Orquídeas no Apê

Blog sobre o Cultivo de Plantas
dentro de Casas e Apartamentos

Sergio Oyama Junior


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Orquídea Laelia


Orquídeas Laelia
| Orquídeas Laelia |

Ainda que não sejam tão lembradas quanto a clássica Cattleya, as orquídeas pertencentes ao gênero Laelia são extremamente diversificadas e enriquecem qualquer coleção, como podemos observar na foto de abertura deste artigo, com algumas espécies e híbridos que já passaram aqui pelo apartamento. É bem verdade que, após intermináveis discussões e mudanças taxonômicas, poucos representantes sobreviveram neste gênero botânico, como veremos mais adiante. Ainda assim, é grande o número de cultivadores que adotam a nomenclatura clássica, através da qual a orquídea Laelia sempre foi conhecida, ao longo dos últimos duzentos anos.

Em seus primórdios, as orquídeas Laelia foram descritas como pertencentes a um gênero botânico muito próximo ao das orquídeas Cattleya. Ainda no século XIX, em 1831, John Lindley estabeleceu o gênero Laelia, caracterizado por orquídeas que possuíam oito polínias, diferentemente das espécies de Cattleya, que apresentavam quatro destas estruturas.


De acordo com esta concepção histórica, as orquídeas Laelia são plantas que podem apresentar hábitos epífitos ou rupícolas, sendo originárias de diversas regiões da América tropical, ocorrendo predominantemente no Brasil e México.

Deste então, este gênero Laelia nunca mais teve paz. Os taxonomistas vêm efetuando mudanças constantes, com idas e vindas, das diferentes espécies originalmente consideradas Laelias, de tal forma que hoje temos os gêneros Hadrolaelia, Brasilaelia, Microlaelia, Hoffmannseggella, e sabe-se lá mais o quê. Outras tantas Laelias agora são consideradas Cattleyas, incluindo uma das mais icônicas orquídeas brasileiras, a Laelia purpurata.

Para os propósitos deste artigo, que não tem uma pretensão científica, seguiremos com a nomenclatura original, que atende perfeitamente às necessidades de um simples jardineiro amador de apartamento. Estou velho demais para assimilar tantas novidades e reviravoltas. Além disso, caso um orquidário queira vender uma Hoffmannseggella longipes, ou uma Cattleya purpurata, duvido muito que haverá alguém à procura de tais termos.

O fato é que todas as orquídeas pertencentes à grande aliança Cattleya, composta pelos gêneros Brassavola, Laelia, Cattleya e Sophronitis, são bastante semelhantes entre si, do ponto de vista genético. Consequentemente, inúmeros híbridos intergenéricos podem ser obtidos a partir do cruzamento entre estas orquídeas. Muitos daqueles grandes híbridos repolhudos são frutos deste tipo de miscigenação.


Por exemplo, a Brassolaeliocattleya, cuja abreviatura é Blc., é uma das mais frequentemente encontradas no mercado, geralmente apresentando flores vistosas e de grande porte. Trata-se do fruto do cruzamento entre os gêneros Brassavola, Laelia e Cattleya.

Orquídea Brassolaeliocattleya híbrida
Brassolaeliocattleya híbrida

Ainda mais complexos, os híbridos representados pelo gênero Potinara descendem de Brassavola, Laelia, Cattleya e Sophronitis. Geralmente, são plantas de porte vegetativo mais compacto, com flores igualmente vistosas e de colorido exuberante.

Orquídea Potinara Love Dressy 'Apple Pie'
Potinara Love Dressy 'Apple Pie'

Já os híbridos Sophrolaeliocattleya são resultantes do cruzamento entre Sophronitis, Laelia e Cattleya. Esta miscigenação costuma produzir belíssimas orquídeas vermelhas, também de porte relativamente compacto, tais como o híbrido Tutankamen 'Pop', apresentado abaixo.

