| Phragmipedium Sedenii | |
Todas as pessoas que gostam de cuidar de orquídeas, com as quais já conversei, invariavelmente se dizem apaixonadas por esta
orquídea sapatinho
cor de rosa. De fato, o Phragmipedium Sedenii é conhecido por produzir
graciosos tamancos holandeses, de forma sequencial, ao longo de meses. Muitos
chamam esta orquídea carinhosamente de sapatinho de princesa. De fato, parece!
Ao contrário do seu primo marrom,
Paphiopedilum Leeanum, que é bastante comum nas coleções, a versão rosada da orquídea
sapatinho é mais rara e cobiçada.
Trata-se de um híbrido primário, o que significa que ele é resultado do
cruzamento entre apenas duas espécies distintas: Phragmipedium longifolium
e Phragmipedium schlimii. É pouco quando comparado aos complexos
cruzamentos envolvendo outros gêneros de
orquídeas. Nestes casos, os indivíduos resultantes são chamados de híbridos
intergenéricos.
O cruzamento que originou o Phragmipedium Sedenii é bastante antigo.
Ele foi realizado pela primeira vez ainda no século XIX, em 1873. Todos os
representantes do gênero Phragmipedium são originários do continente
americano. As orquídeas sapatinho do gênero Paphiopedilum, por sua vez,
são asiáticas.
Phragmipedium Sedenii |
Esta orquídea sapatinho rosada costuma causar uma certa confusão em relação à
sua nomenclatura. É muito comum que algumas pessoas, inclusive vendedores de
orquídeas, a confundam com o Phragmipedium Cardinale. Outros usam os
dois termos, Sedenii e Cardinale, indistintamente, referindo-se à mesma
planta. Na verdade, trata-se de um equívoco. O Phragmipedium Cardinale
é um outro híbrido, resultado de um processo chamado de retrocruzamento. Como
já vimos, o Phramipedium Sedenii é resultado do cruzamento entre
Phragmipedium longifolium e Phragmipedium schlimii. O Cardinale,
por sua vez, é fruto do cruzamento do Phragmipedium Sedenii com o
Phragmipedium schlimii, novamente. Este é o retrocruzamento, onde o
filho é cruzado de volta com um de seus progenitores.
O resultado pode ser observado na aparência. O Phragmipedium Cardinale
é muito mais parecido com a espécie schlimii, principalmente no que
tange ao labelo modificado em forma de bolsa. Neste híbrido, o tamanquinho é
menor, mais compacto e arredondado. O formato lembra o de uma abóbora moranga.
Além disso, as pétalas laterais do Cardinale são mais alargadas e não são
retorcidas, como acontece com o Phragmipedium Sedenii, a orquídea
sapatinho em destaque neste artigo.
Phragmipedium Sedenii |
Confusões à parte, o importante é sabermos que esta é uma orquídea terrestre, ao contrário da vasta maioria que possui hábito epífito, tais como
Cattleya,
Dendrobium
e
Phalaenopsis. O Phragmipedium Sedenii também pode ser considerado humícola, já que
seus progenitores costumam viver sobre a camada de húmus que se acumula no
solo, resultado da decomposição das folhas e galhos que caem das árvores.
Portanto, precisamos resistir à tentação de amarrar todas as orquídeas que
encontramos nos troncos das árvores. No caso desta orquídea sapatinho rosada,
o certo é plantá-la em vasos ou diretamente no chão.
Outro aspecto interessante do hábito de vida do Phragmipedium Sedenii é
que as espécies que o originaram são provenientes de habitats localizados às
margens de rios, em áreas de várzea. Por este motivo, suas raízes estão
acostumadas a elevados índices de umidade. Esta é uma das poucas orquídeas que
não se ressentem do
excesso de regas. Seu substrato pode e deve ficar sempre úmido.
Substrato este que pode ser composto por uma grande variedade de materiais.
Geralmente, utiliza-se uma mistura de terra, casca de pinus, carvão vegetal e
fibra de coco. Alternativamente, há quem cultive o
Phragmipedium Sedenii em musgo sphagnum puro. Eu costumo
utilizar este material, que possui a capacidade de reter grandes quantidades
de água por bastante tempo, aliado ao vaso de plástico, que também ajuda a
manter a umidade em torno das raízes. Bandejas com pedrisco e água também
podem ser colocadas sob o vaso, de modo a auxiliar ainda mais na elevação dos
índices de umidade relativa do ar no ambiente de cultivo.
Phragmipedium Sedenii |
Esta orquídea sapatinho cor de rosa é bastante sensível ao excesso de sais
minerais dissolvidos na água. Muitos cultivadores utilizam água de chuva ou
mesmo água destilada para efetuar as regas. O importante é que a
adubação
seja feita de modo espaçado e que o substrato seja bem irrigado, de modo a
permitir que o excesso de fertilizante escoe por baixo do vaso. Eu costumo
utilizar metade da dose recomendada pelo fabricante. Tendo a evitar adubos
orgânicos, que se decompõem, exalam odores desagradáveis e atraem insetos.
Qualquer formulação específica para orquídeas, do tipo NPK, com macro e
micronutrientes, será mais do que suficiente.
A luminosidade precisa ser um pouco mais intensa do que aquela requerida pelas
orquídeas sapatinho do gênero
Paphiopedilum. O ideal é que o sol seja filtrado por uma tela de sombreamento, do tipo
50%. Níveis de luminosidade próximos aos utilizados no cultivo de
Cattleyas são ideais para que o Phragmipedium Sedenii cresça e
floresça bem. Embora ele até tolere algum sol direto, o melhor é evitá-lo,
principalmente nas horas mais quentes do dia.
Aqui no apartamento, esta orquídea sapatinho cor de rosa não tem uma época
definida para florescer. Este fenômeno pode acontecer até mais de uma vez por
ano, graças à natureza híbrida da orquídea. O mais interessante é que, uma vez
que a haste floral surge, várias flores sequenciais são produzidas, uma atrás
da outra, ao longo de meses. O ponto curioso desta floração é que as flores
não murcham antes de caírem. Frequentemente, vemos flores intactas caídas no
chão. Em um primeiro momento, achei que fosse algum animal que estivesse
derrubando as coitadas. Mas é um processo normal, as orquídeas do gênero
Phragmipedium são conhecidas por perderem suas flores ainda no auge de
suas formas.
Phragmipedium Sedenii |
Apesar da relativa dificuldade em encontrar esta simpática orquídea no
mercado, a procura vale a pena. O mais provável é que ela seja encontrada em
exposições de orquídeas, nas áreas de vendas. Este é o tipo de orquídea que
não encontraremos nos supermercados, floriculturas ou garden centers.
Caso a fonte seja de confiança, pode-se tentar adquiri-la através de um
fornecedor que envie pela internet. Neste caso, todo o cuidado é pouco.
Publicado em: | Última atualização:
Por Sergio Oyama Junior
Bacharel em biologia pela Unicamp, com mestrado e doutorado em bioquímica pela Usp, escreve sobre o cultivo de orquídeas, suculentas, cactos e outras plantas dentro de casas e apartamentos.
São Paulo, SP, Brasil
Bacharel em biologia pela Unicamp, com mestrado e doutorado em bioquímica pela Usp, escreve sobre o cultivo de orquídeas, suculentas, cactos e outras plantas dentro de casas e apartamentos.
São Paulo, SP, Brasil