| Orquídeas no Apê | |
Não é tão comum encontrarmos pessoas que se dedicam exclusivamente ao cultivo
de uma família botânica. Por algum motivo, as orquidáceas vêm fascinando a
humanidade, desde os seus primórdios. Poucas plantas têm tantas associações e
exposições totalmente direcionadas à sua divulgação e disseminação do
conhecimento acerca de seu cultivo, como acontece com as orquídeas. Ao longo
de todo o ano, podemos encontrar, nas mais remotas localidades, eventos que
têm a orquídea como estrela principal. Trata-se de um fenômeno que atravessa
os séculos.
As Orquídeas na História
O primeiro registro histórico de uma orquídea foi feito por Teofrasto, filósofo grego que foi discípulo de Aristóteles. Ele é, até hoje, considerado o pai da botânica. Há cerca de três séculos antes de Cristo, Teofrasto descreveu em sua obra, Historia Plantarum, a primeira orquídea de que se tem notícia. Tratava-se de uma espécie terrestre, do gênero Orchis. Esta é uma palavra latina derivada do grego órkhis, que significa testículos. O nome inusitado foi dado porque a planta possuía dois tubérculos arredondados, subterrâneos, que se assemelhavam ao órgão da anatomia masculina.
Por esta razão, desde a antiguidade, as orquídeas já eram associadas a
propriedades afrodisíacas. Além disso, seus extratos eram utilizados em poções
que prometiam aumentar a fertilidade e virilidade de quem as ingerisse.
Durante a Era Vitoriana, as orquídeas simbolizavam poder e riqueza, uma vez que eram necessárias longas viagem de navio, a continentes remotos, para que estas plantas pudessem ser introduzidas em solo europeu, acondicionadas em estufas climatizadas, uma vez que a maioria era proveniente de regiões de clima tropical. Ter uma coleção de orquídeas, naquela época, era uma prova de status social, reservada à nobreza europeia.
Já no Japão Feudal, apenas os samurais mais destemidos possuíam uma orquídea rara, Neofinetia falcata, conhecida como orquídea do samurai. Devido às regiões montanhosas e de difícil acesso nas quais esta orquídea vivia, eram necessárias longas e arriscadas viagens para a coleta de alguns exemplares. O feito era tamanho que os samurais possuidores desta orquídea especial a exibiam em pequenas gaiolas douradas. Nesta época, a orquídea representava bravura e coragem.
Talvez devido a esta sucessão de curiosidades históricas, a orquídea possua uma interessante ligação com o universo masculino. Não por acaso, durante muitos anos, os homens foram maioria nas associações destinadas à troca de informações sobre o cultivo de orquídeas. Apenas recentemente estamos tendo o despontar de figuras femininas de peso neste cenário, como podemos observar na nossa seleção de especialistas entrevistados aqui no blog.
Durante a Era Vitoriana, as orquídeas simbolizavam poder e riqueza, uma vez que eram necessárias longas viagem de navio, a continentes remotos, para que estas plantas pudessem ser introduzidas em solo europeu, acondicionadas em estufas climatizadas, uma vez que a maioria era proveniente de regiões de clima tropical. Ter uma coleção de orquídeas, naquela época, era uma prova de status social, reservada à nobreza europeia.
Já no Japão Feudal, apenas os samurais mais destemidos possuíam uma orquídea rara, Neofinetia falcata, conhecida como orquídea do samurai. Devido às regiões montanhosas e de difícil acesso nas quais esta orquídea vivia, eram necessárias longas e arriscadas viagens para a coleta de alguns exemplares. O feito era tamanho que os samurais possuidores desta orquídea especial a exibiam em pequenas gaiolas douradas. Nesta época, a orquídea representava bravura e coragem.
Talvez devido a esta sucessão de curiosidades históricas, a orquídea possua uma interessante ligação com o universo masculino. Não por acaso, durante muitos anos, os homens foram maioria nas associações destinadas à troca de informações sobre o cultivo de orquídeas. Apenas recentemente estamos tendo o despontar de figuras femininas de peso neste cenário, como podemos observar na nossa seleção de especialistas entrevistados aqui no blog.
A primeira orquídea oficialmente descrita e classificada foi a brasileira
Cattleya labiata. Quando foi coletada, em um primeiro momento, aqui no Brasil, os
pesquisadores ingleses sequer sabiam como seriam suas flores. Esta orquídea
foi levada para a Europa em navios repletos de caixotes de madeira contendo as
mais variadas plantas nativas. A presença das orquídeas era tão abundante que
seus pseudobulbos eram utilizados como forração para abrigar outras plantas.
