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As Exóticas Espécies de Micro Orquídeas


Micro Orquídea Ornithophora radicans
| Ornithophora radicans |

Dentro do diversificado e surpreendente universo de representantes da família Orchidaceae, destacam-se aquelas espécies de orquídeas cujo principal atrativo é seu tamanho diminuto. São as chamadas micro orquídeas, miniaturas que atraem uma legião de admiradores e colecionadores ao redor do mundo. Existem orquidófilos especializados no cultivo de micro orquídeas, sendo inclusive referências na identificação das diferentes espécies, o que costuma ser um desafio de grande complexidade. A seguir, conheceremos melhor esta exótica categoria de orquídeas em miniatura.

Quem são as micro orquídeas


Existe uma grande confusão sobre os parâmetros que levam uma orquídea a ser considerada mini ou micro. Ao contrário do que se costuma imaginar, não existe uma categoria específica de orquídeas que se enquadram na denominação de micro orquídeas. Não existem parâmetros científicos rígidos para a classificação de mini ou micro orquídeas. Trata-se de um termo popular, que pode ser utilizado para designar orquídeas que apresentam pequeno porte, seja em relação ao seu aspecto vegetativo, seja em relação às suas flores.


De forma bastante genérica, alguns cultivadores costumam enquadrar na categoria de micro orquídeas aquelas plantas cujas flores medem menos de um centímetro. Mas é algo que não precisa ser seguido à risca, existem várias exceções, como veremos a seguir.

Micro Orquídea Oncidium pumilum
Oncidium pumilum

Neste contexto, as chamadas micro orquídeas podem estar distribuídas em uma vasta gama de gêneros e espécies, havendo inclusive representantes híbridos que se encaixam nesta denominação. Frequentemente, as flores de muitas micro orquídeas somente podem ser observadas através de uma lupa. Em outros casos, elas são relativamente grandes, quando comparadas ao tamanho de suas folhas e pseudobulbos. O que acontece, na maioria dos casos, é que as micro orquídeas são pequenas como um todo, flores e partes vegetativas. Ao longo deste artigo, conheceremos apenas algumas espécies representantes deste universo mágico. Apresentarei fotos de micro orquídeas que já cultivei aqui no apartamento.

Na imagem de abertura desta matéria, temos a micro orquídea Ornithophora radicans, uma das primeiras da minha coleção aqui no apartamento. Trata-se de uma pequena joia da Mata Atlântica brasileira, ocorrendo predominantemente nos estados do sul e sudeste do país. Este é um caso clássico de micro orquídea, onde tudo é miniaturizado: pseudobulbos, folhas e flores. Embora esta micro orquídea tenha sido descoberta e descrita durante o século XIX, foi somente no início do novo milênio, em 2003, que pesquisadores brasileiros descobriram uma nova substância química em suas micro flores, o oncidinol, um óleo floral cuja função é atrair polinizadores.


Logo abaixo, temos a foto da incrível micro orquídea amarela, Oncidium pumilum. Embora tenha sido descoberta em 1825, recentemente alguns pesquisadores resolveram alterar sua nomenclatura, passando a chamá-la de Lophiaris pumila. Este é um caso de mico orquídea cuja parte vegetativa é bem avantajada, comparável à da maioria das orquídeas de tamanho dito normal. Neste caso, o que chama a atenção é a dimensão reduzida das flores, que ocorrem em abundância, aos cachos, em hastes florais bastante ramificadas. Esta é uma das muitas orquídeas cuja floração lembra uma chuva de ouro, apelido dado a várias orquídeas do gênero Oncidium.

Micro Orquídea Oncidium pumilum
Oncidium pumilum

Outra espécie clássica de micro orquídea, bastante apreciada pelos colecionadores, é a Capanemia superflua. Novamente, neste caso, temos uma orquídea que é pequena em todos os aspectos. Além disso, é bastante delicada, sendo uma planta considerada de difícil cultivo. O gênero desta micro orquídea homenageia o barão de Capanema. Quando bem cultivada, esta micro orquídea forma densas e delicadas touceiras, cuja floração costuma ser um espetáculo para os olhos. Obviamente que, aqui no apartamento, nunca cheguei nem perto disso. O máximo que obtive foi a haste floral solitária abaixo, que já me encheu de alegria.

