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Como Plantar Orquídeas em Árvores


Orquídea Phalaenopsis na árvore
| Orquídea Phalaenopsis |

Elas estão por toda parte. Em muitas cidades, tem se popularizado o hábito de plantar orquídeas em árvores, nas calçadas, praças, jardins e condomínios. Trata-se de um ato altruísta, que visa o bem-estar de toda a comunidade. No lugar de guardar a beleza das orquídeas apenas para sua apreciação, muitos vêm se dedicando a compartilhar estas flores, tornando-as publicamente acessíveis nas árvores da redondeza. No entanto, para que esta operação seja bem-sucedida, alguns cuidados devem ser tomados.

As orquídeas que vivem aderidas aos troncos das árvores são chamadas de epífitas. Elas não sugam a seiva da planta, como muitos imaginam. Neste sentido, as orquídeas não são parasitas, trata-se de um mito. Elas apenas utilizam a árvore como um suporte para suas raízes. Tudo o que necessitam é fornecido pelo ambiente ao redor, água, luz e nutrientes resultantes da decomposição de matéria orgânica.


Há, no entanto, muitas outras orquídeas que não estão adaptadas à vida sobre as árvores. É o caso das orquídeas terrestres, tais como a orquídea bambu, Arundina graminifolia. Dentro deste grupo, há ainda as orquídeas rupícolas, como a Laelia lucasiana, que vivem sobre as pedras. Há ainda um caso particular de orquídea terrestre, no qual as raízes assentam-se sobre a camada de húmus formada no chão das florestas, composta por folhas e detritos em decomposição. Trata-se das orquídeas humícolas, tais como a famosa orquídea sapatinho. O representante mais famoso deste grupo é o Paphiopedilum Leeanum. Outro exemplo clássico de orquídea terrestre, frequentemente encontrada nas floriculturas e apreciada pelo público consumidor, é o gênero Cymbidium.

Neste contexto, as orquídeas acima citadas, juntamente com muitas outras, não podem ser plantadas em árvores, uma vez que suas raízes não estão adaptadas ao hábito epífito. Portanto, quando decidimos plantar orquídeas em árvores, é importante escolhermos apenas aquelas que já vivem desta maneira, em seu habitat original. Felizmente, a maioria das orquídeas popularmente encontradas no mercado é formada por plantas epífitas. É o caso das clássicas orquídeas Cattleya e Dendrobium, por exemplo. Também é comum encontrarmos a popular orquídea chuva de ouro, do gênero Oncidium, nas árvores das cidades. No entanto, a orquídea mais frequentemente utilizada para este fim é, sem dúvida, a Phalaenopsis, como o exemplar que ilustra este artigo, na foto de abertura.

Há ainda uma outra questão a ser observada. Indo um passo além, o ideal seria plantar orquídeas nativas nas árvores que já ocorrem naturalmente no país. Dentre as orquídeas epífitas acima citadas, muitas são originárias do continente asiático. Apenas os gêneros Cattleya e Oncidium possuem espécies genuinamente brasileiras. É o caso da Cattleya labiata, Cattleya walkeriana e Oncidium flexuosum, por exemplo. Atualmente, existe um forte movimento que incentiva o uso de espécies nativas no paisagismo das cidades, frequentemente dominado por plantas exóticas, vindas de outros países. A escolha de orquídeas epífitas brasileiras para o plantio em árvores seria uma excelente atitude, em consonância com este movimento.


Escolhida a orquídea, devemos passar a selecionar a melhor árvore hospedeira. É preciso prestar atenção a este detalhe, já que nem todas as árvores são propícias para o plantio de orquídeas. Muitas árvores perdem a camada mais externa de seus troncos, denominada periderme, periodicamente. O caso mais célebre é o do sobreiro, Quercus suber, a árvore utilizada para a extração da cortiça. Pitangueira e goiabeira também são exemplos de árvores que soltam a casca, dificultando a fixação das raízes das orquídeas em seus troncos.

Também é preciso prestarmos atenção ao comportamento da copa da árvore em questão. Se ela for muito densa, como é o caso da mangueira, algumas orquídeas que necessitam de mais luminosidade, como a Cattleya walkeriana, podem não florescer adequadamente, se afixadas em seu tronco. No extremo oposto, árvores que perdem totalmente suas folhas, em determinadas estações do ano, podem expor as orquídeas ao sol pleno, causando queimaduras em suas folhas.

De modo geral, árvores perenes, cujas folhas permanecem verdes ao longo de todo o ano, com troncos rugosos, como é o caso das produtoras de frutas cítricas, costumam ser recomendadas para a afixação de orquídeas. No mais, é sempre uma questão de observação, tentativa e erro.


Andando pelas ruas da cidade, aqui em São Paulo, é comum encontrarmos orquídeas que são colocadas nas árvores com vaso e tudo. Até o arame que dava suporte à haste floral vai junto. Esta é uma prática que deve ser evitada, uma vez que o vaso e substrato dificultam, ou mesmo impossibilitam, a fixação das raízes das orquídeas nos troncos das árvores. Além disso, os vasos são um abrigo ideal para pragas dos mais variados tipos, principalmente pulgões e cochonilhas. O ideal é retirarmos todo o material, deixando as raízes livres para que possam se aderir o mais rapidamente à nova morada. Apenas um pequeno punhado de musgo sphagnum podem ser adicionado externamente, para ajudar a manter a umidade, até que novas raízes surjam.

O material para plantar a orquídea na árvore deve ser macio e maleável. Deve-se evitar a utilização de arames, que impedem o crescimento da planta. Barbantes de algodão, fitilhos ou mesmo meia calça são excelentes materiais, já que não sufocam a orquídea e vão se desintegrando com o tempo, permitindo que a orquídea cresça e expanda suas raízes.


A grande vantagem de se cultivar orquídeas em árvores é que, depois deste trabalho inicial, nada mais precisa ser feito. Sob estas condições, não há necessidade de regar ou adubar a orquídea. Tudo o que ela necessita será fornecido pela natureza, ainda que a árvore esteja em uma calçada, no meio do caos urbano. Para que tudo dê certo, é muito importante respeitar o ciclo de vida da orquídea, para escolher o melhor momento de fazer a transição do vaso para a árvore. O ideal é que a planta esteja emitindo novos brotos e raízes. Alguns momentos são inapropriados para retirarmos uma orquídea do vaso, tais como o período de floração ou dormência. De modo geral, é aconselhável aguardar a chegada da primavera, quando as temperaturas estão em elevação e o metabolismo da orquídea está mais ativo.

Tomados estes cuidados, o plantio de orquídeas em árvores é um processo extremamente prazeroso e gratificante. Não há aquele egoísmo de encarcerarmos a planta para que somente nós a apreciemos. Muitos porteiros e zeladores de condomínios adquiriram este hábito, reaproveitando orquídeas que são descartadas pelos moradores, após o término de suas florações. Têm sido eles importantes agentes de transformação da paisagem urbana, amenizando o ambiente inóspito com flores.

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Bacharel em biologia pela Unicamp, com mestrado e doutorado em bioquímica pela Usp, escreve sobre o cultivo de orquídeas, suculentas, cactos e outras plantas dentro de casas e apartamentos.

São Paulo, SP, Brasil