Orquídea Sophrolaeliocattleya Tutankamen 'Pop'
Sophrolaeliocattleya Tutankamen 'Pop'

Estes são apenas alguns poucos exemplos de híbridos complexos envolvendo o gênero botânico Laelia. São todas orquídeas cultivadas aqui no apartamento, que costumo utilizar para ilustrar as matérias que apresento aqui no blog. Seria fácil citar inúmeros outros exemplos, com fotos de outros cultivadores, mas não acho ético fazê-lo.

As orquídeas do gênero Laelia também produzem belíssimos resultados quando participam de cruzamentos mais simples, envolvendo apenas dois gêneros botânicos. São os chamados híbridos primários, como os exemplos que veremos a seguir.

Neste categoria de orquídeas híbridas, o representante mais conhecido é, sem dúvida, a Laeliocattleya Mini Purple. Esta orquídea descende da Laelia pumila e da famosa Cattleya walkeriana.

Orquídea Laeliocattleya Mini Purple
Laeliocattleya Mini Purple

Este híbrido de Laelia é uma orquídea de pequeno porte, frequentemente chamada de mini Cattleya. Trata-se de um belíssimo representante de um grupo informalmente denominado de mini orquídeas, que vem ganhando cada vez mais espaço no mercado, dada a limitação de espaço que os cultivadores urbanos costumam enfrentar. Neste contexto, a Laelia pumila desempenha um papel importante na miniaturização dos híbridos envolvendo representantes da aliança Cattleya.


Bem menos conhecida, mas igualmente belíssima, apresentando um tom diferenciado de rosado, é a Laeliocattleya Pink Favourite. Neste caso, as espécies envolvidas no cruzamento são a Laelia milleri e Cattleya walkeriana. Este também é um híbrido primário, considerado uma mini Cattleya, de colorido único.

Orquídea Laeliocattleya Pink Favourite
Laeliocattleya Pink Favourite

O resultado é surpreendente porque a Laelia milleri é uma mini orquídea vermelha. Sua contribuição, na aparência do híbrido acima, pode ser observada pela padronagem do labelo, amarelo com veios avermelhados.

Ainda nesta temática das mini orquídeas, envolvendo o gênero Laelia, temos diversos cruzamentos primários com a Sophronitis coccinea. Também neste caso, os descendentes não são obrigatoriamente vermelhos, como a espécie progenitora.

É o caso desta belíssima mini orquídea coral, Sophrolaelia Coral Orb, fruto do cruzamento entre a Laelia alaorii e Sophronitis coccinea.

Orquídea Sophrolaelia Coral Orb
Sophrolaelia Coral Orb

Mais conhecida entre os colecionadores, a Sophrolaelia Orpetii é um híbrido primário descendente da Laelia pumila e Sophronitis coccinea.

Orquídea Sophrolaelia Orpetii
Sophrolaelia Orpetii

Já a Sophrolaelia Marriotina é fruto do cruzamento entre Laelia flava e Sophronitis coccinea. Ela herdou o formato estrelado das flores características das Laelias rupestres. Seu colorido alaranjado, com veios avermelhados, é um espetáculo à parte.

Orquídea Sophrolaelia Marriotiana
Sophrolaelia Marriotiana

Os três híbridos primários acima apresentados, embora sejam descendentes da mini orquídea vermelha Sophronitis coccinea, apresentam coloridos diferentes e variados, graças à miscigenação com diferentes espécies do gênero Laelia.

Por fim, uma última miniatura descendente de Sophronitis e Laelia, a Sophrolaelia Jinn, que herdou a rara coloração vermelha característica das espécies progenitoras, Sophronitis coccinea e Laelia milleri. Assim como o exemplo anterior, este híbrido primário apresenta o característico formato de estrela, típico das Laelias rupícolas.

Orquídea Sophrolaelia Jinn
Sophrolaelia Jinn

Esta é a orquídea que acabou se tornando o logotipo do blog Orquídeas no Apê. Trata-se de um belíssimo representante da espécie Laelia milleri, que teve sua beleza exacerbada pelo cruzamento com a Sophronitis coccinea.

