Orquídeas no Apê

Blog sobre o Cultivo de Plantas
dentro de Casas e Apartamentos

Sergio Oyama Junior


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Mini Orquídeas - Quem São e Como Cuidar


Orquídea Laelia alaorii x Laelia sincorana
| Laelia alaorii x Laelia sincorana |

O fantástico universo das mini orquídeas vai muito além das mini Phalaenopsis, que estamos acostumados a ver em floriculturas, exposições e, até mesmo, supermercados. São orquídeas consideradas pequenas, mas não o bastante para serem encaixadas no conceito de micro orquídeas. Ambas as categorias são informais, não havendo um parâmetro técnico para determinar quem é micro e quem é mini orquídea. Ao longo deste artigo, vou dar alguns exemplos de mini orquídeas que já passaram aqui pelo apartamento, com dicas para cuidar delas da maneira correta.

A mini orquídea lilás, cuja foto abre este artigo, por exemplo, é um híbrido primário resultante do cruzamento entre duas outras mini orquídeas, Laelia alaorii e Laelia sincorana. Trata-se de uma belíssima ilustração da diversidade encontrada nesta categoria de orquídeas, que envolve vários outros gêneros, além da tradicional Phalaenopsis. Neste caso, as flores destacam-se frente ao porte vegetativo, mais compacto e discreto. Devido à sua natureza híbrida, podemos comprar diversos exemplares deste cruzamento e cada um terá características únicas. Esta é uma mini orquídea de fácil cultivo e crescimento rápido.


Em matéria de beleza, sua progenitora, Laelia alaorii, não fica atrás, como podemos comprovar na imagem a seguir.

Orquídea Laelia alaorii
Laelia alaorii

Esta é uma min orquídea brasileiríssima, descoberta na década de 1970, no estado da Bahia. Ela pode ser encontrada em diversos tons rosados, sendo que a forma completamente branca é mais rara. Tudo nesta orquídea é miniaturizado, flores, folhas e pseudobulbos. Trata-se de uma mini orquídea que aprecia elevados níveis de umidade relativa do ar, no ambiente de cultivo. A luminosidade precisa ser intensa, porém filtrada por uma tela de sombreamento.

O gênero Laelia também traz outra belíssima representante desta categoria de mini orquídeas. Trata-se da Laelia lucasiana, também conhecida como Laelia longipes. Neste caso, a curiosidade fica por conta do seu hábito vegetativo, que é rupícola. Isto significa que, diferentemente da maioria das orquídeas, que vive sobre as árvores, a Laelia lucasiana vegeta sobre as pedras. Trata-se de um ambiente inóspito, frequentemente sob sol pleno, mas que oferece umidade e alimento a esta mini orquídea graças ao acúmulo de água e material orgânico nos interstícios entre as rochas, nos quais as raízes se inserem.

Orquídea Laelia lucasiana
Laelia lucasiana

Também descende de uma Laelia rupícola a mini orquídea vermelha que se tornou o logotipo do blog Orquídeas no Apê. A Sophrolaelia Jinn, como o nome já indica, é um híbrido primário resultante do cruzamento entre Sophronitis coccinea e Laelia milleri.

Orquídea Sophrolaelia Jinn
Sophrolaelia Jinn

Existe uma grande quantidade de mini orquídeas híbridas que descendem de orquídeas rupícolas. Outro belo exemplo é a orquídea laranja a seguir, fruto do cruzamento entre Sophronitis coccinea e Laelia flava.


Trata-se de uma interessante mini orquídea, cujo nome científico é Sophrolaelia Marriotiana. Suas pétalas e sépalas são alaranjadas, ornamentadas por delicadas venações em vermelho, que também adornam o labelo, de forma mais intensa. O porte da flor, embora mini, parece avantajado em relação à parte vegetativa.