Foi somente anos mais tarde, em uma estufa de cultivo na Inglaterra, que se
descobriu a beleza da flor desta Cattleya, bem como seu perfume
único.
Cattleya labiata |
O gênero
Cattleya
foi descrito por John Lindley, em 1821, tendo sido assim nomeado em homenagem
ao orquidófilo inglês William Cattley, responsável por obter a primeira
floração de uma Cattleya labiata em solo inglês.
Embora a coleta de espécies nativas de orquídeas, pertencentes a diversas regiões do mundo, tenha sido fundamental para o estudo e classificação desta família botânica, hoje, esta atividade é apenas reservada para estudos científicos. A retirada de orquídeas da natureza é ilegal, muito embora seja comum encontrarmos exemplares nativos sendo vendidos em toda parte, ainda hoje. É graças a este extrativismo que muitas orquídeas encontram-se sob risco de extinção ou foram completamente extintas, em seus habitats de origem.
Como reconhecer uma orquídea? Com a imensa diversidade encontrada na família Orchidaceae, fica realmente difícil estabelecer critérios que distinguam estas plantas das demais. Tipicamente, a flor de uma orquídea possui três pétalas e três sépalas. As pétalas são mais largas e as sépalas mais delgadas, sendo estas últimas as estruturas que protegem o botão floral, antes de seu desabrochar. Portanto, são mais externas. Se estas estruturas fossem todas iguais, a flor da orquídea apresentaria uma simetria radial, assim como acontece com a margarida, por exemplo. No entanto, uma das pétalas é sempre modificada, apresentando uma aparência diferenciada e mais chamativa. Tecnicamente, esta pétala recebe o nome de labelo. Graças à presença desta estrutura, a flor da orquídea adquire a simetria bilateral, o que significa que pode-se traçar uma linha bem no meio da flor, na vertical, obtendo-se duas metades idênticas. A simetria de uma orquídea é um dos aspectos mais admirados e valorizados pelos colecionadores. Um exemplo clássico da simetria encontrada nas orquídeas é representado pela Cattleya walkeriana.
Embora a coleta de espécies nativas de orquídeas, pertencentes a diversas regiões do mundo, tenha sido fundamental para o estudo e classificação desta família botânica, hoje, esta atividade é apenas reservada para estudos científicos. A retirada de orquídeas da natureza é ilegal, muito embora seja comum encontrarmos exemplares nativos sendo vendidos em toda parte, ainda hoje. É graças a este extrativismo que muitas orquídeas encontram-se sob risco de extinção ou foram completamente extintas, em seus habitats de origem.
Morfologia das Orquídeas
Como reconhecer uma orquídea? Com a imensa diversidade encontrada na família Orchidaceae, fica realmente difícil estabelecer critérios que distinguam estas plantas das demais. Tipicamente, a flor de uma orquídea possui três pétalas e três sépalas. As pétalas são mais largas e as sépalas mais delgadas, sendo estas últimas as estruturas que protegem o botão floral, antes de seu desabrochar. Portanto, são mais externas. Se estas estruturas fossem todas iguais, a flor da orquídea apresentaria uma simetria radial, assim como acontece com a margarida, por exemplo. No entanto, uma das pétalas é sempre modificada, apresentando uma aparência diferenciada e mais chamativa. Tecnicamente, esta pétala recebe o nome de labelo. Graças à presença desta estrutura, a flor da orquídea adquire a simetria bilateral, o que significa que pode-se traçar uma linha bem no meio da flor, na vertical, obtendo-se duas metades idênticas. A simetria de uma orquídea é um dos aspectos mais admirados e valorizados pelos colecionadores. Um exemplo clássico da simetria encontrada nas orquídeas é representado pela Cattleya walkeriana.
Cattleya walkeriana |
Outra característica frequentemente encontrada nas orquídeas é o fato de
suas flores serem hermafroditas, possuindo órgãos reprodutores masculinos e
femininos. Há algumas exceções, como o gênero Catasetum, que produz
flores masculinas e femininas, separadamente. No entanto, de modo geral, uma
flor de orquídea apresenta a coluna, estrutura originada a partir da fusão
das estruturas reprodutivas masculinas e femininas da planta. O pólen não é
liberado ao vento, como ocorre na maioria das outras plantas. Nas orquídeas,
os grãos de pólen estão agrupados em pequenas esferas, denominadas polinias.
