| Selenicereus validus | |
Este é mais um belíssimo cacto pendente cujo nome popular, cacto samambaia, pode gerar dúvidas e confusões. Afinal, obviamente, não se trata de uma cactácea que possua qualquer parentesco com as milenares pteridófitas. No universo das plantas suculentas, este é um fenômeno bastante comum. Frequentemente, temos representantes que recebem o apelido de cactos, sem, necessariamente, pertencerem a esta família botânica. O inverso também costuma acontecer, com cactáceas sendo apelidadas com termos que nos remetem a outras plantas não correlacionadas.
Aqui no blog, já apresentamos o popular cacto estrela, Stapelia hirsuta, que pertence à família Apocynaceae, não sendo um parente dos cactos verdadeiros. Também já falamos sobre o cacto orquídea, que é uma cactácea, de fato, mas não guarda parentesco algum com as orquidáceas. É por causa destas inconsistências de nomenclatura que devemos sempre ter em mente os nomes científicos das plantas, por mais complicados que possam parecer, para que tenhamos certeza da correta identificação das espécies que cultivamos.
No caso do cacto samambaia, ele responde oficialmente pelo nome Selenicereus validus. Como uma dica prática, sempre que detectarmos o termo Cereus na designação do gênero, com diversas variantes, saberemos se tratar de um membro da família Cactaceae. Um parente próximo do cacto samambaia é o Selenicereus anthonyanus, mais conhecido como cacto sianinha, por suas ornamentais estruturas pendentes em zigue-zague.
As diversas espécies pertencentes ao gênero Selenicereus são popularmente conhecidas pelo apelido moonlight cactus, ou moonlight cacti, no plural, devido às suas exuberantes e efêmeras florações noturnas. O cacto samambaia faz parte de um interessante grupo de cactáceas que apresentam um hábito epífito de vida, ou seja, elas se desenvolvem sobre outras plantas, geralmente aderidas aos troncos das árvores. Mais raramente, podemos encontrar exemplares vegetando sobre as rochas, como plantas litófitas ou rupícolas.
A espécie Selenicereus validus, à qual pertence o cacto samambaia, é originária de regiões mais áridas, porém sombreadas, ao sul do México. Sendo assim, os cactos pendentes, que vivem como plantas epífitas, não necessitam de longas horas de exposição à luz direta do sol, para que possam sobreviver e se desenvolver a contento. Em seus habitats de origem, estas plantas costumam estar parcialmente protegidas sob a meia sombra produzida pelas copas das árvores.
A característica mais marcante do cacto samambaia é, sem dúvida, sua floração. Esta espécie de cactácea é conhecida por produzir grandes flores brancas, com múltiplas pétalas, cercadas por sépalas em uma tonalidade creme. Elas desabrocham apenas quando há escuridão total, fechando-se ao amanhecer. Caso sejam polinizadas por insetos noturnos, estas exuberantes flores transformam-se em grandes frutos vermelhos, que lembram maçãs. Na verdade, as flores e frutos de diversas cactáceas, principalmente as pendentes e epífitas, guardam uma semelhança anatômica muito grande, entre si.
Os caules pendentes do cacto samambaia podem chegar a 40 cm de comprimento. Da mesma forma que acontece com outras cactáceas semelhantes, já apresentadas aqui no blog, como os rabos de macaco, gato e rato, os espinhos produzidos pelo Selenicereus validus não são muito agressivos. Ainda assim, como estas estruturas são um pouco mais rígidas, no caso do cacto samambaia, devemos manuseá-lo com um certo cuidado, para que acidentes não ocorram, principalmente nos procedimentos de replante e propagação. Também é aconselhável mantê-lo em um lugar alto, fora do alcance de crianças e pets.
Mesmo sem flores, o efeito ornamental de uma touceira bem formada de cacto samambaia é espetacular. Como ele se ramifica com facilidade, o vaso fica cheio rapidamente. Além disso, o charme dos caules pendentes é potencializado pelos diversos segmentos que vão surgindo, por todos os lados, tornando a planta muito maior, em termos de largura e comprimento. Estas estruturas também são úteis na propagação do Selenicereus validus. Ainda que este processo possa ser realizado através de sementes, o método mais rápido e prático de multiplicação do cacto samambaia é através de estacas retiradas da planta mãe. Além de se enraizarem com facilidade, elas produzem novos brotos em abundância. O único cuidado a ser tomando, durante este procedimento, é quanto à cicatrização dos caules cortados ao meio. É aconselhável deixar o segmento descansando, em um local seco e bem ventilado, para que o ferimento cicatrize, evitando assim que pragas ataquem a planta. A aplicação de canela em pó no corte ajuda a prevenir a contaminação por fungos e bactérias.
Como sempre, o substrato ideal para o cultivo do cacto samambaia é aquele bem aerado, pouco compactado, rapidamente drenável. No entanto, como este é um cacto de hábito epífito, não é aconselhável utilizar aquele substrato clássico para suculentas, que é mais arenoso. O ideal é fazer uma mistura de terra vegetal com casca de pinus, carvão vegetal e fibra de coco, o substrato usual para plantas epífitas. Uma boa proporção é terra e substrato em partes iguais, meio a meio. Matéria orgânica também é bem-vinda, neste caso, enriquecendo a composição do substrato.
Sendo mais comum que o vaso do cacto samambaia fique suspenso, é bom evitar o material de barro ou cerâmica, que é mais pesado. É importante que ele tenha uma boa camada de drenagem, com pedrisco no fundo e uma manta geotêxtil por cima, para evitar que as raízes entupam os furos.
As regas devem ser moderadas, mas o substrato não deve permanecer muito seco, por muito tempo. O ideal é que ele esteja sempre levemente úmido, sem ficar encharcado. O cacto samambaia beneficia-se de uma maior concentração de matéria orgânica, em seu substrato, ao contrário de outras cactáceas, adaptadas a solos pobres em nutrientes. Sendo assim, a adubação pode ser orgânica ou inorgânica, do tipo NPK, com níveis equilibrados destes elementos. Deve-se apenas evitar o excesso de adubação, que resultará em um acúmulo de sais minerais no substrato, prejudicando o desenvolvimento das raízes.
Outra diferença importante, no cultivo do Selenicereus validus, em relação aos seus parentes que gostam de torrar sob o sol pleno, é que a luminosidade requerida pelo cacto samambaia é bem menor. Esta planta aprecia um ambiente de meia sombra, com algumas horas de sol pela manhã ou no final da tarde. É uma condição semelhante àquela requerida pela maioria das orquídeas, em que há bastante luz, mas incidindo de forma filtrada ou indireta.
Bastante apreciado pelos colecionadores, o cacto samambaia é uma excelente escolha para quem não dispõe de ambientes muito ensolarados para o cultivo de suas plantas. Esta é uma excelente adição às urban jungles dentro de casas e apartamentos, fazendo uma bela composição em meio a outras plantas pendentes, em jardins verticais.
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Por Sergio Oyama Junior
Bacharel em biologia pela Unicamp, com mestrado e doutorado em bioquímica pela Usp, escreve sobre o cultivo de orquídeas, suculentas, cactos e outras plantas dentro de casas e apartamentos.
São Paulo, SP, Brasil
Bacharel em biologia pela Unicamp, com mestrado e doutorado em bioquímica pela Usp, escreve sobre o cultivo de orquídeas, suculentas, cactos e outras plantas dentro de casas e apartamentos.
São Paulo, SP, Brasil