| Cattleya nobilior | |
Esta é mais uma espécie de destaque em meio à populosa constelação formada pelas orquidáceas do gênero Cattleya. Conhecida como a Rainha do Cerrado, a Cattleya nobilior está ao lado de outras integrantes da realeza, como a Cattleya walkeriana e Cattleya labiata, esta última conhecida como a Rainha do Nordeste. Trata-se de uma orquídea de porte compacto, que produz flores comparativamente grandes, em relação ao seu aspecto vegetativo. Além de agradavelmente perfumada, a floração da Cattleya nobilior pode ocorrer em uma grande variedade de tonalidades, desde o levemente rosado até o púrpura mais intenso.
A orquídea Cattleya nobilior também pode ser encontrada em sua versão alba, totalmente branca, que é bastante rara. Há, ainda, as formas semi-alba, caerulea, vinicolor, rubra e amaliae, entre tantas outras. O destaque desta espécie fica por conta do labelo, que é tradicionalmente diferenciado nas orquídeas, de modo geral. Neste caso, a pétala modificada apresenta venações em um tom bem fechado de púrpura, sobre um fundo mais claro com nuances amareladas.
É justamente o labelo que possibilita a diferenciação entre as flores da Cattleya nobilior e Cattleya walkeriana, que são espécies bastante parecidas entre si. Tanto que, inicialmente, estas plantas eram confundidas. A espécie nobilior somente foi formalmente classificada em 1883, quatro décadas após a descrição da walkeriana. Até então, a Cattleya nobilior vinha sendo considerada apenas uma variedade da Cattleya walkeriana. Como uma doce vingança, seu nome, nobilior, significa mais nobre, em latim.
Uma outra forma de diferenciar estas duas espécies é através da observação de seus aspectos vegetativos. Ainda que os pseudobulbos sejam bastante parecidos, aqueles presentes na Cattleya nobilior são sempre bifoliados. Já na Cattleya walkeriana, existe a predominância de pseudobulbos unifoliados, ainda que formas com duas folhas também possam ser encontradas, principalmente em plantas mais jovens.
Além disso, a Cattleya nobilior sempre emite sua haste floral diretamente a partir do rizoma da planta. No caso da Cattleya walkeriana, um pequeno pseudobulbo diferenciado é produzido pela orquídea, com o propósito específico de floração.
Como seu título real já denuncia, a Cattleya nobilior é nativa dos estados da região centro-oeste do Brasil, onde predomina o bioma denominado cerrado. Adicionalmente, esta espécie de orquídea também pode ser encontrada em alguns estados do norte e nordeste. Também há relatos de sua ocorrência em outros países, como Bolívia e Paraguai.
Em seu habitat de origem, a Cattleya nobilior está adaptada a climas mais quentes e secos, podendo sobreviver a períodos prolongados sem chuvas. Ao contrário de outras orquídeas epífitas, acostumadas aos ambientes mais úmidos e sombreados, no interior das florestas tropicais, a espécie nobilior está exposta a níveis mais intensos de luminosidade, uma vez que apenas conta com a proteção dos arbustos e pequenas árvores características do cerrado.
Esta é uma orquídea que precisa de estações do ano muito bem definidas, com outonos e invernos bastante secos, entremeados por primaveras e verões mais chuvosos. São estas mudanças climáticas que garantem o correto desenvolvimento da Cattleya nobilior, e que contribuem para o florescimento da planta no período correto, durante os meses mais frios do ano, de julho a agosto.
Neste contexto, é sempre importante adaptarmos nossas condições de cultivo de modo a mimetizarmos, da melhor forma possível, o clima no qual a orquídea se desenvolve, em seu ambiente nativo. No caso da Cattleya nobilior, as regas devem ser bem espaçadas e o excesso de umidade, principalmente nas raízes, deve ser evitado a todo custo. Temperaturas muito baixas e geadas também são prejudiciais ao desenvolvimento da planta.
As condições ideais para o cultivo da Cattleya nobilior podem ser mais facilmente atingidas se a orquídea for mantida com as raízes expostas, aderidas a um pedaço de madeira, casca de peroba, cachepot vazado, ou qualquer outro suporte que permita um modo de vida semelhante ao epífito.
Caso a preferência do cultivador recaia sobre os vasos, que são mais práticos, é importante escolher cuidadosamente a composição do substrato e o material do recipiente. Vasos de barro, com furos nas laterais, costumam ser mais indicados para o cultivo de orquídeas, já que permitem uma boa aeração às raízes, conferindo-lhes uma secagem mais rápida, entre uma rega e outra. Os vasos de plástico são mais leves, apropriados para grandes coleções, principalmente se forem suspensas ou mantidas em apartamentos. No entanto, este material tende a reter a umidade em torno das raízes por mais tempo, o que demanda um intervalo maior entre as irrigações.
Existe uma grande variedade de substratos próprios para o cultivo de orquídeas epífitas, como a Cattleya nobilior. O mais clássico é aquele composto por casca de pinus, carvão vegetal e fibra de coco, já vendido pronto em lojas especializadas em produtos para jardinagem. Aqui no apartamento, tenho obtido bons resultados com o substrato feito com casca de macadâmia, que permite uma boa aeração em torno das raízes e a retenção da umidade em níveis adequados, sem excessos.
A luminosidade para o cultivo da orquídea Cattleya nobilior deve ser intensa. Esta espécie tolera algumas horas de sol direto por dia, no início da manhã e no final da tarde. Nas horas mais quentes do dia, o ideal é que os raios solares sejam filtrados por uma tela de sombreamento, capaz de reter 50% da quantidade de luz incidente.
A correta exposição da Cattleya nobilior à luz solar, aliada a um período de estiagem prolongado, durante os meses de inverno, são fatores essenciais para que a orquídea produza boas florações. Além disso, uma adubação equilibrada e adequada às diferentes fases de vida da planta auxilia neste processo. Durante a etapa de desenvolvimento dos pseudobulbos, uma formulação de manutenção, com níveis proporcionais de macro e micronutrientes, deve ser fornecida. Nos meses que antecedem o surgimento das flores, um adubo específico para floração de orquídeas, do tipo NPK, mais rico em fósforo, pode ser aplicado.
Fazer mudas da orquídea Cattleya nobilior é um processo bastante tranquilo. Basta cortar o rizoma da planta em segmentos que contenham, no mínimo, três pseudobulbos cada. É importante salientar que a frente da orquídea irá produzir novos brotos mais facilmente. Já as partes traseiras dependerão da ativação de gemas dormentes, para que possam produzir novos pseudobulbos. Por outro lado, a propagação através de sementes é um processo mais complicado e demorado, normalmente realizado em condições laboratoriais bastante específicas.
A Cattleya nobilior é uma orquídea ideal para quem dispõe de pouco espaço para o cultivo de suas plantas. Seu porte compacto, aliado às suas florações perfumadas e generosas, são atributos cobiçados por quem mora em apartamentos. No entanto, é importante que estes locais disponham de uma boa fonte de luminosidade, preferencialmente janelas e varandas face norte.
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Por Sergio Oyama Junior
Bacharel em biologia pela Unicamp, com mestrado e doutorado em bioquímica pela Usp, escreve sobre o cultivo de orquídeas, suculentas, cactos e outras plantas dentro de casas e apartamentos.
São Paulo, SP, Brasil
Bacharel em biologia pela Unicamp, com mestrado e doutorado em bioquímica pela Usp, escreve sobre o cultivo de orquídeas, suculentas, cactos e outras plantas dentro de casas e apartamentos.
São Paulo, SP, Brasil