Estas estruturas são bastante aderentes e precisam ser tocadas pelos agentes
polinizadores, que então as carregam para outras flores, onde realizam a
polinização da orquídea.
Uma vez polinizadas, as flores das orquídeas começam a se fechar,
rapidamente, ao mesmo tempo em que o pecíolo começa a se intumescer. É lá
que está alojado o ovário, que irá produzir as
sementes. É importante que a flor da orquídea murche rapidamente, após a
polinização, porque já cumpriu seu papel de atrair o polinizador. Sendo
assim, ela não corre o risco de que um novo polinizador chegue, trazendo
mais polinias.
Flor de orquídea polinizada |
As orquídeas não produzem frutos clássicos. Ao contrário, como resultado da
polinização, as flores gradativamente dão lugar à formação de uma
cápsula de sementes. Trata-se de uma estrutura que abriga milhões de pequeníssimas partículas,
quase microscópicas, sendo cada uma delas uma semente de orquídea.
Particularmente, considero as cápsulas de orquídeas belíssimas, ainda mais
instigantes do que as próprias flores.
Cápsula de sementes de orquídea |
Assim que se tornam maduras, após um período de gestação, que varia de
acordo com a espécie de orquídea, as cápsulas se abrem, liberando as
partículas de sementes como poeira ao vento. Nem todas irão germinar, sendo
esta a razão de a orquídea produzir um número tão grande de sementes. Para
que germinem, elas precisam ter a sorte de serem levadas a um local com
condições favoráveis para tal, com bastante umidade. Além disso, como não há
fruto, as sementes de orquídeas não têm reservas de nutrientes, de modo que
precisam se associar a fungos que vivem nas raízes de plantas já adultas,
para que possam germinar e se desenvolver. Este processo é denominado
germinação simbiótica.
Em relação à parte vegetativa das orquídeas, dentre as mais de 35.000
espécies existentes na família, podemos categorizá-las em dois grandes
grupos. No primeiro, são incluídas as orquídeas que apresentam uma forma de
crescimento denominado monopodial. Estas orquídeas crescem a partir de um
único ponto apical, ficando sempre no mesmo local de origem, emitindo uma
folha sobre a outra, indefinidamente. Um exemplo clássico de orquídea que
apresenta o crescimento monopodial é a
Phalaenopsis.
Orquídea de crescimento monopodial |
Outra orquídea que apresenta este padrão de crescimento é a
Vanda. A orquídea samurai, Neofinetia falcata, anteriormente citada,
também é um exemplo clássico nesta categoria.
Para que possamos entender melhor a diferença, apresentamos o contraponto
das orquídeas cujo desenvolvimento é simpodial. Neste caso, a planta
apresenta uma frente de crescimento, que vai emitindo novos pseudobulbos,
um à frente do outro. Desta forma, a orquídea acaba caminhando pelas
árvores, percorrendo longas distâncias. Quando cultivadas em vasos, elas
precisam ser constantemente replantadas, já que possuem o hábito de
escaparem de seus recipientes. Neste caso, temos, como exemplos clássicos,
os representantes dos gêneros Cattleya,
Dendrobium
e
Oncidium, entre outros.
Orquídea de crescimento simpodial |
Outra estrutura vegetal que pode ser encontrada nas orquídeas é a
espata floral. Trata-se de uma folha modificada que funciona como um invólucro,
protegendo o desenvolvimento dos botões florais. Ela surge a partir do
ápice dos pseudobulbos, no ponto de inserção das folhas normais. Contudo,
nem todas as orquídeas emitem espatas antes da floração. Além disso, há
casos em que a orquídea produz uma espata, mas ela não floresce. Isto
geralmente ocorre quando a planta ainda não está madura o suficiente para
produzir flores.
Há, ainda, a situação em que a espata nasce, seca, e só vem a produzir
flores tempos depois. Por este motivo, nunca é recomendável cortar as
espatas florais secas, uma vez que elas podem vir a florescer, algum dia.
Botões florais surgindo da espata |
Outra marca registrada das orquídeas são os
keikis. Trata-se de uma palavra havaiana que significa bebê. De fato, os
keikis são filhotes que as orquídeas adultas produzem, de forma
vegetativa, sem o envolvimento de sementes. É bastante comum observarmos o
surgimento destas estruturas nas
hastes florais
de
Phalaenopsis, após o final da floração, ou ao longo dos pseudobulbos em forma de cana
das orquídeas Dendrobium.
