| Laelia alaorii x Laelia sincorana | |
O fantástico universo das mini orquídeas vai muito além das
mini Phalaenopsis, que estamos acostumados a ver em floriculturas, exposições e, até mesmo,
supermercados. São orquídeas consideradas pequenas, mas não o bastante para
serem encaixadas no conceito de
micro orquídeas. Ambas as categorias são informais, não havendo um parâmetro técnico para
determinar quem é micro e quem é mini orquídea. Ao longo deste artigo, vou dar
alguns exemplos de mini orquídeas que já passaram aqui pelo apartamento, com
dicas para cuidar delas da maneira correta.
A mini orquídea lilás, cuja foto abre este artigo, por exemplo, é um híbrido
primário resultante do cruzamento entre duas outras mini orquídeas,
Laelia alaorii e Laelia sincorana. Trata-se de uma belíssima
ilustração da diversidade encontrada nesta categoria de
orquídeas, que envolve vários outros gêneros, além da tradicional Phalaenopsis.
Neste caso, as flores destacam-se frente ao porte vegetativo, mais compacto e
discreto. Devido à sua natureza híbrida, podemos comprar diversos exemplares
deste cruzamento e cada um terá características únicas. Esta é uma mini
orquídea de fácil cultivo e crescimento rápido.
Em matéria de beleza, sua progenitora,
Laelia alaorii, não fica atrás, como podemos comprovar na imagem a seguir.
Laelia alaorii |
Esta é uma min orquídea brasileiríssima, descoberta na década de 1970, no
estado da Bahia. Ela pode ser encontrada em diversos tons rosados, sendo que
a forma completamente branca é mais rara. Tudo nesta orquídea é
miniaturizado, flores, folhas e pseudobulbos. Trata-se de uma mini orquídea
que aprecia elevados níveis de umidade relativa do ar, no ambiente de
cultivo. A luminosidade precisa ser intensa, porém filtrada por uma tela de
sombreamento.
O gênero
Laelia
também traz outra belíssima representante desta categoria de mini orquídeas.
Trata-se da
Laelia lucasiana, também conhecida como Laelia longipes. Neste caso, a curiosidade
fica por conta do seu hábito vegetativo, que é
rupícola. Isto significa que, diferentemente da maioria das orquídeas, que vive
sobre as árvores, a Laelia lucasiana vegeta sobre as pedras. Trata-se
de um ambiente inóspito, frequentemente sob sol pleno, mas que oferece
umidade e alimento a esta mini orquídea graças ao acúmulo de água e material
orgânico nos interstícios entre as rochas, nos quais as raízes se
inserem.
Laelia lucasiana |
Também descende de uma Laelia rupícola a mini
orquídea vermelha
que se tornou o logotipo do blog Orquídeas no Apê. A
Sophrolaelia Jinn, como o nome já indica, é um híbrido primário
resultante do cruzamento entre Sophronitis coccinea e
Laelia milleri.
Sophrolaelia Jinn |
Existe uma grande quantidade de mini orquídeas híbridas que descendem de
orquídeas rupícolas. Outro belo exemplo é a
orquídea laranja
a seguir, fruto do cruzamento entre Sophronitis coccinea e
Laelia flava.
Trata-se de uma interessante mini orquídea, cujo nome científico é
Sophrolaelia Marriotiana. Suas pétalas e sépalas são alaranjadas,
ornamentadas por delicadas venações em vermelho, que também adornam o
labelo, de forma mais intensa. O porte da flor, embora mini, parece
avantajado em relação à parte vegetativa.
Sophrolaelia Marriotiana |
Também em um tom alaranjado, só que mais pastel, tendendo ao coral,
temos a
Sophrolaelia Coral Orb, que descende das espécies Laelia alaorii e
Sophronitis coccinea. Devido à influência das progenitoras, esta
mini orquídea necessita de elevados níveis de umidade relativa do ar.
Não é uma orquídea de fácil cultivo, infelizmente. O uso de vasos
pequenos de plástico, preenchidos com musgo sphagnum, proporciona
um bom desenvolvimento a esta mini orquídea coral.
