| Paphiopedilum Leeanum | |
Dentre as várias espécies de plantas popularmente conhecidas como
orquídea sapatinho, o Paphiopedilum Leeanum é, sem dúvida, o mais cultivado em todo o
Brasil. Apesar de ter sua origem nos países do sudeste asiático, esta orquídea
exótica adaptou-se perfeitamente ao clima brasileiro, podendo ser encontrada
nas mais diferentes coleções, de orquidófilos ou não. Por ser uma orquídea de
hábitos
terrestres, costuma ser cultivada por nossas mães e avós como uma simples planta de
jardim. A seguir, informações e dicas de cultivo desta simpática
orquídea Paphiopedilum, cujas flores se parecem com pequenos tamancos holandeses.
O Paphiopedilum Leeanum é um híbrido primário, o que significa que esta
orquídea
é resultante do cruzamento entre apenas duas espécies diferentes:
Paphiopedilum insigne e Paphiopedilum spicerianum. Trata-se de
um clássico, já que seu registro ocorreu em 1884. Desde então, vem sendo
cultivado e comercializado como planta ornamental em todo o mundo, muito
embora alguns colecionadores mais puristas torçam o nariz para
orquídeas
híbridas e comuns.
Paphiopedilum Leeanum |
Mas esta pobre orquídea underappreciated tem lá suas armas de sedução.
Trata-se de uma planta extremamente resistente. Ela cresce em qualquer lugar,
pouco importando-se com a natureza do vaso ou do substrato. Vai muito bem em
vasos de plástico, de terracota, plantada em terra vegetal, substrato para
orquídeas ou em uma mistura de ambos.
Tecnicamente, o Paphiopedilum Leeanum é considerado uma orquídea
humícola. Isto significa que as espécies progenitoras deste híbrido viviam com
suas raízes assentadas sobre a camada de húmus que se forma no chão da
floresta, resultante do acúmulo de folhas secas e detritos de animais. Muito
embora este seja um caso especial de hábito terrestre, a orquídea
Paphiopedilum adapta-se bem ao cultivo em substrato utilizado para
orquídeas epífitas, composto por casca de pinus, carvão vegetal e fibra de
coco. Para se aproximar à composição do solo em seu habitat natural, podemos
acrescentar uma terra rica em matéria orgânica a esta mistura.
Qualquer que seja a condição de cultivo, o Paphiopedilum Leeanum vai
crescer desesperadamente. Seus leques de folhas produzem inúmeras brotações
laterais, fazendo com que o vaso entouceire rapidamente. Quanto mais antiga
for a orquídea, mais espetacular será sua floração.
Como acontece com todas as orquídeas, deve-se tomar cuidado com o excesso na
frequência das
regas
do Paphiopedilum Leeanum. Embora suas raízes não sejam tão sensíveis em
relação ao acúmulo de água no substrato, como acontece com as orquídeas
epífitas, convém esperar que o material tenha a oportunidade de secar, antes
de regar a planta novamente. Pelo mesmo motivo, convém evitar o uso do
pratinho sob o vaso, que pode acumular a água das regas e favorecer a
proliferação do mosquito da dengue.
O vaso pode ser montado como o de qualquer outra planta ornamental. É
importante que ele tenha uma boa camada de drenagem no fundo, composta por
pedrisco, argila expandida ou brita. Por cima deste material, pode-se colocar
uma manta geotêxtil, que vai impedir que o solo se perca durante as regas. O
substrato, na composição que pode variar bastante, vai por cima desta manta.
Por ocasião do plantio, é importante que os leques do
Paphiopedilum Leeanum fiquem firmes. Se o vaso for grande demais, ou se
a muda ficar solta no vaso, balançando, as raízes terão mais dificuldade em se
desenvolver e dar estabilidade à planta. Eu costumo plantar a orquídea
Paphiopedilum com tutores de arame ou madeira, que funcionam como
raízes provisórias, até que a planta se fixe ao vaso.
Este meu exemplar foi comprado no ano passado, com três flores abertas. Neste
ano, com a planta já ocupando todo o vaso, a floração aumentou. Foram quatro
hastes florais, sendo que uma delas produziu flores gêmeas. Um espetáculo de
cinco sapatinhos em um arranjo naturalmente harmonioso. Tenho pavor de colocar
arames, espetos e paus para manter cada haste floral ereta. Acho que é um
misto de medo, dó e preguiça. Portanto, deixo que as flores resolvam-se por
conta própria, em busca de seu espaço ao sol.
Paphiopedilum Leeanum |
Outro atributo interessante desta orquídea sapatinho é que ela não necessita
de altos níveis de
luminosidade
para produzir flores. Qualquer luz indireta, no interior de casas e
apartamentos, já é suficiente para induzir a floração. O nível de luminosidade
exigido pela orquídea Paphiopedilum é semelhante àquele fornecido à
orquídea
Phalaenopsis. Claro que, quanto maior a luminosidade fornecida, melhores e mais
abundantes serão as flores.
O Paphiopedilum Leeanum chega a tolerar inclusive algum sol direto,
excetuando-se as horas mais quentes do dia. Aqui no apartamento, já obtive
florações desta orquídea dentro do meu quarto, em um local próximo a uma
janela face oeste. Trata-se de uma planta bastante versátil, que pode
inclusive ser cultivada no jardim, plantada diretamente no chão, desde que em
um local protegido do sol muito intenso.
Além da luminosidade, outro quesito importante para se obter boas florações da
orquídea Paphiopedilum Leeanum é a
adubação. Ainda que o solo seja rico em matéria orgânica, convém fornecer um adubo do
tipo NPK, mais rico em fósforo (P), para estimular o surgimento das flores. Eu
costumo alternar fórmulas para manutenção e floração, semanalmente.
Esta é uma orquídea que floresce pontualmente, uma vez ao ano, durante os
meses de outono e inverno. É bastante comum que muitos cultivadores costumem
ser presenteados com flores sempre na época do dia das mães. Aqui no
apartamento, elas surgem um pouco mais tarde, na entrada do inverno.
Paphiopedilum Leeanum |
A multiplicação da orquídea Paphiopedilum Leeanum é bastante rápida e
tranquila. Basta esperar que a planta forme uma boa touceira, para então
dividi-la. É bom evitar separar um leque isoladamente, que terá menos forças
para continuar seu desenvolvimento em um novo vaso. De maneira geral, o ideal
é que ao menos três leques estejam presentes em cada divisão.
Todas estas características tornam bastante democrático o cultivo desta
orquídea. Qualquer cantinho iluminado pode abrigar uma bela touceira de
sapatinhos. Como se não bastassem tantas vantagens, o
Paphiopedilum Leeanum ainda nos presenteia com florações muito
duradouras. Cada flor passa meses aberta, mantendo-se viçosa por longos
períodos. Ela só não tem
perfume, infelizmente.
Publicado em: | Última atualização:
Por Sergio Oyama Junior
Bacharel em biologia pela Unicamp, com mestrado e doutorado em bioquímica pela Usp, escreve sobre o cultivo de orquídeas, suculentas, cactos e outras plantas dentro de casas e apartamentos.
São Paulo, SP, Brasil
Bacharel em biologia pela Unicamp, com mestrado e doutorado em bioquímica pela Usp, escreve sobre o cultivo de orquídeas, suculentas, cactos e outras plantas dentro de casas e apartamentos.
São Paulo, SP, Brasil