Keiki de orquídea |
Apesar do nome, o keiki de uma orquídea não é um bebê
propriamente dito. Isto porque ele é resultado da multiplicação de
células somáticas, de modo que seus tecidos já são adultos, possuindo a
mesma informação genética da planta mãe. Sendo assim, seu
desenvolvimento e crescimento são muito mais rápidos do que os de
exemplares nascidos a partir de sementes. Há, inclusive, casos de
keikis que florescem precocemente, ainda aderidos às hastes
florais da orquídea progenitora.
Habitat das Orquídeas
Existem vários
mitos
que cercam as orquídeas. Um deles é o de que se tratam de plantas
epífitas e tropicais. Como a família Orchidaceae é muito ampla,
no entanto, podemos encontrar espécies de orquídeas espalhadas por todo
o planeta. As orquídeas podem ser encontradas em todos os continentes,
somente não ocorrendo em regiões glaciais, como a Antártida. Existem
gêneros que se desenvolvem em regiões de cima temperado, equatorial,
tropical ou subtropical. Além disso, podemos ter orquídeas que vivem
sobre as árvores, no chão das florestas, sobre o húmus ou sobre as
pedras. A diversidade é imensa, como veremos a seguir.
Orquídeas Epífitas
Com certeza, as orquídeas epífitas são as mais conhecidas, além de serem representadas por uma grande quantidade de gêneros botânicos. Suas raízes estão adaptadas à vida sobre outras plantas, de modo que são capazes de absorver a umidade do ambiente. Outro mito recorrente é o de que orquídeas são parasitas, por viverem agarradas aos troncos das árvores. Na verdade, nada é retirado do hospedeiro, que fornece apenas um suporte físico para o apoio da orquídea. Tudo o que ela necessita, água e nutrientes, é fornecido pelo ambiente, através das chuvas, orvalho, umidade relativa do ar, detritos e dejetos de pequenos animais, entre outros. A luminosidade chega até estas plantas na proporção ideal, filtrada pelas copas das árvores.
Cattleya bicolor |
São exemplos de orquídeas epífitas as diversas espécies dos gêneros
Phalaenopsis, Cattleya,
Dendrobium
e
Oncidium, entre outros.
Aqui no blog, já apresentamos a Cattleya labiata, Cattleya walkeriana e Cattleya bicolor, em artigos publicados anteriormente.
Aqui no blog, já apresentamos a Cattleya labiata, Cattleya walkeriana e Cattleya bicolor, em artigos publicados anteriormente.
Dendrobium victoria-reginae |
O gênero Dendrobium é um dos mais populosos e diversificados,
dentro da família Orchidaceae. Aqui pelo apartamento, já passaram
espécies interessantes, tais como o
Dendrobium purpureum album,
Dendrobium victoria-reginae,
Dendrobium loddigesii e
Dendrobium lindleyi, entre outros. Também fazem parte deste gênero orquídeas híbridas
famosas, tais como o
Dendrobium Stardust
e a
orquídea olhos de boneca, apelido popular dado aos híbridos do Dendrobium nobile. Por
fim, temos a enigmática orquídea Denphal, que muitos acreditam se tratar
de um cruzamento entre Dendrobium e Phalaenopsis. Na
verdade, tal miscigenação é impossível, de modo que a Denphal é apenas
um híbrido de Dendrobium.
Oncidium Twinkle 'Yellow Fantasy' |
Outra orquídea epífita típica é o Oncidium. Neste gênero, temos
as famosas
orquídea chocolate
e
orquídea chuva de ouro. Estes são termos populares que se referem às denominações científicas
Oncidium Sharry Baby 'Sweet Fragrance'
e
Oncidium Aloha 'Iwanaga', entre outros. Também já cultivei aqui no apartamento o
Oncidium ornithorhynchum (Oncidium sotoanum), Oncidium pumilum
(Lophiaris pumila),
Oncidium equitante
(Tolumnia),
Oncidium Twinkle 'Yellow Fantasy', apenas para citar alguns exemplos.
Proximamente relacionadas ao gênero Oncidium, pertencentes à subtribo Oncidiinae, temos as orquídeas Gomesa crispa, Gomesa recurva, Rodriguezia venusta, Miltonia colombiana, Miltonia moreliana, entre outros.