Sophrolaelia Coral Orb |
Os dois exemplos de mini orquídeas acima citados são, infelizmente, mais
difíceis de serem encontrados no mercado. Um pouco mais comum é a mini
orquídea magenta que vem a seguir, Sophrolaelia Orpetii. Trata-se
de um cruzamento entre Sophronitis coccinea, para variar, e
Laelia pumila. Destacam-se as pétalas bem largas e arredondadas,
com uma excelente armação. A flor fica imensa frente à parte vegetativa
miniaturizada desta orquídea.
Este é um caso típico de orquídea híbrida que fica mais bonita do que os
progenitores, na minha opinião. Dificilmente, encontramos uma
Sophronitis
com pétalas tão grandes e bem posicionadas. A textura da flor desta mini
orquídea é única, brilhando como se fosse coberta por pó de diamante,
quando irradiada pelo sol.
Sophrolaelia Orpetii |
Os últimos quatro exemplos de mini orquídeas, citados acima, pertencem
ao gênero Sophrolaelia. Existem também belíssimos híbridos
resultantes do cruzamento entre Sophronitis e Cattleya.
Muitos representantes do gênero Sophrocattleya são
carinhosamente chamados de mini-catts, no exterior, em
referência ao termo
mini Cattleyas.
É o caso da Sophrocattleya Batemaniana, que descende de
Sophronitis coccinea e Cattleya intermedia. Novamente,
neste caso, cada exemplar é diferente do outro, graças à variabilidade
genética obtida através do cruzamento. No exemplo abaixo, temos uma
belíssima mini orquídea vermelha com pétalas flameadas.
Sophrocattleya Batemaniana |
Outro exemplo típico de mini Cattleya é a
Sophrocattleya Beaufourt, fruto do cruzamento entre
Sophronitis coccinea e Cattleya luteola.
Também no caso desta mini orquídea, existem diversas possibilidades de
coloração para os descendentes do cruzamento. Muitos saem com uma
forma bem arredondada e um amarelo vivo, com uma mancha vermelha no
labelo. O meu exemplar, como podemos observar abaixo, saiu mais
pastel, quase transparente, com as pétalas mais estreitas. Um pouco
decepcionante, eu diria, mas ainda assim um belo exemplo da
diversidade encontrada entre as mini orquídeas.
Sophrocattleya Beaufort |
Os últimos seis exemplos de mini orquídeas, acima apresentados, são
descendentes da famigerada
Sophronitis coccinea. Sendo assim, vamos destacá-la, a seguir.
Sophronitis coccinea |
Trata-se de uma espécie de mini orquídea tipicamente brasileira,
encontrada na Mata Atlântica, em estados do sudeste brasileiro. Como
a cor vermelha é rara na família Orchidaceae, esta espécie
costuma ser utilizada em hibridações, de modo a transferir esta
característica aos seus descendentes. Como pudemos ver acima, isto
nem sempre acontece. No entanto, ela também é uma importante
influência na miniaturização das orquídeas que a possuem em sua
genealogia.
No entanto, esta mini orquídea é considerada de difícil cultivo,
muito frágil e dependente de um clima mais ameno, com bastante
umidade no ambiente, sem que suas raízes fiquem encharcadas. Neste
sentido, ela não tolera calor, sol pleno e nem climas demasiadamente
secos. Infelizmente, esta característica temperamental também é
passada aos seus descendentes, dificultando o cultivo das mini
orquídeas híbridas que possuem esta espécie em sua composição.
Igualmente exigente, mas em uma coloração diferente e belíssima,
temos a
Sophronitis wittigiana.
Sophronitis wittigiana |
Esta espécie de mini orquídea exibe as pétalas e sépalas em uma
interessante tonalidade de rosa antigo, com discretas venações
mais escuras. Como podemos observar na foto acima, a armação do
meu exemplar não é das melhores, mas ainda assim trata-se de um
fantástico exemplo de mini orquídea rosada. Infelizmente, seu
cultivo também não é dos mais tranquilos. Novamente, neste caso, o
vaso de plástico e o musgo sphagnum ajudam a reter a
umidade por mais tempo, facilitando o desenvolvimento desta mini
orquídea. Umidificadores de ar e
bandejas umidificadoras
também ajudam nesta tarefa.
