| Chamaedorea elegans | |
Ainda que estejam completamente imunes à covid-19, as plantas também demandam
uma atenção especial, principalmente se tiverem sido adquiridas recentemente.
Antes que possam se juntar às meninas veteranas, é importante que todas as
plantas compradas em feiras e supermercados passem por um período de
quarentena. Além disso, devemos tomar os mesmos cuidados de higienização
adotados em relação a qualquer outra compra realizada fora do ambiente
doméstico. Ainda que flores, folhagens, cactos e suculentas não possam
transmitir doenças aos seres humanos, suas embalagens e vasos, geralmente
confeccionados em material plástico, podem estar contaminados.
Estudos indicam que o vírus causador da covid-19 pode continuar viável e
infectante por vários dias, em diferentes superfícies. Ainda mais preocupante
é o fato de que o plástico seja um dos materiais que permitem uma das
sobrevidas mais longas ao vírus, de aproximadamente 72 horas.
Portanto, ao recebermos um aparentemente inofensivo bouquet de flores
de corte, corremos o risco de entrarmos em contato com o vírus através dos
invólucros plásticos ao redor do ramalhete, que foi manipulado por diversas
outras pessoas, desde o produtor, passando pelo comerciante, até o entregador.
Para driblarmos esta possibilidade de contaminação, precisamos tratar este
belo presente como uma compra comum de supermercado. Assim como estamos
adquirindo o hábito de higienizar frutas, legumes, laticínios e todas as
embalagens, ao chegarmos do supermercado, ou ao recebermos as mercadorias
através do delivery, convém adotarmos os mesmos procedimentos com as
flores e plantas que compramos ou ganhamos.
Begônia vermelha |
No caso das flores de corte, todos os invólucros e enfeites, como laços, fitas
e celofane, devem ser higienizados com um pano umedecido em álcool 70%. No
caso de flores plantadas, folhagens, cactos e suculentas, os vasos, em sua
maioria feitos de plástico, também devem passar por este processo. Sempre
lembrando que há substâncias alternativas ao álcool 70%, como soluções de água
e detergente ou água sanitária. Não precisa ser nada muito caro ou elaborado
para neutralizar a ação infectante do vírus, bastam os procedimentos básicos
de higiene.
Caso as flores sejam colocadas em um vaso com água, é necessário que esta seja
trocada com frequência, para que não apodreça, atacada pela proliferação de
bactérias. É importante evitar que folhas e resíduos de tecidos vegetais
fiquem submersos nesta água, já que o material orgânico favorece o
desenvolvimento de fungos e bactérias, que causam a turbidez da água, fazendo
com que seu cheiro se torne desagradável. Existem produtos específicos para
serem diluídos nesta água, que são próprios para a conservação de flores de
corte, evitando que este turvamento ocorra. Em época de quarentena, com
isolamento social e o comércio fechado, pode ser impossível encontrar esta
substância. Neste caso, basta trocar a água do vaso todos os dias. Um pequeno
corte na base dos caules, na diagonal, ajuda a seiva a fluir melhor e mantém
as flores bonitas por mais tempo.
Eu confesso que não gosto de flores de corte, por serem estruturas que já
chegam em casa mortas. As hastes florais já estão condenadas ao fenecimento,
de modo que só nos resta contemplar o processo.
Já quando ganhamos um vaso plantado, sempre existe a possibilidade de uma nova floração ocorrer. Além disso, temos o privilégio de nos ocuparmos com os cuidados de um ser vivo, que demandará muito mais do que água e adubo. Neste caso, além da planta, ganhamos alguns meses de terapia. No entanto, neste contexto, alguns cuidados adicionais tornam-se necessários.
A quarentena não se aplica somente aos humanos, em tempos de coronavírus. Sempre que uma nova planta for comprada, é importante que seu vaso seja mantido em um local separado das demais integrantes da coleção. Este procedimento visa a segurança de todas as plantas da casa, que podem ser contaminadas por diversos agentes patológicos, que frequentemente chegam com a nova moradora.
Neste período de isolamento social, é importante observar se a planta não está trazendo consigo algumas pragas, como pulgões, ácaros ou cochonilhas. Também é aconselhável dar uma inspecionada no substrato, dentro do vaso, para verificar se não há formigas, caramujos ou lesmas. Geralmente, quando algum bichinho está escondido no vaso, podemos ver pequenas bolinhas escuras saindo pelos furos, no fundo do recipiente.
Infelizmente, as plantas também são acometidas por viroses, ainda que não sejam causadas pelo mesmo agente da covid-19. Geralmente, estas infecções são detectáveis apenas através de exames laboratoriais. No entanto, agrônomos experientes conseguem fazer um diagnóstico, baseados em padrões de manchas características nas folhas da planta acometida.
Submeter as plantas compradas recentemente a um período de quarentena é particularmente eficaz para quem cultiva suas meninas dentro de casas e apartamentos. Este tipo de ambiente interno é mais blindado contra o surgimento de determinadas pragas, como formigas, lesmas e caramujos, que costumam chegar através do solo. Uma infestação por estes organismos só é possível quando eles são trazidos de fora, por outros vasos contaminados.