Orquídea Sophrolaelia Marriotiana
Sophrolaelia Marriotiana

Também em um tom alaranjado, só que mais pastel, tendendo ao coral, temos a Sophrolaelia Coral Orb, que descende das espécies Laelia alaorii e Sophronitis coccinea. Devido à influência das progenitoras, esta mini orquídea necessita de elevados níveis de umidade relativa do ar. Não é uma orquídea de fácil cultivo, infelizmente. O uso de vasos pequenos de plástico, preenchidos com musgo sphagnum, proporciona um bom desenvolvimento a esta mini orquídea coral.

Orquídea Sophrolaelia Coral Orb
Sophrolaelia Coral Orb

Os dois exemplos de mini orquídeas acima citados são, infelizmente, mais difíceis de serem encontrados no mercado. Um pouco mais comum é a mini orquídea magenta que vem a seguir, Sophrolaelia Orpetii. Trata-se de um cruzamento entre Sophronitis coccinea, para variar, e Laelia pumila. Destacam-se as pétalas bem largas e arredondadas, com uma excelente armação. A flor fica imensa frente à parte vegetativa miniaturizada desta orquídea.

Este é um caso típico de orquídea híbrida que fica mais bonita do que os progenitores, na minha opinião. Dificilmente, encontramos uma Sophronitis com pétalas tão grandes e bem posicionadas. A textura da flor desta mini orquídea é única, brilhando como se fosse coberta por pó de diamante, quando irradiada pelo sol.

Orquídea Sophrolaelia Orpetii
Sophrolaelia Orpetii

Os últimos quatro exemplos de mini orquídeas, citados acima, pertencem ao gênero Sophrolaelia. Existem também belíssimos híbridos resultantes do cruzamento entre Sophronitis e Cattleya. Muitos representantes do gênero Sophrocattleya são carinhosamente chamados de mini-catts, no exterior, em referência ao termo mini Cattleyas.

É o caso da Sophrocattleya Batemaniana, que descende de Sophronitis coccinea e Cattleya intermedia. Novamente, neste caso, cada exemplar é diferente do outro, graças à variabilidade genética obtida através do cruzamento. No exemplo abaixo, temos uma belíssima mini orquídea vermelha com pétalas flameadas.

Orquídea Sophrocattleya Batemaniana
Sophrocattleya Batemaniana

Outro exemplo típico de mini Cattleya é a Sophrocattleya Beaufourt, fruto do cruzamento entre Sophronitis coccinea e Cattleya luteola.

Também no caso desta mini orquídea, existem diversas possibilidades de coloração para os descendentes do cruzamento. Muitos saem com uma forma bem arredondada e um amarelo vivo, com uma mancha vermelha no labelo. O meu exemplar, como podemos observar abaixo, saiu mais pastel, quase transparente, com as pétalas mais estreitas. Um pouco decepcionante, eu diria, mas ainda assim um belo exemplo da diversidade encontrada entre as mini orquídeas.

Orquídea Sophrocattleya Beaufort
Sophrocattleya Beaufort

Os últimos seis exemplos de mini orquídeas, acima apresentados, são descendentes da famigerada Sophronitis coccinea. Sendo assim, vamos destacá-la, a seguir.

Orquídea Sophronitis coccinea
Sophronitis coccinea

Trata-se de uma espécie de mini orquídea tipicamente brasileira, encontrada na Mata Atlântica, em estados do sudeste brasileiro. Como a cor vermelha é rara na família Orchidaceae, esta espécie costuma ser utilizada em hibridações, de modo a transferir esta característica aos seus descendentes. Como pudemos ver acima, isto nem sempre acontece. No entanto, ela também é uma importante influência na miniaturização das orquídeas que a possuem em sua genealogia.


No entanto, esta mini orquídea é considerada de difícil cultivo, muito frágil e dependente de um clima mais ameno, com bastante umidade no ambiente, sem que suas raízes fiquem encharcadas. Neste sentido, ela não tolera calor, sol pleno e nem climas demasiadamente secos. Infelizmente, esta característica temperamental também é passada aos seus descendentes, dificultando o cultivo das mini orquídeas híbridas que possuem esta espécie em sua composição.

