| Orquídeas Laelia | |
Ainda que não sejam tão lembradas quanto a clássica
Cattleya, as
orquídeas
pertencentes ao gênero Laelia são extremamente diversificadas e
enriquecem qualquer coleção, como podemos observar na foto de abertura deste
artigo, com algumas espécies e híbridos que já passaram aqui pelo
apartamento. É bem verdade que, após intermináveis discussões e mudanças
taxonômicas, poucos representantes sobreviveram neste gênero botânico, como
veremos mais adiante. Ainda assim, é grande o número de cultivadores que
adotam a nomenclatura clássica, através da qual a orquídea
Laelia sempre foi conhecida, ao longo dos últimos duzentos anos.
Em seus primórdios, as orquídeas Laelia foram descritas como
pertencentes a um gênero botânico muito próximo ao das orquídeas
Cattleya. Ainda no século XIX, em 1831, John Lindley estabeleceu o
gênero Laelia, caracterizado por orquídeas que possuíam oito
polínias, diferentemente das espécies de Cattleya, que apresentavam
quatro destas estruturas.
De acordo com esta concepção histórica, as orquídeas Laelia são
plantas que podem apresentar hábitos epífitos ou rupícolas, sendo
originárias de diversas regiões da América tropical, ocorrendo
predominantemente no Brasil e México.
Deste então, este gênero Laelia nunca mais teve paz. Os taxonomistas
vêm efetuando mudanças constantes, com idas e vindas, das diferentes
espécies originalmente consideradas Laelias, de tal forma que hoje
temos os gêneros Hadrolaelia, Brasilaelia, Microlaelia,
Hoffmannseggella, e sabe-se lá mais o quê. Outras tantas
Laelias agora são consideradas Cattleyas, incluindo uma das
mais icônicas orquídeas brasileiras, a
Laelia purpurata.
Para os propósitos deste artigo, que não tem uma pretensão científica,
seguiremos com a nomenclatura original, que atende perfeitamente às
necessidades de um simples jardineiro amador de apartamento. Estou velho
demais para assimilar tantas novidades e reviravoltas. Além disso, caso um
orquidário queira vender uma Hoffmannseggella longipes, ou uma
Cattleya purpurata, duvido muito que haverá alguém à procura de tais
termos.
O fato é que todas as orquídeas pertencentes à grande aliança
Cattleya, composta pelos gêneros Brassavola, Laelia,
Cattleya
e
Sophronitis, são bastante semelhantes entre si, do ponto de vista genético.
Consequentemente, inúmeros híbridos intergenéricos podem ser obtidos a
partir do cruzamento entre estas orquídeas. Muitos daqueles grandes híbridos
repolhudos são frutos deste tipo de miscigenação.
Por exemplo, a Brassolaeliocattleya, cuja abreviatura é Blc.,
é uma das mais frequentemente encontradas no mercado, geralmente
apresentando flores vistosas e de grande porte. Trata-se do fruto do
cruzamento entre os gêneros Brassavola, Laelia e
Cattleya.
Brassolaeliocattleya híbrida |
Ainda mais complexos, os híbridos representados pelo gênero
Potinara
descendem de Brassavola, Laelia, Cattleya e
Sophronitis. Geralmente, são plantas de porte vegetativo mais
compacto, com flores igualmente vistosas e de colorido exuberante.
Potinara Love Dressy 'Apple Pie' |
Já os híbridos Sophrolaeliocattleya são resultantes do cruzamento
entre Sophronitis, Laelia e Cattleya. Esta miscigenação
costuma produzir belíssimas
orquídeas vermelhas, também de porte relativamente compacto, tais como o híbrido
Tutankamen 'Pop', apresentado abaixo.
Sophrolaeliocattleya Tutankamen 'Pop' |
Estes são apenas alguns poucos exemplos de híbridos complexos envolvendo o
gênero botânico Laelia. São todas orquídeas cultivadas aqui no
apartamento, que costumo utilizar para ilustrar as matérias que apresento
aqui no blog. Seria fácil citar inúmeros outros exemplos, com fotos de
outros cultivadores, mas não acho ético fazê-lo.
As orquídeas do gênero Laelia também produzem belíssimos resultados
quando participam de cruzamentos mais simples, envolvendo apenas dois
gêneros botânicos. São os chamados híbridos primários, como os exemplos
que veremos a seguir.
Neste categoria de orquídeas híbridas, o representante mais conhecido é, sem dúvida, a Laeliocattleya Mini Purple. Esta orquídea descende da Laelia pumila e da famosa Cattleya walkeriana.
Neste categoria de orquídeas híbridas, o representante mais conhecido é, sem dúvida, a Laeliocattleya Mini Purple. Esta orquídea descende da Laelia pumila e da famosa Cattleya walkeriana.