Já pulgões e cochonilhas, que costumam chegar através do ar, atacam com
bastante frequência as plantas cultivadas em varandas de apartamento,
principalmente em andares mais altos, onde venta muito. Neste caso, o
principal cuidado a ser tomado é quanto à inspeção visual frequente, com a
erradicação manual precoce de qualquer sinal de início de infestação. Mesmo
neste caso, a quarentena é eficaz para evitar que estas pragas sejam
transferidas de uma planta para outra, através do vento ou do contato muito
próximo entre os exemplares da coleção.
Ironicamente, os mesmos princípios de distanciamento e isolamento social, aconselhados no combate à covid-19, são aplicáveis para a manutenção de uma boa condição fitossanitária de nossas plantas, no cultivo doméstico. Por ser um ambiente artificial, com baixos índices de umidade relativa do ar e luminosidade deficiente, o interior de casas e apartamentos torna-se mais inóspito aos seres vegetais, por serem mais sensíveis, de forma que qualquer infestação pode acabar levando estas plantas ao óbito, em um curto espaço de tempo.
Sendo assim, da mesma forma que o pequeno cuidado de higienizar o vaso plástico da planta recém-comprada pode nos proteger da infecção pelo coronavírus, o ato de colocá-la em quarentena pode, igualmente, salvar-lhe a vida. Neste contexto, tanto plantas como humanos beneficiam-se enormemente dos apregoados comportamentos desta nova era, de distanciamento e isolamento social. Além disso, plantas não são meros enfeites ou objetos de decoração. São seres vivos que conosco interagem, trazendo-nos calma, proporcionando-nos uma ocupação, além de, de quebra, purificarem o ar poluído que respiramos.
Já quando ganhamos um vaso plantado, sempre existe a possibilidade de uma nova floração ocorrer. Além disso, temos o privilégio de nos ocuparmos com os cuidados de um ser vivo, que demandará muito mais do que água e adubo. Neste caso, além da planta, ganhamos alguns meses de terapia. No entanto, neste contexto, alguns cuidados adicionais tornam-se necessários.
A quarentena não se aplica somente aos humanos, em tempos de coronavírus. Sempre que uma nova planta for comprada, é importante que seu vaso seja mantido em um local separado das demais integrantes da coleção. Este procedimento visa a segurança de todas as plantas da casa, que podem ser contaminadas por diversos agentes patológicos, que frequentemente chegam com a nova moradora.
Neste período de isolamento social, é importante observar se a planta não está trazendo consigo algumas pragas, como pulgões, ácaros ou cochonilhas. Também é aconselhável dar uma inspecionada no substrato, dentro do vaso, para verificar se não há formigas, caramujos ou lesmas. Geralmente, quando algum bichinho está escondido no vaso, podemos ver pequenas bolinhas escuras saindo pelos furos, no fundo do recipiente.
Infelizmente, as plantas também são acometidas por viroses, ainda que não sejam causadas pelo mesmo agente da covid-19. Geralmente, estas infecções são detectáveis apenas através de exames laboratoriais. No entanto, agrônomos experientes conseguem fazer um diagnóstico, baseados em padrões de manchas características nas folhas da planta acometida.
Submeter as plantas compradas recentemente a um período de quarentena é particularmente eficaz para quem cultiva suas meninas dentro de casas e apartamentos. Este tipo de ambiente interno é mais blindado contra o surgimento de determinadas pragas, como formigas, lesmas e caramujos, que costumam chegar através do solo. Uma infestação por estes organismos só é possível quando eles são trazidos de fora, por outros vasos contaminados.
Aeonium haworthii |
Ironicamente, os mesmos princípios de distanciamento e isolamento social, aconselhados no combate à covid-19, são aplicáveis para a manutenção de uma boa condição fitossanitária de nossas plantas, no cultivo doméstico. Por ser um ambiente artificial, com baixos índices de umidade relativa do ar e luminosidade deficiente, o interior de casas e apartamentos torna-se mais inóspito aos seres vegetais, por serem mais sensíveis, de forma que qualquer infestação pode acabar levando estas plantas ao óbito, em um curto espaço de tempo.
Sendo assim, da mesma forma que o pequeno cuidado de higienizar o vaso plástico da planta recém-comprada pode nos proteger da infecção pelo coronavírus, o ato de colocá-la em quarentena pode, igualmente, salvar-lhe a vida. Neste contexto, tanto plantas como humanos beneficiam-se enormemente dos apregoados comportamentos desta nova era, de distanciamento e isolamento social. Além disso, plantas não são meros enfeites ou objetos de decoração. São seres vivos que conosco interagem, trazendo-nos calma, proporcionando-nos uma ocupação, além de, de quebra, purificarem o ar poluído que respiramos.
Publicado em: | Última atualização:
Por Sergio Oyama Junior
Bacharel em biologia pela Unicamp, com mestrado e doutorado em bioquímica pela Usp, escreve sobre o cultivo de orquídeas, suculentas, cactos e outras plantas dentro de casas e apartamentos.
São Paulo, SP, Brasil
Bacharel em biologia pela Unicamp, com mestrado e doutorado em bioquímica pela Usp, escreve sobre o cultivo de orquídeas, suculentas, cactos e outras plantas dentro de casas e apartamentos.
São Paulo, SP, Brasil