Outra mini orquídea vermelha que vale a pena destacar é a
Sophronitis Arizona, descendente da
Sophronitis coccinea e Sophronitis brevipedunculata.
Mais uma vez, neste caso, a hibridação faz com que o resultado
apresente flores maiores e com melhor armação. Esta seria uma das
minhas mini orquídeas favoritas, não fosse a dificuldade de
cultivo.
Sophronitis Arizona |
Os gêneros Cattleya, Laelia e Sophronitis,
presentes na composição das mini orquídeas acima citadas, são
bastante próximos entre si, do ponto de vista genético, o que
torna possível que diferentes híbridos sejam produzidos a partir
das misturas entre eles. São os chamados híbridos intergenéricos.
Passando a outro gênero, não seria possível falar sobre mini
orquídeas sem mencionar as
mini Phalaenopsis. Diferentemente dos exemplos citados até agora, estas miniaturas
são extremamente fáceis de serem cultivadas, tolerando os
ambientes internos de casas e apartamentos. Nestas localidades,
costumamos ter condições que dificultam o cultivo da maioria das
orquídeas, exigentes quanto à luminosidade e umidade relativa do
ar. O gênero Phalaenopsis, contudo, adapta-se bem a estas
condições artificiais, tolerando até mesmo o fatídico ar
condicionado.
Antigamente, tínhamos no mercado apenas
Phalaenopsis pequenas, mas muito comuns e parecidas com a
Phalaneopsis equestris ou Doritis pulcherrima,
espécies que naturalmente produzem flores em miniatura.
Recentemente, uma onda de novas híbridos invadiu o mercado. São
miniaturas que replicam com perfeição as flores dos exemplares em
tamanho normal, que frequentemente vemos em floriculturas. Estas
novas mini orquídeas têm fascinado o público consumidor, exibindo
uma quase infinita gama de colorações e padronagens em suas
flores. A seguir, alguns dos exemplares que já passaram aqui pelo
apartamento.
Mini Phalaenopsis híbrida |
Mini Phalaenopsis híbrida |
Mini Phalaenopsis híbrida |
Também já vi mini orquídeas com a aparência perfeita daquela
Phalaenopsis cor de vinho, Ever Spring 'Prince', com bordas brancas e uma textura mais
firme, que eu particularmente adoro. Infelizmente, ainda não tive
a oportunidade de fotografar a versão em miniatura desta orquídea.
Já cultivei a de tamanho normal.
O gênero Dendrobium talvez seja uma fonte insuspeita de mini orquídeas. De modo geral, as espécies a ele pertencentes costumam atingir grandes proporções, formando touceiras respeitáveis. Em muitos casos, os pseudobulbos ficam enormes, em altura ou pendentes. Há, contudo, exemplos de miniaturas que merecem ser destacadas. É o caso do Dendrobium kingianum, uma espécie australiana que faz bastante sucesso junto aos colecionadores. Seus pseudobulbos são pequenos e compactos, emitindo delicadas hastes florais a partir de seus ápices, com flores minúsculas em diferentes colorações. Guardadas as devidas proporções, esta mini orquídea lembra uma Denphal em miniatura.
O gênero Dendrobium talvez seja uma fonte insuspeita de mini orquídeas. De modo geral, as espécies a ele pertencentes costumam atingir grandes proporções, formando touceiras respeitáveis. Em muitos casos, os pseudobulbos ficam enormes, em altura ou pendentes. Há, contudo, exemplos de miniaturas que merecem ser destacadas. É o caso do Dendrobium kingianum, uma espécie australiana que faz bastante sucesso junto aos colecionadores. Seus pseudobulbos são pequenos e compactos, emitindo delicadas hastes florais a partir de seus ápices, com flores minúsculas em diferentes colorações. Guardadas as devidas proporções, esta mini orquídea lembra uma Denphal em miniatura.
Dendrobium kingianum |
Outra espécie bastante delicada deste gênero é o
Dendrobium lindleyi. Suas flores me lembram gemas de ovo frito. Os pseudobulbos
são pequenos e imbricados, meio esparramados. Cada haste produz
pequenos cachos de flores amarelas, que dão um show quando
desabrocham concomitantemente. Na minha opinião, uma das mais
belas mini
orquídeas amarelas.