Igualmente exigente, mas em uma coloração diferente e belíssima, temos a Sophronitis wittigiana.

Orquídea  Sophronitis wittigiana
Sophronitis wittigiana

Esta espécie de mini orquídea exibe as pétalas e sépalas em uma interessante tonalidade de rosa antigo, com discretas venações mais escuras. Como podemos observar na foto acima, a armação do meu exemplar não é das melhores, mas ainda assim trata-se de um fantástico exemplo de mini orquídea rosada. Infelizmente, seu cultivo também não é dos mais tranquilos. Novamente, neste caso, o vaso de plástico e o musgo sphagnum ajudam a reter a umidade por mais tempo, facilitando o desenvolvimento desta mini orquídea. Umidificadores de ar e bandejas umidificadoras também ajudam nesta tarefa.

Outra mini orquídea vermelha que vale a pena destacar é a Sophronitis Arizona, descendente da Sophronitis coccinea e Sophronitis brevipedunculata. Mais uma vez, neste caso, a hibridação faz com que o resultado apresente flores maiores e com melhor armação. Esta seria uma das minhas mini orquídeas favoritas, não fosse a dificuldade de cultivo.

Orquídea Sophronitis Arizona
Sophronitis Arizona

Os gêneros Cattleya, Laelia e Sophronitis, presentes na composição das mini orquídeas acima citadas, são bastante próximos entre si, do ponto de vista genético, o que torna possível que diferentes híbridos sejam produzidos a partir das misturas entre eles. São os chamados híbridos intergenéricos.

Passando a outro gênero, não seria possível falar sobre mini orquídeas sem mencionar as mini Phalaenopsis. Diferentemente dos exemplos citados até agora, estas miniaturas são extremamente fáceis de serem cultivadas, tolerando os ambientes internos de casas e apartamentos. Nestas localidades, costumamos ter condições que dificultam o cultivo da maioria das orquídeas, exigentes quanto à luminosidade e umidade relativa do ar. O gênero Phalaenopsis, contudo, adapta-se bem a estas condições artificiais, tolerando até mesmo o fatídico ar condicionado.


Antigamente, tínhamos no mercado apenas Phalaenopsis pequenas, mas muito comuns e parecidas com a Phalaneopsis equestris ou Doritis pulcherrima, espécies que naturalmente produzem flores em miniatura. Recentemente, uma onda de novas híbridos invadiu o mercado. São miniaturas que replicam com perfeição as flores dos exemplares em tamanho normal, que frequentemente vemos em floriculturas. Estas novas mini orquídeas têm fascinado o público consumidor, exibindo uma quase infinita gama de colorações e padronagens em suas flores. A seguir, alguns dos exemplares que já passaram aqui pelo apartamento.

Mini orquídea Phalaenopsis híbrida
Mini Phalaenopsis híbrida

Mini orquídea Phalaenopsis híbrida
Mini Phalaenopsis híbrida

Mini orquídea Phalaenopsis híbrida
Mini Phalaenopsis híbrida

Também já vi mini orquídeas com a aparência perfeita daquela Phalaenopsis cor de vinho, Ever Spring 'Prince', com bordas brancas e uma textura mais firme, que eu particularmente adoro. Infelizmente, ainda não tive a oportunidade de fotografar a versão em miniatura desta orquídea. Já cultivei a de tamanho normal.

O gênero Dendrobium talvez seja uma fonte insuspeita de mini orquídeas. De modo geral, as espécies a ele pertencentes costumam atingir grandes proporções, formando touceiras respeitáveis. Em muitos casos, os pseudobulbos ficam enormes, em altura ou pendentes. Há, contudo, exemplos de miniaturas que merecem ser destacadas. É o caso do Dendrobium kingianum, uma espécie australiana que faz bastante sucesso junto aos colecionadores. Seus pseudobulbos são pequenos e compactos, emitindo delicadas hastes florais a partir de seus ápices, com flores minúsculas em diferentes colorações. Guardadas as devidas proporções, esta mini orquídea lembra uma Denphal em miniatura.

