| Epidendrum peperomia | |
Apesar de todas as orquídeas possuírem, basicamente, três pétalas e três
sépalas, a diversidade de formas e tamanhos resultantes desta combinação é
impressionante. Bem distante do arquétipo das clássicas orquídeas amplamente
comercializadas com fins ornamentais, a estrela do artigo de hoje aproxima-se
mais do universo da entomologia. O Epidendrum peperomia, também
conhecido como Epidendrum porpax, apresenta pequenas mas imponentes
flores com uma arquitetura que nos remete à aparência de um inseto.
Vista bem de perto, a flor desta orquídea também lembra uma rainha
medieval, com direito a uma grande saia rodada, manto e um esplendor na região
dorsal. O Epidendrum peperomia é uma daquelas orquídeas que, em um
primeiro momento, poucos dão atenção. No entanto, um olhar mais atento revela
detalhes de uma beleza exótica e ímpar. Eu, particularmente, fico
impressionado com o contraste de texturas das pétalas e sépala dorsal,
translúcidas, em relação ao labelo de aparência lustrosa, quase plástica.
Epidendrum peperomia |
Outra característica interessante desta espécie, que fica entre as classificações informais de uma micro orquídea e uma mini orquídea, graças ao tamanho intermediário de suas flores e porte vegetativo, é a sua capacidade de formar grandes touceiras, em forma de um denso tapete. Espécimes bem cultivados cobrem rapidamente toda a superfície do vaso, produzindo um espetáculo de rara beleza, quando floresce simultaneamente.
O Epidendrum peperomia não tem uma época de floração típica. Suas
flores podem surgir ao longo de todo o ano, muito embora haja uma maior
probabilidade de este fenômeno ocorrer durante os meses mais quentes, durante
a primavera e verão. Embora pequenas e delicadas, são flores de textura firme
e de duração relativamente longa, podendo ficar até um mês com um bom aspecto.
Esta espécie de orquídea foi descrita em 1854 pelo ornitólogo e botânico
alemão Heinrich Gustav Reichenbach. O Epidendrum peperomia é
originário das florestas situadas em regiões de altitudes elevadas, na
Colômbia e Venezuela. Trata-se de uma orquídea epífita, que não apresenta
pseudobulbos, apresentando um porte vegetativo rasteiro e bastante ramificado.
À medida que se desenvolve, a planta vai emitindo raízes aéreas ao longo de
seus caules, que auxiliam na adesão da orquídea aos troncos das árvores.
Epidendrum peperomia |
Apesar do nome científico, esta orquídea não tem relação com as clássicas peperômias, tão amplamente utilizadas na decoração de interiores, bastante em voga, atualmente. O Epidendrum peperomia, por incrível que possa parecer, é parente da imensa e resistente orquídea da praia, Epidendrum fulgens, já apresentada aqui no blog.
É bastante fácil perceber quando o Epidendrum peperomia vai florescer.
À medida que seu caule vai se elongando, novas folhas vão sendo produzidas, a
partir do ápice. Em um determinado momento, quando a orquídea atinge sua
maturidade, a produção de folhas cessa. Neste momento, uma estrutura especial
é produzida, a famigerada
espata floral. Trata-se de uma folha modificada que funciona como um invólucro protetor ao
redor dos botões florais em desenvolvimento. Como são translúcidas, as espatas
revelam a presença do inquilino em seu interior.
Epidendrum peperomia |
O Epidendrum peperomia pode ser cultivado em pedaços de madeira,
troncos ou cascas de árvores, como a maioria das orquídeas epífitas. Neste
caso, a umidade relativa do ar no ambiente de cultivo deve ser elevada,
ficando em níveis superiores aos 60%. Dentro de casas e apartamentos, ou em
localidades de clima muito quente e seco, convém optar pelo cultivo em vasos.
Neste caso, o ideal é optar pelo vaso de plástico, que possui a capacidade de
reter a umidade no substrato por um período mais prolongado.
