| Dendrobium híbrido | |
Esta é uma espécie de orquídea de origem asiática, cuja popularidade transformou seus descendentes em umas das plantas ornamentais mais difundidas e cultivadas em todo o mundo. O Dendrobium nobile costuma ser chamado de orquídea olhos de boneca, graças à proeminente mácula no centro de suas flores, circundada por um labelo mais claro, configuração que lembra uma estrutura ocular.
Ainda que algumas outras espécies do populoso gênero Dendrobium possam receber este apelido, os híbridos relacionados ao Dendrobium nobile são os mais conhecidos como orquídeas olhos de boneca. Esta espécie tem sido extensivamente utilizada em cruzamentos seletivos, ao longo das décadas, de modo que uma imensa variedade de orquídeas híbridas, portando flores nas mais diferentes cores e tamanhos, pode ser encontrada no mercado, em qualquer época do ano.
Sendo assim, ainda que tenhamos o costume de nos referir à orquídea olhos de boneca como Dendrobium nobile, o mais correto é afirmarmos que se tratam de híbridos descendentes desta espécie botânica. No exterior, é comum que os cultivadores utilizem o termo nobile Dendrobium, algo como Dendrobium do tipo nobile, para diferenciar os híbridos da espécie pura, Dendrobium nobile.
Esta orquídea faz parte de um grupo mais amplo de espécies, cuja principal característica são os pseudobulbos eretos e afilados, desprovidos de folhas, com a aparência de canas. Em inglês, o termo utilizado é hard cane Dendrobium.
As séries de orquídeas híbridas denominadas Dendrobium Stardust, em suas variedades amarela, 'Chiyomi', ou alaranjada, conhecida como 'Firebird', são exemplos de hard cane Dendrobium, possuindo a espécie Dendrobium nobile em sua genealogia.
A orquídea Dendrobium nobile faz parte da lista de cinquenta ervas fundamentais utilizadas na tradicional medicina chinesa. Trata-se de uma espécie encontrada nativamente em países como China, Índia, Tailândia, Vietnam e Butão, entre outros. Esta é uma orquídea de hábito epífito por excelência, habitando florestas montanhosas de clima ameno. Ocasionalmente, pode ser encontrada como rupícola, vegetando sobre rochas cobertas por musgo.
O clima ideal para o cultivo do Dendrobium nobile, e os híbridos dele descendentes, é o temperado ou subtropical, onde existe uma clara delimitação entre as estações do ano, com primaveras e verões quentes e úmidos, entremeados por outonos e invernos mais secos e frios.
É por esta razão que muitos brasileiros encontram dificuldades para fazer esta orquídea florescer. Em muitas regiões do Brasil, as estações do ano apresentam variações de temperatura muito pequenas, de modo que o Dendrobium nobile não recebe os estímulos climáticos necessários para que possa produzir flores, na estação correta.
Tanto na natureza como no cultivo doméstico, o Dendrobium nobile precisa sofrer um stress hídrico, durante os meses de outono e inverno, quando o fornecimento de água é drasticamente reduzido, assim como a adubação. A queda de temperatura, aliada à falta de água e nutrientes, sinaliza ao metabolismo da planta que é hora de entrar em dormência. As folhas do pseudobulbos amarelam, secam e caem. As estruturas em forma de cana ficam com o aspecto enrugado e ressecado.
Todos estes fenômenos são fundamentais para que, na estação seguinte, no começo da primavera, quando as temperaturas começam a subir e o fornecimento de água é retomado, a orquídea perceba que a época de floração chegou. Sendo assim, como que por milagre, dos pseudobulbos secos começam a surgir pequenas protuberâncias, que gradativamente se desenvolvem e começam a revelar os botões florais.
É interessante notar que, em todas as espécies de Dendrobium, incluindo o Dendrobium nobile e seus híbridos, os botões florais apresentam um formato característico, que diferente daquele clássico apresentado por outras orquídeas. Neste gênero, os botões têm um formato irregular, com uma saliência na parte posterior, que é bem característica do gênero.