Proximamente relacionadas ao gênero Oncidium, pertencentes à subtribo Oncidiinae, temos as orquídeas Gomesa crispa, Gomesa recurva, Rodriguezia venusta, Miltonia colombiana, Miltonia moreliana, entre outros.
Miltonia moreliana |
Também descendem das orquídeas Oncidium inúmeros híbridos
complexos, denominados intergenéricos, por serem resultantes de
cruzamentos envolvendo vários gêneros diferentes. É o caso das
orquídeas
Beallara,
Colmanara
e
Odontocidium, já apresentadas aqui no blog. Estas são aquelas orquídeas enormes,
portando longas hastes, repletas de flores grandes e vistosas, que
costumamos encontrar em floriculturas.
Beallara híbrida |
Obviamente a lista de orquídeas epífitas é imensa. Aqui no blog, tenho
por regra apresentar apenas exemplos e
fotos de orquídeas
que efetivamente cultivei aqui no apartamento. As poucas exceções
ficam por conta de algumas orquídeas que fotografei em exposições,
sendo que, nestes casos, a informação está devidamente destacada nos
respectivos artigos.
Orquídeas Terrestres
Nem todos se dão conta, mas existe uma grande diversidade de orquídeas terrestres. Frequentemente, elas passam despercebidas, sendo consideradas simples plantas de jardim, usadas frequentemente no paisagismo. É o caso da clássica orquídea bambu, Arundina graminifolia.
Arundina graminifolia |
A orquídea Arundina é bastante utilizada em áreas externas,
formando maciços ou cercas vivas, com o grande diferencial de produzir
delicadas flores, nas cores branca e lilás, em hastes elegantes nos
ápices dos longos caules, que portam folhas com a aparência de grama
ou bambu. Apenas os mais atentos irão reconhecer, nas flores da
Arundina, uma grande semelhança com as de orquídeas epífitas
clássicas, como a Cattleya. O mesmo ocorre com as flores da
orquídea terrestre do gênero Sobralia.
Epidendrum fulgens |
Também é uma orquídea terrestre típica a espécie
Epidendrum fulgens
e seus inúmeros híbridos. Popularmente conhecida como orquídea da
praia, por se desenvolver em regiões litorâneas, tolerando inclusive
solos arenosos, sol pleno e maresia, esta é uma planta ideal para ser
cultivada no jardim, pela sua resistência e beleza de suas florações.
Passando agora a uma orquídea terrestre mais insuspeita, já que ela é
frequentemente encontrada em floriculturas, feiras e supermercados.
Trata-se do gênero asiático
Cymbidium, uma orquídea que floresce tipicamente durante o inverno, quando a
maioria das orquídeas tropicais encontra-se em dormência. Muitos,
inadvertidamente, plantam a orquídea Cymbidium na árvore, sem
saber que suas raízes não estão adaptadas ao modo de vida
epífito.
Cymbidium híbrido |
Outro exemplo de orquídea terrestre digno de nota é a
Ludisia discolor. Trata-se de uma espécie perfeita para quem cultiva orquídeas em
apartamento, já que ela não necessita de elevados níveis de luminosidade
para se desenvolver bem e florescer. A Ludisia, inclusive, é
conhecida como orquídea joia, justamente por possuir uma folhagem
bastante ornamental, que frequentemente ofusca a beleza das flores.
Desta maneira, muitos a cultivam apenas para apreciar suas folhas, que
são aveludadas, em um tom bem fechado de verde acobreado, com veios
dourados avermelhados.
Ludisia discolor |
Por ser terrestre e tolerar o cultivo em ambientes mais sombreados, a
Ludisia discolor é frequentemente utilizada na composição de
terrários. No entanto, devido à natureza suculenta de seus caules, ela
não tolera o excesso de umidade.
Orquídeas Humícolas
Como uma categoria à parte das orquídeas terrestres, temos as orquídeas humícolas. Elas são assim designadas porque suas raízes não estão sob a terra, como as anteriormente citadas. Estas orquídeas, particularmente, assentam-se sobre a camada de húmus no chão das florestas, formada por folhas em decomposição e detritos que lá se acumulam. São exemplos clássicos de orquídeas humícolas os híbridos Paphiopedilum Leeanum e Phragmipedium Sedenii, que já foram apresentados aqui no blog. Eles são popularmente conhecidos como orquídeas sapatinho, graças ao formato inusitado de suas flores, que lembram pequenos tamancos holandeses.