Dendrobium lindleyi |
Por fim, o
Dendrobium loddigesii
é outra mini orquídea que eu destacaria, neste gênero. Seus
pseudobulbos são finos e compridos, formando um emaranhado
bastante confuso, com o tempo. No entanto, suas flores são
belíssimas, exibindo um contraste entre o lilás das pétalas e
sépalas e o amarelo gema do labelo.
Com o tempo de cultivo, esta mini orquídea tende a ficar
pendente. Seus pseudobulbos perdem todas as folhas e ficam
levemente enrugados. Aqui no apartamento, tenho uma dificuldade
imensa para fazer este Dendrobium florescer.
Dendrobium loddigesii |
De modo geral, as orquídeas do gênero
Dendrobium precisam de bastante
luminosidade
para que suas florações ocorram de maneira satisfatória. No
entanto, o fator crucial para que a maioria das espécies
floresça, incluindo as mini orquídeas acima citadas, é o
stress hídrico. Trata-se de uma redução drástica no
fornecimento de água, durante os meses do outono e inverno,
que antecedem o período de floração, que ocorre no início da
primavera. A
adubação
também é suspensa, neste período.
Tratadas desta forma, com frio, fome e sede, as pobres mini
orquídeas do gênero Dendrobium irão produzir abundantes
florações. Caso este procedimento não seja adotado, o mais
provável é que inúmeros
keikis, que são novas brotações, surjam ao longo de seus
pseudobulbos em forma de cana. O Dendrobium loddigesii,
particularmente, produz keikis em abundância.
A lista de gêneros, espécies e híbridos que podem ser
considerados mini orquídeas é imensa. Como sempre saliento
aqui, as fotos e exemplos que apresento no blog são autorais.
Acho antiético e não vejo sentido em usar fotos de outros
cultivadores para ilustrar artigos sobre plantas que nunca
cultivei.
Como vimos ao longo deste artigo, cada mini orquídea requer um
cultivo diferente. Existem espécies epífitas, rupícolas e,
inclusive, terrestres, como o Paradisanthus micranthus.
O importante é que o exemplar em questão seja corretamente
identificado, para que possamos cuidar de cada mini orquídea
de forma diferenciada e personalizada. Também é importante
prestarmos atenção às condições climáticas do nosso local de
cultivo. Não adianta tentar manter uma orquídea originária de
locais frios e úmidos em uma cidade muito quente e seca.
Paradisanthus micranthus |
A luminosidade também varia muito, de espécie para espécie.
Temos exemplos de mini orquídeas que sobrevivem sob sol pleno,
ao passo que outras exigem ambientes bastante sombreados.
Clicando nos links ao longo deste artigo, mais informações e
dicas de cultivo sobre cada mini orquídea citada podem ser
encontradas.
Cultivar e colecionar micro e mini orquídeas é um passatempo sem fim. Com o tempo, vamos aprendendo como lidar com cada uma, ao mesmo tempo em que elegemos nossas preferidas. Sempre vale a pena tentar, ainda que nem sempre seja factível manter todas sob nossas condições de cultivo.
Cultivar e colecionar micro e mini orquídeas é um passatempo sem fim. Com o tempo, vamos aprendendo como lidar com cada uma, ao mesmo tempo em que elegemos nossas preferidas. Sempre vale a pena tentar, ainda que nem sempre seja factível manter todas sob nossas condições de cultivo.
Publicado em: | Última atualização:
Por Sergio Oyama Junior
Bacharel em biologia pela Unicamp, com mestrado e doutorado em bioquímica pela Usp, escreve sobre o cultivo de orquídeas, suculentas, cactos e outras plantas dentro de casas e apartamentos.
São Paulo, SP, Brasil
Bacharel em biologia pela Unicamp, com mestrado e doutorado em bioquímica pela Usp, escreve sobre o cultivo de orquídeas, suculentas, cactos e outras plantas dentro de casas e apartamentos.
São Paulo, SP, Brasil