A seguir, diminuindo a complexidade dos híbridos de Laelia apresentados neste artigo, passaremos àqueles exemplares que descendem de duas espécies diferentes dentro do mesmo gênero. Tecnicamente, estas orquídeas também são consideradas híbridos primários. É o caso da belíssima miniatura rosada abaixo, fruto do cruzamento entre Laelia alaorii e Laelia sincorana.

Orquídea Laelia alaroii x Laelia sincorana
Laelia alaroii x Laelia sincorana

Trata-se de uma orquídea que não é muito comum nas coleções. A tal ponto que ela ainda não foi registrada com um nome oficial, no banco de dados da Royal Horticultural Society, com sede em Londres. A beleza deste híbrido reside na imensa variedade de formas e colorações entre os descendentes de um mesmo cruzamento.


Outro híbrido primário, descendente apenas do gênero Laelia, um pouco mais comum nas coleções, é fruto das espécies Laelia pumila e Laelia jongheana. Este cruzamento foi registrado como Laelia Adrienne. Trata-se de uma belíssima miniatura de orquídea, cujas flores apresentam uma forte influência da espécie jongheana, como podemos observar abaixo.

Orquídea Laelia Adrienne
Laelia Adrienne

Finalmente, na nossa seleção de orquídeas do gênero Laelia, que já passaram aqui pelo apartamento, chegamos às espécies puras. Não são muitas, mas tenho um grande apreço por cada uma delas, dada a sua simplicidade e beleza.

Em ordem alfabética, temos a Laelia alaorii, espécie tipicamente brasileira, somente encontrada em uma pequena porção de Mata Atlântica, no litoral da Bahia.

Orquídea Laelia alaorii
Laelia alaorii

Trata-se de uma das minhas orquídeas preferidas, principalmente em sua versão totalmente branca, considerada mais rara. O meu exemplar apresenta discretos traços de lilás, em algumas porções do labelo, não sendo considerada uma variedade completamente alba. Trata-se de uma orquídea de porte vegetativo pequeno e flores compactas, ideal para o cultivo em pequenos espaços. Sua única exigência é quanto à umidade relativa do ar, que precisa ser elevada.

Outra espécie de Laelia que está entre as minhas favoritas é a Laelia lucasiana, também conhecida como Laelia lucasiana. Juntamente com a Laelia flava e Laelia milleri, apresentadas anteriormente, esta orquídea é uma típica representante de hábito rupícola, que vegeta sobre as rochas. Estas três espécies fazem parte de uma categoria de orquídeas conhecidas como Laelias rupícolas ou Laelias rupestres.

Orquídea Laelia lucasiana
Laelia lucasiana

A característica marcante nas flores desta orquídea Laelia é o exótico contraste entre as pétalas e sépalas, na coloração púrpura arroxeada, com o amarelo gema do labelo. A Laelia lucasiana é uma orquídea bastante resistente e de fácil cultivo, desde que mantida em locais com bastante luminosidade.

Por fim, outra espécie de Laelia que já passou aqui pelo apartamento, tendo sido tema de um artigo no blog, é a Laelia lundii. Esta é a menor das orquídeas do gênero Laelia que já tive a oportunidade de ver florescer, aqui na varanda.

Orquídea Laelia lundii
Laelia lundii

O charme desta orquídea Laelia está na riqueza de detalhes do labelo, que lembra aquele encontrado em uma espécie que produz flores muito maiores, a Laelia crispa. A espécie lundii, apresentada na foto acima, é completamente miniaturizada, apresentando flores, folhas e pseudobulbos bastante delicados.