O substrato clássico para o cultivo de orquídeas epífitas, composto por casca
de pinus, carvão vegetal e fibra de coco, pode ser utilizado no caso do
Epidendrum peperomia. Também nesta situação, a umidade no ambiente deve
ser elevada, já que o material tende a secar mais rapidamente. A utilização de
musgo sphagnum é recomendada para aqueles que têm problemas com
ambientes muito secos, como costuma ocorrer em interiores. Neste caso, também
vale a pena recorrer às bandejas umidificadoras, compostas por uma camada de
pedrisco, areia ou argila expandida, com uma lâmina de água no fundo. É
importante que a água não fique em contato permanente com o fundo do vaso.
A frequência das regas da orquídea Epidendrum peperomia vai variar
conforme o material no qual ela está plantada. Caso esteja montada em um
pedaço de madeira, por exemplo, as irrigações devem ser mais frequentes.
Quando a orquídea está acondicionada em um vaso com substrato, deve-se
aguardar até que o material esteja bem seco, para somente então regar
novamente. O peso do vaso ajuda a ter uma noção do nível de umidade do
substrato no interior do vaso. Quanto mais leve estiver o recipiente, mais
seco estará o substrato.
A luminosidade ideal para o cultivo do Epidendrum peperomia é aquela
abundante, mas difusa, indireta. Locais muito sombreados podem impedir que a
orquídea floresça. Esta espécie tolera algum sol direto no início da manhã ou
no final da tarde. Nas horas mais quentes do dia, o ideal é que a planta seja
protegida por uma tela de sombreamento. Dentro de casas e apartamentos, basta
posicionar a orquídea em um local próximo a uma janela com bastante
luminosidade, sem sol direto.
Por ser mais prática, costumo recorrer à adubação inorgânica, do tipo NPK,
aqui no apartamento. Alterno fórmulas para manutenção, com níveis equilibrados
destes macronutrientes, com adubos de floração, mais ricos em fósforo. Realizo
as aplicações semanalmente, utilizando metade da dose recomendada pelo
fabricante. No tocante à adubação, é sempre melhor aderir ao famoso lema do
'menos é mais'. No caso de o Epidendrum peperomia ser cultivado em
musgo sphagnum, uma atenção redobrada deve ser dada ao acúmulo de sais
minerais resultantes da adubação. É importante que o vaso seja lavado debaixo
de bastante água corrente, para retirar o excesso destas substâncias,
prejudiciais ao desenvolvimento das raízes.
Uma vez que a orquídea Epidendrum peperomia se ramifica com rapidez,
formando grandes tapetes sobre qualquer superfície, é bastante tranquilo
multiplicá-la, através da simples divisão das touceiras. Um bom parâmetro para
sabermos quando é hora de replantar esta orquídea é quando ela começa a querer
escapar do vaso, emitindo novas raízes e ramos para fora do recipiente. Neste
momento, podemos aproveitar para renovar o substrato e transferir o
Epidendrum peperomia para um vaso maior ou realizar a divisão da
touceira, multiplicando a planta.
Ainda que não seja grande, exuberante e colorida, como as clássicas orquídeas
que encontramos nas floriculturas, esta é uma espécie bastante apreciada pelos
colecionadores, graças ao exotismo de suas flores, sua facilidade de cultivo,
rapidez no desenvolvimento e generosas florações.
Publicado em: | Última atualização:
Por Sergio Oyama Junior
Bacharel em biologia pela Unicamp, com mestrado e doutorado em bioquímica pela Usp, escreve sobre o cultivo de orquídeas, suculentas, cactos e outras plantas dentro de casas e apartamentos.
São Paulo, SP, Brasil
Bacharel em biologia pela Unicamp, com mestrado e doutorado em bioquímica pela Usp, escreve sobre o cultivo de orquídeas, suculentas, cactos e outras plantas dentro de casas e apartamentos.
São Paulo, SP, Brasil