da Mata Atlântica, a Ctenanthe burle-marxii se beneficia da luz difusa e indireta que podemos proporcionar, nos interiores de nossos cômodos.
O único problema, frequentemente encontrado em nossas urban jungles, florestas urbanas, é a falta de umidade no ambiente. Os tecidos presentes na mobília, cortinas e tapetes costumam absorver as partículas de água ao seu redor, deixando o clima mais seco. Além disso, salas, quartos e escritórios que possuem aparelhos de ar condicionado também sofrem um ressecamento mais acentuado do ar.
A Maranta Burle Marx ressente-se da exposição a baixos níveis de umidade relativa do ar, frequentemente enrolando suas folhas, sob estas circunstâncias. Outro sinal de que a planta não está feliz consiste no ressecamento das extremidades destas estruturas. Nestes casos, convém recorrer a um aparelho umidificador de ar, preferencialmente do tipo ultrassônico. Aquários e fontes de água, posicionados próximos aos vasos com as marantáceas, também ajudam a elevar os níveis de umidade no ambiente.
Por fim, um aparato bastante útil para construir um microclima mais saudável para o cultivo da Maranta Burle Marx consiste em uma bandeja umidificadora, com uma camada de areia ou pedrisco, sobre a qual os vasos se apoiam. No fundo da bandeja, uma lâmina de água fornece umidade ao sistema, através da capilaridade. É importante que a superfície da água não fique exposta ao ambiente, para não se transformar em um criadouro para o mosquito da dengue. Além disso, o fundo do vaso não pode ficar em contato direto com a água, situação que pode levar ao apodrecimento das raízes.
Vale sempre ressaltar que os baixos níveis de umidade relativa do ar, no ambiente de cultivo, não podem ser corrigidos por um aumento na frequência das regas. São coisas distintas. As regas devem ser frequentes, mas não excessivas. As irrigações visam manter o solo sempre levemente úmido, nunca encharcado. Por outro lado, borrifadas frequentes com uma fina névoa de água, sobre as folhas, ajudam a criar um ambiente mais saudável para a planta, ainda que seu efeito seja apenas momentâneo.
A Maranta Burle Marx aprecia um solo fértil, rico em matéria orgânica, similar àquele encontrado em seu habitat original. Uma mistura de terra vegetal e composto orgânico, que pode ser húmus de minhoca ou esterco curtido, pode ser utilizada como substrato para o cultivo desta planta. O material deve ser bem aerado, pouco compactado e capaz de escoar rapidamente a água das regas.
O vaso mais apropriado para o cultivo da Ctenanthe burle-marxii é o de plástico, uma vez que este material ajuda a reter a umidade no solo por um período mais prolongado. Ainda assim, é sempre bom evitar o uso do pratinho sob o vaso, que pode causar um acúmulo de água, prejudicial ao desenvolvimento das raízes.
Sendo que o substrato já é rico em matéria orgânica, e a Maranta Burle Marx raramente floresce, em ambientes internos, a adubação complementar pode ser bem básica, de manutenção, do tipo NPK. Uma formulação própria para o uso em folhagens pode ser aplicada durante os meses mais quentes do ano, quando o metabolismo da planta encontra-se mais ativo.
A multiplicação da Maranta Burle Marx pode ser feita através da simples divisão da touceira. É importante que este procedimento seja realizado no início da primavera, quando as temperaturas encontram-se em ascensão, e a planta começa a emitir novos brotos e raízes.
Além de ser belíssima e de fácil cultivo, principalmente em interiores, a Maranta Burle Marx ainda possui o charme de homenagear um artista e estudioso tão importante para a cultura brasileira. Há alguns anos, tive o prazer de conhecer o paisagista Oscar Bressane, que participou de várias excursões organizadas por Burle Marx, e continua fazendo um belíssimo trabalho de valorização da flora brasileira. Devo este momento inesquecível à Paula Caubianco, criadora do podcast @momentocast, e Megumi Kawauchi, minha prima, que sempre acompanham e apoiam este trabalho, aqui no blog.
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Por Sergio Oyama Junior
Bacharel em biologia pela Unicamp, com mestrado e doutorado em bioquímica pela Usp, escreve sobre o cultivo de orquídeas, suculentas, cactos e outras plantas dentro de casas e apartamentos.
São Paulo, SP, Brasil
Bacharel em biologia pela Unicamp, com mestrado e doutorado em bioquímica pela Usp, escreve sobre o cultivo de orquídeas, suculentas, cactos e outras plantas dentro de casas e apartamentos.
São Paulo, SP, Brasil