Laeliocattleya Mini Purple |
Este híbrido de Laelia é uma orquídea de pequeno porte,
frequentemente chamada de
mini Cattleya. Trata-se de um belíssimo representante de um grupo informalmente
denominado de
mini orquídeas, que vem ganhando cada vez mais espaço no mercado, dada a limitação de
espaço que os cultivadores urbanos costumam enfrentar. Neste contexto, a
Laelia pumila desempenha um papel importante na miniaturização
dos híbridos envolvendo representantes da aliança Cattleya.
Bem menos conhecida, mas igualmente belíssima, apresentando um tom
diferenciado de rosado, é a Laeliocattleya Pink Favourite. Neste
caso, as espécies envolvidas no cruzamento são a Laelia milleri e
Cattleya walkeriana. Este também é um híbrido primário,
considerado uma mini Cattleya, de colorido único.
Laeliocattleya Pink Favourite |
O resultado é surpreendente porque a Laelia milleri é uma mini
orquídea vermelha. Sua contribuição, na aparência do híbrido acima, pode
ser observada pela padronagem do labelo, amarelo com veios avermelhados.
Ainda nesta temática das mini orquídeas, envolvendo o gênero
Laelia, temos diversos cruzamentos primários com a
Sophronitis coccinea. Também neste caso, os descendentes não são obrigatoriamente
vermelhos, como a espécie progenitora.
É o caso desta belíssima mini orquídea coral, Sophrolaelia Coral Orb, fruto do cruzamento entre a Laelia alaorii e Sophronitis coccinea.
É o caso desta belíssima mini orquídea coral, Sophrolaelia Coral Orb, fruto do cruzamento entre a Laelia alaorii e Sophronitis coccinea.
Sophrolaelia Coral Orb |
Mais conhecida entre os colecionadores, a Sophrolaelia Orpetii
é um híbrido primário descendente da Laelia pumila e
Sophronitis coccinea.
Sophrolaelia Orpetii |
Já a Sophrolaelia Marriotina é fruto do cruzamento entre
Laelia flava e Sophronitis coccinea. Ela herdou o
formato estrelado das flores características das
Laelias rupestres. Seu colorido alaranjado, com veios
avermelhados, é um espetáculo à parte.
Sophrolaelia Marriotiana |
Os três híbridos primários acima apresentados, embora sejam
descendentes da mini orquídea vermelha Sophronitis coccinea,
apresentam coloridos diferentes e variados, graças à miscigenação com
diferentes espécies do gênero Laelia.
Por fim, uma última miniatura descendente de Sophronitis e
Laelia, a Sophrolaelia Jinn, que herdou a rara coloração
vermelha característica das espécies progenitoras,
Sophronitis coccinea e Laelia milleri. Assim como o
exemplo anterior, este híbrido primário apresenta o característico
formato de estrela, típico das Laelias rupícolas.
Sophrolaelia Jinn |
Esta é a orquídea que acabou se tornando o logotipo do blog
Orquídeas no Apê. Trata-se de um belíssimo representante da espécie
Laelia milleri, que teve sua beleza exacerbada pelo
cruzamento com a Sophronitis coccinea.
A seguir, diminuindo a complexidade dos híbridos de
Laelia apresentados neste artigo, passaremos àqueles
exemplares que descendem de duas espécies diferentes dentro do mesmo
gênero. Tecnicamente, estas orquídeas também são consideradas
híbridos primários. É o caso da belíssima miniatura rosada abaixo,
fruto do cruzamento entre Laelia alaorii e
Laelia sincorana.
Laelia alaroii x Laelia sincorana |
Trata-se de uma orquídea que não é muito comum nas coleções. A tal
ponto que ela ainda não foi registrada com um nome oficial, no banco
de dados da Royal Horticultural Society, com sede em Londres.
A beleza deste híbrido reside na imensa variedade de formas e
colorações entre os descendentes de um mesmo cruzamento.
Outro híbrido primário, descendente apenas do gênero Laelia,
um pouco mais comum nas coleções, é fruto das espécies
Laelia pumila e Laelia jongheana. Este cruzamento
foi registrado como Laelia Adrienne. Trata-se de uma
belíssima miniatura de orquídea, cujas flores apresentam uma forte
influência da espécie jongheana, como podemos observar
abaixo.
Laelia Adrienne |
Finalmente, na nossa seleção de orquídeas do gênero Laelia,
que já passaram aqui pelo apartamento, chegamos às espécies puras.
Não são muitas, mas tenho um grande apreço por cada uma delas,
dada a sua simplicidade e beleza.
Em ordem alfabética, temos a
Laelia alaorii, espécie tipicamente brasileira, somente encontrada em uma
pequena porção de Mata Atlântica, no litoral da Bahia.