Phragmipedium Sedenii |
Aqui no Brasil, a orquídea híbrida Paphiopedilum Leeanum é a
mais cultivada, nesta categoria. Apesar de ser originária do
continente asiático, ela se adaptou bem ao clima tropical, sendo
encontrada em todos os lugares, muitas vezes mantida nos jardins, como
uma planta comum. O detalhe é que se trata de uma orquídea que precisa
de uma proteção contra os raios solares que incidem diretamente sobre
a planta. Trata-se de uma orquídea ideal para ser cultivada em
interiores, assim como a Ludisia discolor, apresentada
anteriormente.
Paphiopedilum Leeanum |
A lista de orquídeas sapatinho é imensa. No entanto, as espécies e
híbridos que encontramos no mercado, em exposições, ainda costumam ser
bastante caros. Com a exceção do híbrido acima mencionado, é bastante
difícil encontrar outras variedades de
Paphiopedilum
à venda. Trata-se de uma orquídea mais comum em coleções de
cultivadores que se especializam neste gênero de orquídea.
Orquídeas Rupícolas
Por fim, temos outro caso particular de orquídeas terrestres. Neste caso, novamente, as raízes não estão propriamente enterradas. Elas se assentam sobre as rochas, entremeando-se nos interstícios formados pelas aglomerações de pedras, nutrindo-se da matéria orgânica que lá se acumula, ao longo do tempo. Por esta razão, são consideradas orquídeas rupícolas, rupestres ou litófitas. Um exemplo bastante conhecido é encontrado no gênero Laelia. São as chamadas Laelias rupícolas, tais como a Laelia lucasiana, que já foi tema de um artigo aqui no blog.
Laelia lucasiana |
Outro exemplo, menos conhecido, vem do gênero Dendrobium,
predominantemente caracterizado por orquídeas epífitas. A exceção fica
por conta da orquídea australiana da espécie
Dendrobium kingianum, que possui um comportamento de orquídea rupícola, em seu ambiente de
origem. No entanto, sob condições domésticas de cultivo, ela é
frequentemente mantida como uma orquídea epífita, sem maiores
problemas.
Dendrobium kingianum |
Orquídeas de Sombra ou Sol Pleno
Não existe uma regra específica que separa as orquídeas capazes de viver sob sol pleno ou em ambientes sombreados. De um modo geral, as orquídeas epífitas apreciam a luz filtrada, que é proporcionada pelas copas das árvores, em seu habitat original. As orquídeas humícolas, por outro lado, estão acostumadas a ambientes um pouco mais sombreados, já que estão no chão das florestas, mais distantes da fonte de luz.
Já as orquídeas terrestres, como Arundina, Epidendrum e Cymbidium, são típicas de sol pleno. De modo geral, inclusive, elas não florescerão se forem cultivadas em ambientes sombreados ou em interiores. Outro exemplo típico de orquídeas que toleram o sol direto são as espécies rupícolas. No entanto, por precaução, elas costumam ser cultivadas em ambientes protegidos do sol intenso, nas horas mais quentes do dia, no cultivo doméstico.
Mini e Micro Orquídeas
Muito embora não exista uma classificação científica que separe orquídeas, mini orquídeas e micro orquídeas, os cultivadores e comerciantes costumam utilizar estes termos, de forma informal. De modo geral, levam-se em consideração fatores como o tamanho da parte vegetativa e das flores. Como uma regra arbitrária, são consideradas micro orquídeas aquelas plantas que produzem flores com menos de um centímetro de diâmetro. Mas não é algo rígido.
Vários representantes do gênero Oncidium, por exemplo, podem ser considerados micro orquídeas, devido ao tamanho minúsculo de suas flores. No entanto, são plantas que costumam ter a parte vegetativa mais avantajada. O que não é o caso da micro orquídea Ornithophora radicans, que é completamente micro. Seus pseudobulbos são minúsculos e as folhas lembram gramíneas. As flores dão um show de delicadeza, lembrando pequenos mosquitinhos esvoaçantes.
Ornithophora radicans |
Outra micro orquídea digna de nota é a
Isabelia pulchella, assim nomeada em homenagem à Princesa Isabel. Suas flores apresentam
um intenso colorido magenta, que se sobressai em relação aos
pseudobulbos minúsculos e folhas extremamente finas.
