| Catasetum pileatum | |
A orquídea Catasetum é, na verdade, uma das muitas integrantes de um vasto grupo de plantas intimamente relacionadas, pertencentes à subtribo Catasetinae, dentro da família Orchidaceae. Embora o gênero Catasetum seja o mais conhecido e cultivado, também são consideradas catasetíneas as diversas espécies dos gêneros Clowesia, Cycnoches, Galeandra e Mormodes, entre outros. São plantas diferenciadas, em vários aspectos, como veremos ao longo deste artigo.
O gênero Catasetum também é geneticamente próximo ao Cyrtopodium, que, no entanto, possui sua própria subtribo, Cyrtopodiinae. São todas orquídeas que ocorrem exclusivamente no continente americano, sendo distribuídas desde o sul da Flórida, passando pelo México, ocorrendo pelos países da América do Sul, até a Argentina. Há uma grande prevalência de espécies em território brasileiro. A orquídea Catasetum também é parente do popular Cymbidium, com o diferencial de este último gênero ser originário de países asiáticos.
Também são catasetíneas as inúmeras orquídeas híbridas, naturais ou produzidas pelo homem, envolvendo diferentes gêneros desta interessante subtribo. Neste contexto, um híbrido intergenérico complexo, digno de nota, é representado pela orquídea Fredclarkeara After Dark, resultante do cruzamento entre os gêneros Catasetum, Clowesia e Mormodes. Esta mistura, promovida artificialmente pelos cultivadores, resultou em uma série de clones com flores excepcionalmente escuras. Ainda que exista uma orquídea negra natural, tipicamente brasileira, a Maxillaria schunkeana, os diferentes meristemas da catasetínea Fredclarkeara são frequentemente comercializados como orquídeas negras. Vale lembrar que, em ambos os casos, trata-se de uma coloração em tons de castanho ou pinhão, bem fechada, que parece completamente negra, à primeira vista.
Outra belíssima orquídea negra desta categoria, bastante em voga atualmente, é a Monnierara Millennium Magic 'Witchcraft'. Neste caso, os gêneros envolvidos nos cruzamentos são Catasetum, Cycnoches e Mormodes. Trata-se de um dos híbridos intergenéricos de catasetíneas com as flores mais escuras que o homem já conseguiu produzir.
O diferencial mais marcante da orquídea Catasetum, no entanto, é a sua capacidade de produzir flores masculinas e femininas, em plantas distintas. Como bem sabemos, os membros da família Orchidaceae são conhecidos por suas flores hermafroditas, que evoluíram no sentido de fundir as estruturas femininas e masculinas em um único órgão, a coluna. Contrariando esta regra, o gênero Catasetum é famoso por apresentar flores unissexuais, que são bastante diferentes entre si, do ponto de vista morfológico. De modo geral, as flores femininas são esverdeadas, arredondadas, e bastante parecidas nas diferentes espécies de Catasetum. Por outro lado, de um modo análogo ao observado no mundo animal, em várias espécies de peixes e pássaros, as flores masculinas são mais vistosas e diferenciadas, apresentando as características anatômicas típicas de cada espécie.
Outro fato curioso, acerca do gênero Catasetum, é que uma mesma planta pode produzir flores femininas ou masculinas, dependendo das condições climáticas às quais é submetida. No entanto, raramente, uma mesma planta produz os dois gêneros de flores simultaneamente. Há, ainda, a possibilidade de flores hermafroditas surgirem, neste gênero de orquídea. Por serem mais coloridas e exuberantes, as flores masculinas são as mais desejadas pelos colecionadores. Infelizmente, as condições culturais responsáveis pelo surgimento deste gênero de flores não é completamente compreendido pelos cultivadores. O que se tem aprendido, do ponto de vista empírico, é que a orquídea responde aos diferentes níveis de luminosidade aos quais é submetida, produzindo flores masculinas ou femininas. Aparentemente, o sol pleno tem a capacidade de induzir a floração feminina, ao passo que ambientes mais sombreados induzem o surgimento de flores masculinas.
Além da beleza, a flor masculina da orquídea Catasetum apresenta a interessante habilidade de ejetar suas polínias em direção ao inseto que a visita, quando este inadvertidamente aciona uma espécie de gatilho. Este mecanismo único foi descrito por Charles Darwin, a partir do estudo da espécie Catasetum saccatum. Também foi este renomado estudioso o responsável por decifrar o enigma das plantas com flores masculinas e femininas. Por serem tão diferentes, em um primeiro momento, estas estruturas levaram os taxonomistas a considerá-las órgãos de espécies distintas.