Laelia alaorii |
Trata-se de uma das minhas orquídeas preferidas, principalmente em
sua versão totalmente branca, considerada mais rara. O meu
exemplar apresenta discretos traços de lilás, em algumas porções
do labelo, não sendo considerada uma variedade completamente alba.
Trata-se de uma orquídea de porte vegetativo pequeno e flores
compactas, ideal para o cultivo em pequenos espaços. Sua única
exigência é quanto à umidade relativa do ar, que precisa ser
elevada.
Outra espécie de Laelia que está entre as minhas favoritas
é a
Laelia lucasiana, também conhecida como Laelia lucasiana. Juntamente com a
Laelia flava e Laelia milleri, apresentadas
anteriormente, esta orquídea é uma típica representante de hábito
rupícola, que vegeta sobre as rochas. Estas três espécies fazem
parte de uma categoria de orquídeas conhecidas como
Laelias rupícolas
ou Laelias rupestres.
Laelia lucasiana |
A característica marcante nas flores desta orquídea
Laelia é o exótico contraste entre as pétalas e sépalas,
na coloração púrpura arroxeada, com o amarelo gema do labelo. A
Laelia lucasiana é uma orquídea bastante resistente e de
fácil cultivo, desde que mantida em locais com bastante
luminosidade.
Por fim, outra espécie de Laelia que já passou aqui pelo
apartamento, tendo sido tema de um artigo no blog, é a
Laelia lundii. Esta é a menor das orquídeas do gênero Laelia que
já tive a oportunidade de ver florescer, aqui na varanda.
Laelia lundii |
O charme desta orquídea Laelia está na riqueza de
detalhes do labelo, que lembra aquele encontrado em uma espécie
que produz flores muito maiores, a Laelia crispa. A
espécie lundii, apresentada na foto acima, é
completamente miniaturizada, apresentando flores, folhas e
pseudobulbos bastante delicados.
Existe uma espécie de Laelia ainda menor, cujo nome
científico é Laelia liliputana, em referência à ilha
fictícia de Lilliput. Embora eu já a tenha cultivado, aqui no
apartamento, não tive a oportunidade de fotografá-la, nem de
presenciar sua floração. Sua passagem pela varanda foi
relâmpago, de tal forma que nem uma ponta de raiz foi produzida
sob os meus cuidados.
O cultivo da orquídea Laelia varia bastante, em função da espécie em questão. Basicamente, existem dois grandes grupos, formados pelas espécies epífitas e rupícolas.
As Laelias de hábito epífito apreciam uma luminosidade filtrada, que é a condição oferecida pelas copas das árvores, em seu habitat original. São orquídeas que apreciam elevados níveis de umidade relativa do ar, típicos das florestas tropicais. Estão incluídas nesta categoria as espécies Laelia purpurata, Laelia alaorii, Laelia sincorana, Laelia jongheana, entre outras. Nestes casos, os mesmos parâmetros utilizados no cultivo da orquídea Cattleya podem ser seguidos.
Já as Laelias rupícolas toleram o sol pleno, em seu habitat nativo. No entanto, no cultivo doméstico, costuma-se recomendar ambientes com intensa luminosidade, porém, filtrada por uma tela de sombreamento, capaz de reter 50% dos raios solares, principalmente durante as horas mais quentes do dia, no verão. Estas espécies rupestres, que incluem a Laelia milleri, Laelia flava e Laelia lucasiana, entre outras, são menos exigentes quanto à umidade relativa do ar, tolerando ambientes de cultivo mais secos. Ainda que suas raízes estejam adaptadas à vida sobre as pedras, estas orquídeas podem ser cultivadas em substrato próprio para orquídeas epífitas, geralmente composto por casca de pinus, carvão vegetal e fibra de coco. Há quem utilize brita pura ou pedra vulcânica, mas trata-se de um método mais apropriado para cultivadores experientes, já que as regas precisam ser mais constantes e melhor controladas.
Em ambos os casos, como uma regra geral, somente devemos regar a orquídea Laelia quando seu substrato estiver seco, independentemente da periodicidade. O melhor horário para este procedimento é durante as primeiras horas da manhã, de modo que as raízes tenham tempo, ao longo do dia, para que o excesso de umidade seja evaporado. O substrato úmido por longos períodos favorece a proliferação de fungos e bactérias, que podem debilitar as raízes, levando a planta a se desidratar. Frequentemente, este problema é desencadeado pelo excesso de regas. Outro fator que leva a este quadro é o uso do pratinho sob o vaso, que deve ser evitado.
O cultivo da orquídea Laelia varia bastante, em função da espécie em questão. Basicamente, existem dois grandes grupos, formados pelas espécies epífitas e rupícolas.
