| Cereus peruvianus monstruosus | |
Não se trata de bullying. O apelido do cacto monstro encontra respaldo
em seu nome científico. No mundo botânico, uma mesma espécie pode apresentar
anatomias completamente distintas, causadas por mutações que levam ao
surgimento de formas anômalas de crescimento. A espécie
Cereus peruvianus é bastante didática, neste quesito. Em sua forma
tipo, ela é conhecida como cacto do Peru e apresenta a aparência padrão de uma
cactácea colunar. Quando algumas alterações ocorrem em seu DNA, esta mesma
espécie pode apresentar uma forma tortuosa, originando o
cacto parafuso, ou monstruosa, resultando no cacto monstro.
Para que estas diferentes variantes sejam identificadas
corretamente, o nome da forma é adicionado à terminologia científica. Sendo
assim, a forma tipo é simplesmente Cereus peruvianus. Já a nomenclatura
oficial do cacto parafuso fica alterada para
Cereus peruvianus tortuosus. Por fim, a estrela do artigo de hoje, o
cacto monstro, é conhecido no meio científico como
Cereus peruvianus monstruosus.
Diversos exemplos de cactos monstruosos já foram apresentados, aqui no blog.
Dentre eles, temos a
Opuntia monacantha monstruosa
e
Opuntia subulata monstruosa, que costumam fazer mais sucesso junto aos colecionadores do que suas formas
típicas. O
cacto cérebro, por exemplo, é bastante raro e cobiçado. No entanto, trata-se da forma
alterada de desenvolvimento de uma espécie bastante comum,
Mammillaria elongata.
Embora raro, o cacto monstro pode ser encontrado à venda, aqui no Brasil.
Dificilmente ele será visto nas bancas de lojas de jardinagem e
garden centers, mas é possível adquiri-lo junto a produtores e
colecionadores especializados em cactos e suculentas. Obviamente, quanto maior
o exemplar, mais elevado será o seu valor no mercado. Quando bem cultivado, ao
longo dos anos, o cacto monstro vai se transformando em um belíssimo cacto
colunar, alto e imponente, de formas abstratas e exóticas. Existe também uma
versão de menor porte, que não cresce muito em altura, sendo ideal para quem
dispõe de pouco espaço.
Como seu nome científico já denuncia, o Cereus peruvianus monstruosus é
originário da América do Sul, sendo o Peru o seu mais provável centro de
distribuição. Esta espécie também pode ser classificada como
Cereus repandus. Em sua forma original, este cacto costuma ser chamado
de Peruvian apple cactus, em países de língua inglesa, graças à
aparência de seus frutos vermelhos, que lembram maçãs. Consequentemente, o
cacto monstro, no exterior, vira monstrose apple cactus.
Infelizmente, é muito difícil que estes frutos surjam no ambiente doméstico de
cultivo. O mesmo vale para suas belas florações brancas, grandes e vistosas,
que costumam surgir nas noites dos dias mais quentes do ano, na primavera e
verão, quando o cacto monstro é cultivado em áreas externas, recebendo
bastante sol pleno. Dentro de casas e apartamentos, ficamos limitados a
admirar o aspecto vegetativo deste cacto escultural.
É importante que o cacto monstro receba o maior número de horas de sol direto
por dia, seja em ambientes internos ou externos. Aqui no apartamento, mantenho
vários cactos monstruosos dentro do meu quarto, bem próximos a uma janela face
oeste, que recebe todo o sol da tarde. Sob estas condições, eles apresentam um
bom desenvolvimento, crescendo e multiplicando-se com rapidez. No entanto,
dificilmente eles irão florescer ou frutificar, neste tipo de ambiente.
Varandas ensolaradas e floreiras externas nas janelas também são excelentes
locais para o cultivo do cacto monstro.
O importante é que ele seja plantado em um substrato apropriado, bem aerado e
rapidamente drenável. O acúmulo de água em torno das raízes do cacto monstro é
extremamente prejudicial, levando ao rápido apodrecimento destas estruturas,
alastrando-se por toda a planta. O ideal é comprar uma mistura pronta para o
cultivo de cactos e suculentas. Alternativamente, pode-se preparar uma versão
caseira, através da mistura de terra vegetal e areia grossa, em partes iguais.
Sempre lembrando que a areia da praia não é apropriada para este tipo de
plantio, já que a salinidade prejudica o desenvolvimento das raízes.
Por secar mais rapidamente, o vaso de barro é mais recomendado para o cultivo
do cacto monstro. Além disso, por ser mais pesado, este material ajuda a
estabilizar a planta, à medida que ela cresce. Caso o vaso se plástico seja
utilizado, convém reduzir a frequência das regas, já que este material ajuda a
conservar a umidade do solo por mais tempo. Qualquer que seja o material, é
essencial que ele tenha furos no fundo e uma boa camada de drenagem, que pode
ser composta por cacos de telha, brita ou argila expandida. Uma manta
geotêxtil por cima deste material impede que a areia escape pelos furos, além
de conter as raízes, impedindo que elas entupam o vaso.
O cacto monstro não pode ser plantado em um vaso muito grande, em relação ao
tamanho da planta. Quanto maior for o vaso, mais substrato precisará ser usado
para preenchê-lo, de modo que o material irá demandar mais tempo para secar
completamente. O vaso precisa ser justo, nem muito grande, nem muito pequeno.
De tempos em tempos, o cacto monstro precisa ser replantado para um recipiente
maior, já que seu desenvolvimento está atrelado ao espaço que as raízes têm
para crescer.
Como acontece com todas as cactáceas, a frequência das regas deve ser bem
espaçada, ocorrendo somente quando o substrato estiver completamente seco.
Basta fazer uma rápida verificação com a ponta do dedo. O peso do vaso também
ajuda na aferição do nível de umidade do solo. Quanto mais pesado estiver,
mais água haverá em seu interior.
Habituado à vida em ambientes áridos, sobre solos pobres em nutrientes, o
cacto monstro não necessita de uma grande quantidade de adubação para um bom
desenvolvimento. O solo não precisa ser rico em matéria orgânica. Uma adubação
do tipo NPK, de manutenção, é suficiente para garantir o crescimento desta
cactácea. Como dificilmente sua floração acontecerá, dentro de casas e
apartamentos, uma adubação mais rica em fósforo pode ser dispensada. É
importante garantir que não haja acúmulo de sais minerais resultantes do
excesso de adubo adicionado ao substrato. Regas mais generosas, de tempos em
tempos, ajudam a corrigir esta situação. Sempre lembrando que, depois disso, o
substrato deve permanecer vários dias sem irrigações, para secar bem.
Em resumo, esta planta exótica é monstruosa apenas no nome. O cacto monstro,
principalmente em sua versão mini, é a companhia ideal para quem não tem muito
jeito com plantas ou as cultiva dentro de casas e apartamentos. Tudo o que ele
precisa é de bastante luz para viver feliz.
Publicado em: | Última atualização:
Por Sergio Oyama Junior
Bacharel em biologia pela Unicamp, com mestrado e doutorado em bioquímica pela Usp, escreve sobre o cultivo de orquídeas, suculentas, cactos e outras plantas dentro de casas e apartamentos.
São Paulo, SP, Brasil
Bacharel em biologia pela Unicamp, com mestrado e doutorado em bioquímica pela Usp, escreve sobre o cultivo de orquídeas, suculentas, cactos e outras plantas dentro de casas e apartamentos.
São Paulo, SP, Brasil