Micro orquídea Capanemia superflua
Capanemia superflua

Dentro desta seleção de espécies de micro orquídeas que já passaram pelas minhas mãos, não poderia deixar de citar o Phymatidium delicatulum. Seu porte vegetativo é ainda menor do que o da Capanemia superflua. Olhando de longe, suas folhas assemelham-se a pequenos tufos de musgo. A floração também não deixa a desejar, em matéria de delicadeza e tamanho reduzido. Uma pequena joia em miniatura, sem sombra de dúvida. O interessante desta micro orquídea é que, frequentemente, suas flores são espontaneamente polinizadas, formando pequenas cápsulas de sementes, que são menores do que a cabeça de um alfinete.

Micro Orquídea Phymatidium delicatulum
Phymatidium delicatulum

Também podemos citar uma micro orquídea de nome real, Isabelia pulchella, assim nomeada em homenagem à Dona Isabel I, filha de Dom Pedro II. Trata-se de uma belíssima espécie de orquídea em miniatura, que apresenta delicadas flores em um tom intenso de magenta.

Micro Orquídea Isabelia pulchella
Isabelia pulchella

Voltando às orquídeas amarelas, outra miniatura digna de nota é a Pleurothallis sonderana, que também atende pelo nome de Acianthera sonderana. Esta é outra micro orquídea que tende a entouceirar, formando delicadas moitas verdes que explodem em amarelo, quando florescem. Novamente, na imagem abaixo, temos apenas uma pequena amostra do que já passou aqui pelo apartamento, em termos desta espécie de micro orquídea.

Micro Orquídea Pleurothallis sonderana
Pleurothallis sonderana

Embora sejam diminutas, uma característica marcante que a maioria das micro orquídeas apresenta é seu acentuado perfume. O tamanho reduzido das flores é compensado pelo poder do aroma, no árduo trabalho de atrair os agentes polinizadores. Neste quesito, existem vários exemplos dignos de nota. O próprio Oncidium pumilum, já apresentado anteriormente, é conhecido pelo forte aroma adocicado que suas minúsculas flores exalam. Para muitos, este perfume lembra o mel.


No entanto, um dos casos mais emblemáticos de micro orquídea perfumada é o polêmico Oncidium ornithorhynchum, cujo nome científico verdadeiro é Oncidium sotoanum. Trata-se de uma orquídea cujas pequenas flores em tons de pink exalam um intenso aroma de difícil identificação. Uns amam, outros odeiam. Já li relatos de pessoas que sentem os cheiros mais discrepantes, desde ovo podre até água sanitária. Alguns citam remédio, outros talco de bebê. Eu percebo um aroma de ovo, para ser bem sincero. De qualquer forma, é um perfume único e bastante marcante.

Micro Orquídea Oncidium ornithorhynchum
Oncidium ornithorhynchum

Curiosamente, uma micro orquídea híbrida, descendente do Oncidium ornithorhynchum, possui um aroma mais agradável. Trata-se de outra belíssima chuva de ouro, cujo nome científico é Oncidium Twinkle 'Yellow Fantasy'. Suas hastes florais repletas de minúsculas flores amarelas costumam exalar um aroma adocicado de baunilha. Este perfume lembra vagamente aquele exalado pela clássica orquídea chocolate. Existem outras variedades deste híbrido, nas cores branca e vinho, que também são igualmente perfumadas.

Micro Orquídea Oncidium Twinkle 'Yellow Fantasy'
Oncidium Twinkle 'Yellow Fantasy'

Novamente, tanto o Oncidium ornithorhynchum quanto o Oncidium Twinkle possuem a parte vegetativa bem avantajada, nada devendo às orquídeas de tamanho regular. Em ambos os casos, a característica que pode remetê-las à classificação de micro orquídeas é o tamanho diminuto de suas flores.

Outra micro orquídea amarela que se encaixa nesta situação é o Dendrochilum filiforme. Esta é uma das minhas micro orquídeas favoritas, graças ao formato único e exótico de sua haste floral. No exterior, ela é conhecida como the golden chain orchid, ou a orquídea da corrente dourada. Este é um caso de micro orquídea em que a analogia a joias é mais apropriada do que nunca.