As Laelias de hábito epífito apreciam uma luminosidade filtrada, que é a condição oferecida pelas copas das árvores, em seu habitat original. São orquídeas que apreciam elevados níveis de umidade relativa do ar, típicos das florestas tropicais. Estão incluídas nesta categoria as espécies Laelia purpurata, Laelia alaorii, Laelia sincorana, Laelia jongheana, entre outras. Nestes casos, os mesmos parâmetros utilizados no cultivo da orquídea Cattleya podem ser seguidos.
Já as Laelias rupícolas toleram o sol pleno, em seu habitat nativo. No entanto, no cultivo doméstico, costuma-se recomendar ambientes com intensa luminosidade, porém, filtrada por uma tela de sombreamento, capaz de reter 50% dos raios solares, principalmente durante as horas mais quentes do dia, no verão. Estas espécies rupestres, que incluem a Laelia milleri, Laelia flava e Laelia lucasiana, entre outras, são menos exigentes quanto à umidade relativa do ar, tolerando ambientes de cultivo mais secos. Ainda que suas raízes estejam adaptadas à vida sobre as pedras, estas orquídeas podem ser cultivadas em substrato próprio para orquídeas epífitas, geralmente composto por casca de pinus, carvão vegetal e fibra de coco. Há quem utilize brita pura ou pedra vulcânica, mas trata-se de um método mais apropriado para cultivadores experientes, já que as regas precisam ser mais constantes e melhor controladas.
Em ambos os casos, como uma regra geral, somente devemos regar a orquídea Laelia quando seu substrato estiver seco, independentemente da periodicidade. O melhor horário para este procedimento é durante as primeiras horas da manhã, de modo que as raízes tenham tempo, ao longo do dia, para que o excesso de umidade seja evaporado. O substrato úmido por longos períodos favorece a proliferação de fungos e bactérias, que podem debilitar as raízes, levando a planta a se desidratar. Frequentemente, este problema é desencadeado pelo excesso de regas. Outro fator que leva a este quadro é o uso do pratinho sob o vaso, que deve ser evitado.
De modo geral, embora sejam bastante resistentes, as orquídeas
rupícolas são aquelas que apresentam um cultivo mais desafiador.
As espécies de Laelia que possuem um hábito vegetativo
epífito podem ser cultivadas como a grande maioria das orquídeas
desta categoria, sem maiores problemas.
Um fator importante, para que a orquídea Laelia floresça, é a adubação. Embora muitos cultivadores prefiram a adubação orgânica, eu costumo utilizar formulações industrializadas próprias para o cultivo de orquídeas, por serem mais práticas e facilmente encontradas no mercado. Aqui no apartamento, costumo alternar fórmulas de manutenção, que apresentam níveis equilibrados de NPK, com macro e micronutrientes, com adubos específicos para floração, que são mais ricos em fósforo, a letra P do NPK. Geralmente, faço aplicações semanais, utilizando metade da dose recomendada pelos fabricantes.
Em resumo, tanto as espécies de Laelia, como seus inúmeros híbridos, são garantia de belas e exuberantes florações, nas mais diferentes cores e formatos. Quando fornecidos os níveis adequados de luminosidade e umidade relativa do ar, o cultivo destas orquídeas é relativamente tranquilo, além de bastante recompensador.
Um fator importante, para que a orquídea Laelia floresça, é a adubação. Embora muitos cultivadores prefiram a adubação orgânica, eu costumo utilizar formulações industrializadas próprias para o cultivo de orquídeas, por serem mais práticas e facilmente encontradas no mercado. Aqui no apartamento, costumo alternar fórmulas de manutenção, que apresentam níveis equilibrados de NPK, com macro e micronutrientes, com adubos específicos para floração, que são mais ricos em fósforo, a letra P do NPK. Geralmente, faço aplicações semanais, utilizando metade da dose recomendada pelos fabricantes.
Em resumo, tanto as espécies de Laelia, como seus inúmeros híbridos, são garantia de belas e exuberantes florações, nas mais diferentes cores e formatos. Quando fornecidos os níveis adequados de luminosidade e umidade relativa do ar, o cultivo destas orquídeas é relativamente tranquilo, além de bastante recompensador.
Publicado em: | Última atualização:
Por Sergio Oyama Junior
Bacharel em biologia pela Unicamp, com mestrado e doutorado em bioquímica pela Usp, escreve sobre o cultivo de orquídeas, suculentas, cactos e outras plantas dentro de casas e apartamentos.
São Paulo, SP, Brasil
Bacharel em biologia pela Unicamp, com mestrado e doutorado em bioquímica pela Usp, escreve sobre o cultivo de orquídeas, suculentas, cactos e outras plantas dentro de casas e apartamentos.
São Paulo, SP, Brasil