| Philodendron xanadu | |
Sempre achei descolado o nome desta planta. Embora pareça, não se trata de um apelido ou nome popular. Xanadu faz parte do nome científico deste exuberante e tropical filodendro, Philodendron xanadu. Geralmente, o nome das espécies botânicas faz alusão a alguma personalidade ligada ao seu descobrimento, geralmente ocorrido séculos atrás. No caso do filodendro xanadu, no entanto, sua história é bem recente e, para variar, bastante confusa.
Aparentemente, esta planta somente foi notada no início dos anos 1980, em uma estufa comercial australiana. Em um primeiro momento, o filodendro xanadu foi classificado como sendo um híbrido relacionado ao Philodendron bipinnatifidum, popularmente conhecido como guaimbê. Nos anos seguintes, esta folhagem passou a ser comercializada sob uma série de marcas, como se fossem nomes registrados de cultivares. Dentre eles, foi patenteado o termo xanadu, nos Estados Unidos.
Esta é a razão pela qual este filodendro tem o nome científico tão moderninho. Ele é derivado de um nome comercial, dado por um cultivador americano. Além de fazer referência ao clássico filme da década de 1980, o filodendro xanadu homenageia a antiga capital de verão do império mongol, na China.
O mais curioso desta história é que, no final, descobriu-se que o filodendro xanadu não era híbrido, coisa nenhuma, muito menos australiano. Trata-se, na verdade, de uma espécie botânica originária do Brasil, que ocorre nativamente em todos os estados do sudeste do país, em áreas da Mata Atlântica. Somente então, o suposto híbrido, agora promovido à condição de espécie pura, foi batizado como Philodendron xanadu, em latim e itálico, como manda o figurino.
Evidentemente, os taxonomistas nunca se dão por satisfeitos e decidiram complicar um pouco mais as coisas, alterando o nome científico do filodendro xanadu para Thaumatophyllum xanadu, que, na prática, ninguém usa.
Mas enfim, o fato importante é que o Philodendron xanadu faz parte da grande família botânica Araceae, repleta de representantes comumente utilizados no paisagismo, predominantemente de ambientes mais sombreados, dentro de casas a apartamentos. São parentes do xanadu a costela de Adão, Monstera deliciosa, jiboia, Epipremnum aureum, lírio da paz, Spathiphyllum wallisii, e o antúrio, Anthurium andraeanum, entre muitas outras aráceas frequentemente presentes na decoração de interiores.
O principal charme do xanadu são suas folhas brilhantes, dramaticamente recortadas, organizadas ao redor de um arbusto compacto e bastante ornamental. As flores são discretas e possuem a arquitetura básica de todas as aráceas, compostas por uma espádice, que é a inflorescência, protegida por uma bráctea, que é uma folha modificada. Em ambientes internos, contudo, é bem difícil que o filodendro xanadu floresça.
Além de ser cultivado em vasos, dentro de casas e apartamentos, o xanadu também pode ser mantido em jardins, desde que o local seja mais sombreado. Esta é uma belíssima folhagem que funciona como forração em locais onde a grama não prospera, como debaixo das copas de árvores. Em seu habitat de origem, o filodendro xanadu está adaptado à incidência de luz filtrada, indireta, no interior das florestas úmidas e quentes.
Neste contexto, é importante proteger o xanadu de condições climáticas que se afastem muito da condição nativa, tais como ambientes muito secos, principalmente que sofrem a influência de aparelhos de ar condicionado, locais onde as temperaturas são muito baixas ou que estejam sujeitas à ação de geadas, além de posicionamentos muito expostos a correntes de vento ou sol direto.
O filodendro xanadu responde bem às condições amenas que temos no interior de nossas casas e apartamentos, onde as temperaturas são constantes e agradáveis ao longo de todo o ano. Esta é uma das razões que tornam o xanadu a planta sensação nas selvas urbanas, frequentemente retratadas nos perfis sobre plantas, no Instagram.
Apesar de ser brasileiro, o xanadu é cultivado e comercializado em todo o mundo, como planta ornamental de interiores. Ao contrário de outros filodendros, que costumam formar cascatas pendentes, como o filodendro Brasil, o filodendro xanadu possui um porte mais ereto e compacto. No entanto, como esta planta é capaz de produzir raízes aéreas, existe a possibilidade de se comportar como trepadeira, subindo pelas paredes, literalmente.
Como uma planta tropical, o xanadu aprecia solos férteis, ricos em matéria orgânica. A terra vegetal que costumamos comprar, em lojas de jardinagem, pode ser acrescida de húmus de minhoca ou esterco curtido, em partes iguais, de modo a formar um substrato bem aerado, pouco compactado e facilmente drenável. Muitos cultivadores costumam adicionar uma parte de substrato próprio para o cultivo de plantas epífitas, como orquídeas, a esta mistura. Como complemento, uma adubação básica do tipo NPK, própria para a manutenção de folhagens, pode ser aplicada durante os meses mais quentes do ano, quando o metabolismo do filodendro xanadu está mais ativo, e a planta encontra-se desenvolvendo novas folhas e raízes.
As regas devem ser frequentes, de modo a manterem o solo levemente úmido, sem excessos. É importante que o vaso tenha uma boa camada de drenagem no fundo e que não fique apoiado sobre um pratinho, onde a água das regas pode se acumular. Além de prejudicar o desenvolvimento das raízes e favorecer seu apodrecimento, esta condição tem o potencial de se tornar um criadouro para o mosquito da dengue. Mais importante do que a rega frequente é o nível de umidade relativa do ar, no ambiente de cultivo do xanadu, que idealmente deve estar sempre acima dos 60%. Borrifadas ocasionais sobre as folhas ajudam a aumentar a umidade ao redor da planta, ainda que apenas momentaneamente.
A multiplicação do filodendro xanadu pode ser feita através da retirada de mudas que se formam junto à planta principal. Basta separar os brotos e plantá-los separadamente. Para favorecer o crescimento das novas mudas, uma adubação mais rica em nitrogênio pode ser fornecida.
É importante ter em mente que, como todas as aráceas, o xanadu é uma planta que apresenta elevados teores de oxalato de cálcio em seus tecidos vegetais. Isso faz com que todas as partes da planta, caule, folhas, raízes, flores e frutos, sejam tóxicas. Não se trata de um veneno, mas a ingestão acidental desta substância, principalmente por crianças ou animais de estimação, pode causar problemas gástricos, como uma intoxicação. Mesmo adultos devem manusear a planta com cuidado, utilizado luvas, uma vez que a seiva do filodendro xanadu pode causar alguma irritação na pele ou em mucosas.
Em resumo, o xanadu é aquela planta que, sozinha, consegue transformar qualquer ambiente árido e sem graça em uma exuberante selva tropical. Junto com outras aráceas, o resultado é ainda mais impactante. Trata-se de uma planta resistente, de fácil cultivo, que não requer elevados níveis de luminosidade, sendo ideal para quem cultiva plantas em interiores.
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Por Sergio Oyama Junior
Bacharel em biologia pela Unicamp, com mestrado e doutorado em bioquímica pela Usp, escreve sobre o cultivo de orquídeas, suculentas, cactos e outras plantas dentro de casas e apartamentos.
São Paulo, SP, Brasil
Bacharel em biologia pela Unicamp, com mestrado e doutorado em bioquímica pela Usp, escreve sobre o cultivo de orquídeas, suculentas, cactos e outras plantas dentro de casas e apartamentos.
São Paulo, SP, Brasil