Micro Orquídea Dendrochilum filiforme
Dendrochilum filiforme

Agora, passando a orquídeas cujas flores são um pouco maiores, mas ainda assim são frequentemente associadas ao universo das micro orquídeas, temos vários representantes dos gêneros Rodriguezia e Masdevallia, apenas para citar alguns. São orquídeas de porte compacto, principalmente no que se refere à parte vegetativa. Suas flores ultrapassam o limite arbitrário de um centímetro, mas ainda assim são exemplos dignos de nota.

Uma micro orquídea pela qual tenho paixão é a Rodriguezia venusta. Ela é conhecida popularmente como orquídea véu de noiva. De fato, suas florações lembram pequenos bouquets de noiva, em delicadas cascatas de flores brancas.

Micro Orquídea Rodriguezia venusta
Rodriguezia venusta

Portando flores ainda um pouco maiores, a Masdevallia infracta é outra espécie de micro orquídea bastante exótica. Seu porte vegetativo é bem pequeno e delicado, principalmente quando comparado ao tamanho de suas flores, mais altivas e de aspecto abstrato escultural. Elas podem ocorrer em uma grande variedade de cores, mas é a forma amarela a que mais me chama a atenção.

Micro Orquídea Masdevallia infracta amarela
Masdevallia infracta amarela

Ainda neste mesmo gênero, outra micro orquídea bastante interessante é a Masdevallia discoidea. Tanto a textura como a exótica combinação de cores de suas flores são elementos dignos de nota.

Micro Orquídea Masdevallia discoidea
Masdevallia discoidea

Outro gênero que tem interessantes micro orquídeas é a Maxillaria. A famosa orquídea negra, genuinamente brasileira, é a Maxillaria schunkeana. Infelizmente, não tenho uma foto desta bela micro orquídea para mostrar a vocês. Em compensação, trago a Maxillaria tenuifolia, que é conhecida por exalar um interessante aroma de coco queimado.

Micro Orquídea Maxillaria tenuifolia
Maxillaria tenuifolia

Como provavelmente já repararam, estou sorrateiramente aumentando o tamanho das flores apresentadas neste artigo como micro orquídeas. Mas, como exposto anteriormente, não se trata de uma classificação rígida. Muito provavelmente, as Masdevallias e Maxillarias poderiam ser chamadas de mini orquídeas. O mesmo talvez se aplique ao caso da Sophronitis cernua, por exemplo.  Há ainda casos como o do Dendrobium purpureum, que apresenta claramente flores minúsculas, mas raramente são mencionadas como micro orquídeas. O importante, nesta curadoria, é apresentar uma grande gama de gêneros, espécies e híbridos de orquídeas em miniatura, cujas flores apresentam as mais diferentes formas, cores e aromas.

A seleção de micro orquídeas é muito mais extensa e diversificada do que a apresentada aqui. Temos os gêneros Barboesella, BulbophyllumDryadella, Octomeria, entre muitos outros que não tive a oportunidade de cultivar. Também não acho ético ficar roubando as fotos de outros cultivadores, apenas para escrever este artigo.

Como cuidar de micro orquídeas


Da mesma forma que não existem parâmetros rígidos que distinguem mini orquídeas de micro orquídeas, ou simplesmente de orquídeas em geral, também as condições de cultivo não são únicas para todas as espécies ou híbridos.

De modo geral, as micro orquídeas são plantas mais delicadas, que não toleram condições climáticas muito extremas. Elas apreciam ambientes mais sombreados, sem sol direto, mas com bons níveis de luminosidade indireta. Muitos cultivadores recomendam a utilização de telas de sombreamento em porcentagens maiores, tais como 70%, em que a trama é mais fechada e filtra mais intensamente os raios solares.


Caso as micro orquídeas sejam cultivadas em árvores, estas precisam portar copas mais densas, que protejam as plantas do sol direto. Também é preciso ficar atento para o fato de algumas árvores perderem suas folhas, em determinadas estações do ano, fato que pode colocar em risco a vida das micro orquídeas.

Por outro lado, locais muito sombreados ou com iluminação insuficiente podem impedir que as micro orquídeas floresçam. É importante encontrar o equilíbrio ideal para cada espécie ou híbrido cultivados.