Existe uma espécie de Laelia ainda menor, cujo nome científico é Laelia liliputana, em referência à ilha fictícia de Lilliput. Embora eu já a tenha cultivado, aqui no apartamento, não tive a oportunidade de fotografá-la, nem de presenciar sua floração. Sua passagem pela varanda foi relâmpago, de tal forma que nem uma ponta de raiz foi produzida sob os meus cuidados.

O cultivo da orquídea Laelia varia bastante, em função da espécie em questão. Basicamente, existem dois grandes grupos, formados pelas espécies epífitas e rupícolas.

As Laelias de hábito epífito apreciam uma luminosidade filtrada, que é a condição oferecida pelas copas das árvores, em seu habitat original. São orquídeas que apreciam elevados níveis de umidade relativa do ar, típicos das florestas tropicais. Estão incluídas nesta categoria as espécies Laelia purpurata, Laelia alaorii, Laelia sincorana, Laelia jongheana, entre outras. Nestes casos, os mesmos parâmetros utilizados no cultivo da orquídea Cattleya podem ser seguidos.

Já as Laelias rupícolas toleram o sol pleno, em seu habitat nativo. No entanto, no cultivo doméstico, costuma-se recomendar ambientes com intensa luminosidade, porém, filtrada por uma tela de sombreamento, capaz de reter 50% dos raios solares, principalmente durante as horas mais quentes do dia, no verão. Estas espécies rupestres, que incluem a Laelia milleri, Laelia flava e Laelia lucasiana, entre outras, são menos exigentes quanto à umidade relativa do ar, tolerando ambientes de cultivo mais secos. Ainda que suas raízes estejam adaptadas à vida sobre as pedras, estas orquídeas podem ser cultivadas em substrato próprio para orquídeas epífitas, geralmente composto por casca de pinus, carvão vegetal e fibra de coco. Há quem utilize brita pura ou pedra vulcânica, mas trata-se de um método mais apropriado para cultivadores experientes, já que as regas precisam ser mais constantes e melhor controladas.

Em ambos os casos, como uma regra geral, somente devemos regar a orquídea Laelia quando seu substrato estiver seco, independentemente da periodicidade. O melhor horário para este procedimento é durante as primeiras horas da manhã, de modo que as raízes tenham tempo, ao longo do dia, para que o excesso de umidade seja evaporado. O substrato úmido por longos períodos favorece a proliferação de fungos e bactérias, que podem debilitar as raízes, levando a planta a se desidratar. Frequentemente, este problema é desencadeado pelo excesso de regas. Outro fator que leva a este quadro é o uso do pratinho sob o vaso, que deve ser evitado.


De modo geral, embora sejam bastante resistentes, as orquídeas rupícolas são aquelas que apresentam um cultivo mais desafiador. As espécies de Laelia que possuem um hábito vegetativo epífito podem ser cultivadas como a grande maioria das orquídeas desta categoria, sem maiores problemas.

Um fator importante, para que a orquídea Laelia floresça, é a adubação. Embora muitos cultivadores prefiram a adubação orgânica, eu costumo utilizar formulações industrializadas próprias para o cultivo de orquídeas, por serem mais práticas e facilmente encontradas no mercado. Aqui no apartamento, costumo alternar fórmulas de manutenção, que apresentam níveis equilibrados de NPK, com macro e micronutrientes, com adubos específicos para floração, que são mais ricos em fósforo, a letra P do NPK. Geralmente, faço aplicações semanais, utilizando metade da dose recomendada pelos fabricantes.

Em resumo, tanto as espécies de Laelia, como seus inúmeros híbridos, são garantia de belas e exuberantes florações, nas mais diferentes cores e formatos. Quando fornecidos os níveis adequados de luminosidade e umidade relativa do ar, o cultivo destas orquídeas é relativamente tranquilo, além de bastante recompensador.

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Bacharel em biologia pela Unicamp, com mestrado e doutorado em bioquímica pela Usp, escreve sobre o cultivo de orquídeas, suculentas, cactos e outras plantas dentro de casas e apartamentos.

São Paulo, SP, Brasil