Isabelia pulchella |
Também não poderia deixar de mencionar a
Capanemia superflua, que se caracteriza por produzir delicadas hastes repletas de
minúsculas flores brancas. Esta é uma micro orquídea clássica, mas que
apresenta um cultivo bastante complicado, por ser frágil e depender de
climas amenos, com elevados níveis de umidade relativa do ar.
Esta é uma micro orquídea que sofreu aqui no apartamento, graças ao excesso de vento e insolação que incide na varanda. Ainda assim, conseguiu produzir uma única haste floral, que faço questão de exibir a seguir. Normalmente, a Capanemia superflua forma pequenas touceiras que ficam repletas de hastes florais.
Esta é uma micro orquídea que sofreu aqui no apartamento, graças ao excesso de vento e insolação que incide na varanda. Ainda assim, conseguiu produzir uma única haste floral, que faço questão de exibir a seguir. Normalmente, a Capanemia superflua forma pequenas touceiras que ficam repletas de hastes florais.
Capanemia superflua |
Mini orquídeas, por sua vez, são apenas orquídeas com flores pequenas,
maiores que um centímetro, mas que não são aqueles repolhos imensos,
típicos das orquídeas híbridas de floricultura.
Sophronitis coccinea |
Um clássico exemplo de mini orquídea é a espécie
Sophronitis coccinea. Trata-se de uma orquídea extensivamente utilizada na hibridização
com outros gêneros, por apresentar a rara coloração vermelha em suas
flores.
Orquídeas vermelhas
são raras e dificilmente são encontradas na natureza. A maioria dos
híbridos nesta coloração possui a Sophronitis coccinea em sua
ascendência.
No mesmo gênero
Sophronitis, mas com uma coloração diferente, temos a mini orquídea
Sophronitis wittigiana. Suas pétalas e sépalas exibem uma interessante tonalidade de rosa
antigo, bastante diferente das demais orquidáceas.
Sophronitis wittigiana |
A
Laelia alaorii
é outro exemplo bastante interessante de mini orquídea. Vários
representantes dos gêneros Laelia e
Sophronitis costumam ser utilizados na produção das chamadas
mini Cattleyas, ou mini-catts, no exterior.
Laelia alaorii |
Finalizando, para que o artigo não fique muito extenso, apresento a
mini orquídea que virou o logotipo do blog Orquídeas no Apê.
Trata-se de um híbrido primário, resultante do cruzamento entre a
Sophronitis coccinea e Laelia milleri. Esta última,
por sinal, é uma Laelia rupícola. O nome deste híbrido de
mini orquídeas é Sophrolaelia Jinn.
Informações mais detalhadas sobre outras mini orquídeas podem ser
encontradas nos respectivos links. Várias outras espécies e híbridos
podem ser popularmente chamadas de mini orquídeas, sem que uma norma
rígida dite o que é certo ou errado. No fim, são todas orquídeas,
representantes de uma riquíssima e diversificada família botânica,
uma das mais populosas do reino vegetal.
Sophrolaelia Jinn |
Como Cuidar de Orquídeas
Este é um capítulo à parte que está bem detalhado em outro artigo,
sobre o
cultivo de orquídeas em apartamento. Apesar do título ser um pouco restritivo, as dicas lá
compartilhadas se aplicam tranquilamente ao cultivo de orquídeas
em qualquer outro ambiente.
Neste contexto, o principal ponto de partida é se desvencilhar de
mitos e crenças
que nos impedem de
compreender
as orquídeas da maneira correta. Como já vimos, nem todas as
orquídeas são epífitas e tropicais. Cada gênero e espécie deve ter
um cultivo diferenciado, de modo a mimetizar as condições
existentes em seu habitat de origem. É um erro acreditar que as
orquídeas não
gostam de água, e que devem ser regadas com quantidades mínimas, como dois
copinhos de café ou dois
cubos de gelo. Na natureza, as orquídeas estão em contato permanente com a
água, que vem através da umidade do ambiente, chuvas e orvalho. O
principal diferencial é que suas raízes secam rapidamente, graças
à generosa circulação de ar e ao fato de não estarem abafadas
dentro de um vaso, na natureza.