É bem conhecido o fato de muitas orquídeas apresentarem um período de menor atividade metabólica, denominado dormência, em que o desenvolvimento de novos brotos e raízes cessa completamente, por alguns meses. No caso da orquídea Catasetum, estas duas fases de desenvolvimento são bem marcantes e perceptíveis. Durante os meses mais quentes do ano, na primavera e verão, o crescimento vegetativo ocorre com mais vigor. Nesta fase, o Catasetum precisa de bastante água, luminosidade e adubação, para que seus pseudobulbos possam crescer e armazenar energia para a floração. Após este evento, a orquídea perde completamente as folhas, entrando em um período de dormência, que coincide com as baixas temperaturas do outono e inverno. É importante que, durante este período, a frequência das regas seja drasticamente reduzida e a adubação interrompida.
Alguns cultivadores chegam ao extremo de retirar os pseudobulbos sem folhas do vaso, deixando-os com as raízes descobertas, até que novas brotações voltem a surgir. Desta forma, evita-se o apodrecimento destas estruturas devido ao eventual acúmulo de umidade, durante a fase de dormência da orquídea Catasetum. Ao final deste período, há uma boa oportunidade para fazer o reenvasamento da planta, que deve ocorrer no início da primavera, quando os primeiros sinais de enraizamento e brotação aparecerem.
Há alguns anos, estava na moda o cultivo de Catasetum em garrafas PET, cortadas pela metade. O sistema é semelhante ao de uma semi-hidroponia, em que se forma um pequeno reservatório de água no fundo do recipiente, capaz de suprir a orquídea com uma quantidade maior de água, necessária durante a fase mais acelerada de desenvolvimento vegetativo da planta. Furos laterais, próximos à base da garrafa, funcionam como pontos de drenagem, controlando o volume de líquido acumulado.
No entanto, as catasetíneas, de um modo geral, são orquídeas epífitas, podendo ser cultivadas como tal, normalmente. Podem ser usados vasos de plástico ou barro, preenchidos com uma grande variedade de substratos, tais como musgo sphagnum, casca de pinus, fibra de coco ou carvão vegetal. Existem misturas próprias para o cultivo de orquídeas epífitas, à venda em lojas especializadas e garden centers. O importante é que o material seja capaz de reter um certo nível de umidade, sem ficar encharcado. O substrato ideal é aquele que garante uma boa aeração e oxigenação das raízes, ao mesmo tempo em que impede a desidratação destas estruturas.
A adubação da orquídea Catasetum pode ser orgânica ou inorgânica, dependendo da preferência do cultivador. Existem formulações capazes de estimular o crescimento, manutenção ou floração da planta, com diferentes proporções dos macronutrientes NPK, nitrogênio, fósforo e potássio. Mais detalhes podem ser encontrados neste artigo sobre adubação de orquídeas.
Por fim, a orquídea Catasetum apresenta outra peculiaridade, no que diz respeito à sua multiplicação. De um modo geral, recomenda-se que as orquídeas simpodiais sejam separadas apenas quando grupos de três pseudobulbos estiverem disponíveis. No caso desta catasetínea, no entanto, existe a possibilidade de obtenção de novas mudas a partir de um único pseudobulbo. Por ser bastante vigorosa, a orquídea Catasetum apresenta reservas de água e nutrientes em abundância dentro de seus pseudobulbos, de modo que uma estrutura isolada dessas já consegue produzir uma nova muda.
O conjunto de peculiaridades, a exuberância das inflorescências, principalmente masculinas, e a imensa diversidade de espécies e híbridos disponíveis tornam a orquídea Catasetum um prato cheio para colecionadores e cultivadores. Ainda que seja uma planta rústica e resistente, que se multiplica com facilidade, o Catasetum não costuma ser recomendado para o orquidófilo iniciante, uma vez que apresenta particularidades no cultivo, relacionadas aos seus períodos de dormência e crescimento vegetativo, que podem não ser tão fáceis de serem dominadas, em um primeiro momento.
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Por Sergio Oyama Junior
Bacharel em biologia pela Unicamp, com mestrado e doutorado em bioquímica pela Usp, escreve sobre o cultivo de orquídeas, suculentas, cactos e outras plantas dentro de casas e apartamentos.
São Paulo, SP, Brasil
Bacharel em biologia pela Unicamp, com mestrado e doutorado em bioquímica pela Usp, escreve sobre o cultivo de orquídeas, suculentas, cactos e outras plantas dentro de casas e apartamentos.
São Paulo, SP, Brasil