Tão logo os primeiros sinais de floração surjam, as regas podem voltar à frequência original. Caso o Dendrobium nobile seja regado demasiadamente, durante o inverno, suas gemas axilares irão produzir keikis, pequenas brotações laterais, no lugar de flores. Caso isso aconteça, estas estruturas podem ser cultivadas no lugar em que estiverem, até que desenvolvam raízes suficientemente longas para que possam ser separadas e plantadas em outro vaso, preferivelmente tendo o musgo sphagnum como substrato, em um primeiro momento, até que a plântula se desenvolva bem.
Além do stress hídrico, outro fator importante para induzir a floração do Dendrobium nobile é o fornecimento de uma luminosidade abundante, porém sem sol direto, nas horas mais quentes do dia. Esta é uma orquídea que precisa de bastante luz filtrada para que possa produzir flores. O ideal é que a planta fique sob uma tela de sombreamento, capaz de filtrar 50% da luz solar incidente. O sol direto do início da manhã e do final da tarde também é benéfico para esta orquídea. Em locais de clima mais ameno, pode-se cultivar o Dendrobium nobile sob sol pleno, durante todo o dia, sem maiores problemas.
Outro fator bastante importante para estimular a floração desta orquídea é a adubação. Ainda que os compostos orgânicos sejam bastante utilizados pelos cultivadores, as fórmulas inorgânicas, do tipo NPK, apresentam as quantidades exatas de cada macro e micronutrientes, em proporções adequadas para cada etapa de desenvolvimento da planta. Durante a fase de crescimento e desenvolvimento dos pseudobulbos, fórmulas de manutenção, con níveis equilibrados de NPK, podem ser alternadas, semanalmente, com formulações mais ricas em fósforo, desenvolvidas para estimular o surgimento de flores. Sempre lembrando que, durante os meses mais frios do ano, a adubação deve ser suspensa.
Como uma orquídea epífita, o Dendrobium nobile pode ser cultivado sobre troncos de árvores, pedaços de madeira, cascas de peroba, cachepots vazados, entre uma grande gama de suportes disponíveis. Alternativamente, os vasos oferecem maior praticidade e ajudam a manter o substrato úmido por mais tempo. Estes recipientes podem ser de barro ou de plástico, mas a frequência das regas deve ser ajustada de acordo com o material escolhido. Os vasos de cerâmica são mais porosos e permitem que o substrato em seu interior seque mais rapidamente. Já os vasos de plástico retêm a umidade do substrato por mais tempo, de modo que as regas devem ser mais espaçadas. O excesso de umidade nas raízes é o principal fator para o insucesso no cultivo de orquídeas, de modo geral.
Aqui no apartamento, tenho obtido bons resultados com o uso da casca de macadâmia como substrato, principalmente no cultivo de diversas espécies de Dendrobium, incluindo híbridos relacionados ao Dendrobium nobile. As regas podem ser mais frequentes, já que este material oferece uma excelente aeração às raízes, permitindo que estas estruturas sequem rapidamente, após as irrigações.
Embora não seja a orquídea mais indicada para aqueles que moram em regiões litorâneas, ou em localidades de climas muito quentes, o Dendrobium nobile é uma festa para os olhos, quando resolve florescer bem. As variedades de cores disponíveis são quase infinitas, as flores são bastante duráveis e cobrem totalmente os pseudobulbos. Infelizmente, nem todos os híbridos costumam apresentar um perfume muito proeminente.
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Por Sergio Oyama Junior
Bacharel em biologia pela Unicamp, com mestrado e doutorado em bioquímica pela Usp, escreve sobre o cultivo de orquídeas, suculentas, cactos e outras plantas dentro de casas e apartamentos.
São Paulo, SP, Brasil
Bacharel em biologia pela Unicamp, com mestrado e doutorado em bioquímica pela Usp, escreve sobre o cultivo de orquídeas, suculentas, cactos e outras plantas dentro de casas e apartamentos.
São Paulo, SP, Brasil