Da mesma forma, a
luminosidade
ideal para o cultivo das orquídeas varia imensamente, de acordo
com as características de cada gênero. Existem aquelas orquídeas
que não só toleram como necessitam de sol pleno para um bom
desenvolvimento, tais como Arundina, Epidendrum e
Cymbidium, entre muitos outros. Por outro lado, temos a
micro orquídeas, que estão acostumadas a ambientes bastante
sombreados, desenvolvendo-se e florescendo bem sob estas
condições. O importante é que tenhamos a correta identificação de
cada orquídea em nossa coleção, para que saibamos quais são os
requisitos de cultivo em relação a cada espécie ou híbrido.
É importante termos em mente que não existe uma combinação única
de tipo de vaso e substrato, para o cultivo adequado de todas as
orquídeas. Muitos afirmam que orquídeas somente devem ser
cultivadas em vasos de barro, que são mais porosos e permitem que
o substrato seque mais rapidamente. No entanto, são muitos os
casos de cultivadores que têm sucesso no cultivo utilizando vasos
de plástico. O segredo é combinar o substrato apropriado para cada
material, ajustando a frequência das regas de acordo.
Junto com a quantidade de luz fornecida, a
adubação
é outro fator decisivo para que uma orquídea floresça em sua
estação característica. Neste sentido, a variedade de adubos para
orquídeas é imensa. Cada cultivador acaba elegendo suas marcas e
formulações favoritas. Existem adubos químicos, orgânicos, mistos,
em pó, líquidos, granulados, de liberação lenta. As possibilidades
são infinitas. O importante é que eles sejam capazes de fornecer
os elementos essenciais para o desenvolvimento das orquídeas. De
modo geral, fórmulas do tipo NPK, com macro e micronutrientes
atendem muito bem à necessidades destas plantas. Existem
formulações balanceadas para cada fase do desenvolvimento das
orquídeas, como crescimento (maior teor de nitrogênio - N),
manutenção (níveis equilibrados de NPK) e floração (maior teor de
fósforo - P).
Estes são os direcionamentos gerais. Para mais detalhes, cada link
ao longo deste artigo direciona para outras matérias mais
detalhadas, sobre assuntos específicos. Além disso, há aqui no
blog várias
entrevistas com especialistas, que dão dicas e conselhos exclusivos para o cultivo de
orquídeas.
Embora este artigo tenha ficado quilométrico, encerro com algumas considerações que acho importante frisar. Cultivar orquídeas não é complicado. Não mais se tratam de plantas raras e exclusivas, como acontecia na época da rainha Vitória. Não há fórmulas mágicas, adubos milagrosos, nem cursos que revelam segredos para a obtenção de orquídeas maravilhosas de exposição. Na verdade, as orquídeas necessitam de muito pouco, como acontece na natureza. Luz na medida certa, água nos intervalos corretos, adubo em dosagens homeopáticas, uma boa aeração e níveis corretos de umidade relativa do ar são os fatores essenciais para um bom cultivo. As orquídeas são plantas tão resistentes e democráticas que costumam viver e florescer por décadas, nos troncos de árvores de grandes e poluídas cidades, na calçada, plantadas pelos porteiros dos prédios. São generosas e recompensam este belo gesto com magníficas florações, todos os anos.
Considerações Finais
Embora este artigo tenha ficado quilométrico, encerro com algumas considerações que acho importante frisar. Cultivar orquídeas não é complicado. Não mais se tratam de plantas raras e exclusivas, como acontecia na época da rainha Vitória. Não há fórmulas mágicas, adubos milagrosos, nem cursos que revelam segredos para a obtenção de orquídeas maravilhosas de exposição. Na verdade, as orquídeas necessitam de muito pouco, como acontece na natureza. Luz na medida certa, água nos intervalos corretos, adubo em dosagens homeopáticas, uma boa aeração e níveis corretos de umidade relativa do ar são os fatores essenciais para um bom cultivo. As orquídeas são plantas tão resistentes e democráticas que costumam viver e florescer por décadas, nos troncos de árvores de grandes e poluídas cidades, na calçada, plantadas pelos porteiros dos prédios. São generosas e recompensam este belo gesto com magníficas florações, todos os anos.
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Por Sergio Oyama Junior
Bacharel em biologia pela Unicamp, com mestrado e doutorado em bioquímica pela Usp, escreve sobre o cultivo de orquídeas, suculentas, cactos e outras plantas dentro de casas e apartamentos.
São Paulo, SP, Brasil
Bacharel em biologia pela Unicamp, com mestrado e doutorado em bioquímica pela Usp, escreve sobre o cultivo de orquídeas, suculentas, cactos e outras plantas dentro de casas e apartamentos.
São Paulo, SP, Brasil