Orquídea Dendrobium kingianum
Dendrobium kingianum

Outra espécie bastante delicada deste gênero é o Dendrobium lindleyi. Suas flores me lembram gemas de ovo frito. Os pseudobulbos são pequenos e imbricados, meio esparramados. Cada haste produz pequenos cachos de flores amarelas, que dão um show quando desabrocham concomitantemente. Na minha opinião, uma das mais belas mini orquídeas amarelas.

Orquídea Dendrobium aggregatum
Dendrobium lindleyi

Por fim, o Dendrobium loddigesii é outra mini orquídea que eu destacaria, neste gênero. Seus pseudobulbos são finos e compridos, formando um emaranhado bastante confuso, com o tempo. No entanto, suas flores são belíssimas, exibindo um contraste entre o lilás das pétalas e sépalas e o amarelo gema do labelo.

Com o tempo de cultivo, esta mini orquídea tende a ficar pendente. Seus pseudobulbos perdem todas as folhas e ficam levemente enrugados. Aqui no apartamento, tenho uma dificuldade imensa para fazer este Dendrobium florescer.

Orquídea Dendrobium loddigesii
Dendrobium loddigesii

De modo geral, as orquídeas do gênero Dendrobium precisam de bastante luminosidade para que suas florações ocorram de maneira satisfatória. No entanto, o fator crucial para que a maioria das espécies floresça, incluindo as mini orquídeas acima citadas, é o stress hídrico. Trata-se de uma redução drástica no fornecimento de água, durante os meses do outono e inverno, que antecedem o período de floração, que ocorre no início da primavera. A adubação também é suspensa, neste período.

Tratadas desta forma, com frio, fome e sede, as pobres mini orquídeas do gênero Dendrobium irão produzir abundantes florações. Caso este procedimento não seja adotado, o mais provável é que inúmeros keikis, que são novas brotações, surjam ao longo de seus pseudobulbos em forma de cana. O Dendrobium loddigesii, particularmente, produz keikis em abundância.

A lista de gêneros, espécies e híbridos que podem ser considerados mini orquídeas é imensa. Como sempre saliento aqui, as fotos e exemplos que apresento no blog são autorais. Acho antiético e não vejo sentido em usar fotos de outros cultivadores para ilustrar artigos sobre plantas que nunca cultivei.


Como vimos ao longo deste artigo, cada mini orquídea requer um cultivo diferente. Existem espécies epífitas, rupícolas e, inclusive, terrestres, como o Paradisanthus micranthus. O importante é que o exemplar em questão seja corretamente identificado, para que possamos cuidar de cada mini orquídea de forma diferenciada e personalizada. Também é importante prestarmos atenção às condições climáticas do nosso local de cultivo. Não adianta tentar manter uma orquídea originária de locais frios e úmidos em uma cidade muito quente e seca.

Orquídea Paradisanthus micranthus
Paradisanthus micranthus

A luminosidade também varia muito, de espécie para espécie. Temos exemplos de mini orquídeas que sobrevivem sob sol pleno, ao passo que outras exigem ambientes bastante sombreados. Clicando nos links ao longo deste artigo, mais informações e dicas de cultivo sobre cada mini orquídea citada podem ser encontradas.

Cultivar e colecionar micro e mini orquídeas é um passatempo sem fim. Com o tempo, vamos aprendendo como lidar com cada uma, ao mesmo tempo em que elegemos nossas preferidas. Sempre vale a pena tentar, ainda que nem sempre seja factível manter todas sob nossas condições de cultivo.

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Bacharel em biologia pela Unicamp, com mestrado e doutorado em bioquímica pela Usp, escreve sobre o cultivo de orquídeas, suculentas, cactos e outras plantas dentro de casas e apartamentos.

São Paulo, SP, Brasil