Muitos podem acreditar que cultivar micro orquídeas em apartamento seja uma boa ideia, já que são plantas que não ocupam muito espaço e não requerem muita luminosidade. De fato, estes são pontos favoráveis. No entanto, o que muitos se esquecem é que as micro orquídeas são extremamente exigentes quanto aos níveis de umidade relativa do ar.

Para quem cultiva plantas em casas, apartamentos ou escritórios, a falta de umidade no ambiente é um dos pontos mais problemáticos. Todos os tecidos, como os presentes em cortinas, tapetes e estofados, tendem a retirar a umidade do ar. Desta forma, ambientes internos tendem a apresentar baixos níveis de umidade relativa do ar, o que é prejudicial não somente às plantas, mas também à saúde de humanos e animais domésticos.

Uma forma de contornar este problema é através do uso de bandejas umidificadoras. Elas podem ser improvisadas, bastando que os recipientes contenham uma camada de pedrisco, brita ou argila expandida, com uma lâmina de água no fundo. Os vasos com as micro orquídeas são agrupados por cima destas estruturas, que vão fornecer umidade às plantas, sem que suas raízes toquem diretamente a água, ficando encharcadas e correndo o risco de apodrecerem.

Outra forma bastante eficiente de aumentar os níveis de umidade relativa do ambiente é a utilização de equipamentos apropriados para este fim, como umidificadores ultrassônicos de ar.


Micro orquídeas são, de maneira geral, plantas epífitas. Isto quer dizer que elas estão adaptadas à vida sobre outras plantas. Desta forma, o ideal é que estas orquídeas sejam cultivadas com as raízes livres, aderidas aos troncos das árvores.

No ambiente doméstico, como isso nem sempre é possível, utilizamos vasos como meio de reter a umidade em torno das raízes por mais tempo. O material depende do clima predominante no ambiente de cultivo. Locais com bons níveis de umidade podem abrigar vasos de barro, que secam mais rapidamente e permitem que as raízes das micro orquídeas fiquem mais arejadas. Os vasos de plástico, por sua vez, são recomendados para quem cultiva orquídeas em ambientes mais secos, já que eles ajudam a manter o substrato úmido por mais tempo.

Existem substratos próprios para o cultivo de orquídeas à venda em lojas especializadas. De modo geral, eles são compostos por uma mistura de casca de pinus, carvão vegetal e fibra de coco. Alternativamente, há quem acrescente musgo sphagnum, que ajuda a aumentar a retenção da umidade em torno das raízes. No caso específico do cultivo de micro orquídeas, a combinação de vaso de plástico e musgo sphagnum puro é bem interessante, principalmente para quem tem problemas com ambientes de cultivo muito secos.


Neste caso, é preciso ficar atento à frequência das regas, que não pode ser muito elevada. O importante é esperar que o substrato seque bem, antes de regar novamente. O excesso de umidade em torno das raízes, por um período prolongado de tempo, é o fator mais comum que leva ao apodrecimento das raízes e consequente desidratação da micro orquídea.

Micro orquídeas são plantas que não requerem um esquema muito complexo de adubação. Na natureza, estas orquídeas sobrevivem com muito pouco, que é fornecido pela água da chuva, detritos que caem das copas das árvores ou dejetos de pequenos animais. Os fertilizantes próprios para orquídeas são os mais indicados, podendo ser químicos (inorgânicos) ou orgânicos. Também há os adubos mistos, chamados de organominerais. O importante é que formulações de manutenção e floração sejam administradas de forma alternada, de modo a garantirem um bom desenvolvimento das micro orquídeas.


Embora muitas micro orquídeas sejam conhecidas por seu cultivo mais difícil, existem aquelas que são bastante resistentes, principalmente os híbridos de Oncidium, por exemplo. O importante, em todos os casos, é termos a correta identificação das plantas que cultivamos, para assim pesquisarmos sobre suas necessidades específicas. Para quem gosta de plantas e flores pequenas e delicadas, as micro orquídeas são uma paixão viciante. Muitos dos orquidófilos que concederam entrevistas ao blog, como Masuji Kayasima e Maria Rita Cabral, são especialistas no cultivo destas pequenas joias da natureza.

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Bacharel em biologia pela Unicamp, com mestrado e doutorado em bioquímica pela Usp, escreve sobre o cultivo de orquídeas, suculentas, cactos e outras plantas dentro de casas e apartamentos.

São Paulo, SP, Brasil