| Polygonum capitatum | |
Esta é uma planta bela e delicada que, infelizmente, costuma ser
underappreciated, subvalorizada, ao menos aqui no Brasil. No
exterior, é comum vermos pessoas dispostas a comprar mudas ou sementes de
Polygonum capitatum, conhecido por aqui como tapete inglês. Já em
terras tupiniquins, o mais provável é que encontremos esta planta,
literalmente, na sarjeta. Ela costuma brotar espontaneamente em fendas nas
calçadas, frestas de muros, bem como canteiros e terrenos abandonados.
Apesar deste comportamento um tanto quanto invasivo, vale a pena prestar
mais atenção a esta folhagem com pequenos pompons rosados.
Como seu nome popular já indica, o tapete inglês é uma planta de porte
herbáceo e reptante, que se espalha horizontalmente, com bastante rapidez,
razão pela qual é frequentemente utilizada como forração, em vasos,
canteiros e jardins. Uma outra forma de cultivo do tapete inglês, menos
comum, é em vasos suspensos, onde a planta adquire o aspecto pendente.
Recentemente, encontrei aqui em São Paulo um muro, no topo do qual foi
plantada uma muda de Polygonum capitatum. A planta formou uma longa
cascata, em formato triangular, repleta de florzinhas globulares, como um
bouquet de noiva. Jamais imaginei que uma planta tão comum pudesse
ficar tão ornamental.
Além das delicadas inflorescências rosadas, em formato esférico, outra marca
registrada do tapete inglês fica por conta das folhas, em um tom bem fechado
de verde, que tende ao castanho, com uma típica marcação em 'V' ou
chevron, que se destaca em uma coloração mais avermelhada,
burgundy.
Ao contrário do que seu nome popular possa sugerir, a espécie
Polygonum capitatum, também conhecida como
Persicaria capitata, é exótica, originária de países asiáticos, tais
como China e Índia. A planta tapete inglês pertence à família botânica
Polygonaceae, a mesma do amor agarradinho, Antigonon leptopus. No exterior, o tapete inglês é conhecido como
pinkhead smartweed ou pinkhead knotweed, termos de difícil
tradução, mas que fazem referência à inflorescência em forma de uma cabeça
rosada. Também deriva desta característica o nome científico da espécie,
capitatum, termo referente à cabeça, em latim. Lembrando que a
estrutura que vemos como uma flor globosa é, na realidade, uma
inflorescência composta por inúmeras flores minúsculas. A palavra
weed, por sua vez, significa erva daninha, em inglês.
A planta tapete inglês pode ser cultivada sob sol pleno ou em ambientes de
meia sombra, em que apenas algumas horas de sol direto por dia são
disponibilizadas, geralmente no início da manhã ou no final da tarde. Como
uma regra geral, quanto mais luz a planta receber, mais abundantes serão
suas florações, que podem ocorrer ao longo de todo o ano. No entanto, é
comum que o surgimento de flores diminua durante os meses mais frios, no
inverno.
Em áreas externas, como quintais e jardins, recomenda-se que o tapete inglês
seja plantado em canteiros elevados, vasos ou jardineiras, de modo que o
crescimento da planta possa ser contido por uma barreira física. Caso
contrário, é grande a tendência de que o Polygonum capitatum se
espalhe por todos os lados, tornando-se uma praga de difícil controle.
Por este motivo, é interessante cultivar o tapete inglês em vasos, dentro de
casas e apartamentos, como uma planta de interiores, ainda que esta não seja
a situação mais usual. Particularmente, eu gosto da ideia de cultivar certas
plantas consideradas ervas daninhas como exemplares ornamentais. No caso do
tapete inglês, é importante que o vaso fique localizado em um local que
receba bastante luz. Floreiras na parte externa das janelas, além de sacadas
e coberturas, são lugares perfeitos para abrigar o
Polygonum capitatum.
Apesar de ser bastante resistente e crescer, literalmente, em qualquer
lugar, o tapete inglês aprecia um solo mais rico em matéria orgânica,
mantido sempre levemente úmido. Quando cultivado em vasos, é importante que
estes tenham um bom sistema de drenagem, com furos no fundo e uma camada de
cacos de telha, brita ou argila expandida. Sendo que os vasos de barro
tendem a secar mais rapidamente, o ideal é dar preferência aos recipientes
de plástico, que ajudam a conservar a umidade do solo por períodos mais
prolongados. Caso o substrato permaneça seco por muito tempo, a folhagem do
tapete inglês tende a desmaiar, da mesma forma que costumam fazer a
fitônia,
Fittonia albivenis, e o
lírio da paz,
Spathiphyllum wallisii, todos melodramáticos. No entanto, basta uma rega generosa para que estas
plantas se restabeleçam, em questão de horas.
Certa vez, fui coletando alguns ramos de tapete inglês pelas ruas da
vizinhança, com o intuito de fazer mudas. Para minha surpresa, ao chegar em
casa, elas praticamente haviam desaparecido, de tão murchas que ficaram. No
entanto, como que por milagre, ressurgiram das cinzas, após alguns minutos
em uma bacia com água. A propagação do tapete inglês é muito rápida e
tranquila. Estes ramos podados enraízam-se com bastante facilidade, gerando
novas plantas em pouco tempo.
Outra forma bastante frequente de multiplicação do
Polygonum capitatum é através de sementes. As inflorescências, quando
polinizadas, produzem milhares de sementes minúsculas, que são dispersas
pelo vento. Mesmo no cultivo doméstico, é muito comum que várias delas
germinem espontaneamente, nos vasos, canteiros e jardins. É por este motivo
que a planta se alastra com tanta facilidade.
Apesar de ser quase indestrutível, o tapete inglês não se dá muito bem com
os extremos de temperatura. Tanto o calor intenso como o frio congelante são
prejudiciais ao desenvolvimento da planta. Esta é uma espécie que se
desenvolve melhor em locais de cimas amenos, tipicamente subtropicais.
Talvez por esta razão, seja tão comum ver o tapete inglês pelas ruas de São
Paulo.
Uma vez que a espécie Polygonum capitatum é uma erva tradicionalmente
utilizada na medicina chinesa, ela não apresenta perigo a crianças e animais
de estimação, caso ingerida acidentalmente. Diversos estudos científicos têm
sido realizados com os extratos das folhas do tapete inglês, que contêm
substâncias com propriedades anti-inflamatórias e antimicrobianas. Ainda
assim, é sempre prudente evitar o consumo de plantas ornamentais que não
tenham uma clara indicação para tal, como é o caso das PANCs, plantas
alimentícias não convencionais. Ao que tudo indica, o tapete inglês não faz
parte desta categoria botânica.
Ainda que seja considerado mato por muitos, o tapete inglês é uma planta
ornamental pela qual eu tenho bastante apreço, por sua resistência,
impossibilidade de matar, facilidade de cultivo, além de suas delicadas
inflorescências em forma de esferas rosadas.
Publicado em: | Última atualização:
Por Sergio Oyama Junior
Bacharel em biologia pela Unicamp, com mestrado e doutorado em bioquímica pela Usp, escreve sobre o cultivo de orquídeas, suculentas, cactos e outras plantas dentro de casas e apartamentos.
São Paulo, SP, Brasil
Bacharel em biologia pela Unicamp, com mestrado e doutorado em bioquímica pela Usp, escreve sobre o cultivo de orquídeas, suculentas, cactos e outras plantas dentro de casas e apartamentos.
São Paulo, SP, Brasil