| Cattleya walkeriana caerulea | |
Hoje, para fugirmos da mesmice proporcionada pelas
orquídeas
que sempre apresento aqui no blog, resolvi levá-los a um tour virtual por
algumas das orquídeas mais raras da coleção particular do orquidófilo
Yoshio Sano, que já concedeu uma entrevista a esta publicação, alguns anos atrás. Embora
este colecionador de renome internacional seja reverenciado por sua belíssima
coleção de
Cattleya walkeriana, que abriga plantas perfeitas como o exemplar cerúleo da foto que abre esta
matéria, existem muito mais raridades escondidas em seu acervo. Também estão
presentes variedades raras das orquídeas
Sophronitis cernua
e
Sophronitis coccinea, como veremos a seguir.
Orquídeas
podem ser raras por diferentes razões. Muitas, infelizmente, foram coletadas
de forma predatória e encontram-se extintas na natureza. Portanto, existem
orquídeas raras devido ao fato de simplesmente não existirem mais em seu
habitat de origem, muito embora estejam presentes nas coleções e nas árvores
de outras regiões. Sendo assim, devido exatamente a este trabalho de coleta,
muitas orquídeas consideradas raras encontram-se preservadas em coleções de
orquidófilos em diferentes partes do mundo, além de terem sido introduzidas em
outros habitats.
Vale salientar que, atualmente, a coleta de orquídeas somente é permitida para fins de estudos científicos. Todas as orquídeas nativas que encontramos à venda são extraídas e comercializadas de forma ilegal. O correto é sempre adquirirmos exemplares reproduzidos em laboratório, através de técnicas de semeadura in vitro, além da propagação de clones via multiplicação de meristemas. Desta forma, contribuímos para a preservação das orquídeas raras que ainda existem na natureza.
Vale salientar que, atualmente, a coleta de orquídeas somente é permitida para fins de estudos científicos. Todas as orquídeas nativas que encontramos à venda são extraídas e comercializadas de forma ilegal. O correto é sempre adquirirmos exemplares reproduzidos em laboratório, através de técnicas de semeadura in vitro, além da propagação de clones via multiplicação de meristemas. Desta forma, contribuímos para a preservação das orquídeas raras que ainda existem na natureza.
Outro quesito que pode tornar uma orquídea rara é sua variedade cromática.
Existe, por definição, a orquídea cuja flor possui a coloração tipo, a mais
comumente encontrada. Fazem parte desta categoria as célebres orquídeas de cor
púrpura encontradas originalmente na natureza, como a
Cattleya labiata
e
Cattleya walkeriana. A forma tipo de uma orquídea é a que foi originalmente descrita na
literatura. A partir deste padrão, abre-se um leque de formas albas,
semi-albas, amarelas, cerúleas, flameadas, dentre uma infinidade de outras
denominações para diferentes padrões de coloração das pétalas, sépalas e
labelo. São estas características particulares que tornam uma orquídea rara.
Sophronitis coccinea amarela 'Sol' |
É o caso da
Sophronitis coccinea, orquídea mundialmente conhecida por seu vibrante colorido vermelho. Flores
escarlate representam a forma tipo desta orquídea. Para muitos, variações
desta cor podem parecer corriqueiras. No entanto, tecnicamente, a ausência do
pigmento vermelho, no caso específico desta Sophronitis, resulta em uma
raríssima variedade amarela.
Como é praticamente impossível encontrar uma
Sophronitis coccinea amarela na natureza, os raros exemplares
existentes nas coleções são bastante cobiçados, atingindo cifras de grande
vulto. Para piorar as coisas, a reprodução desta variedade é dificultada
devido ao caráter recessivo da cor amarela. Trata-se, tecnicamente, de uma
planta albina. Se já é difícil encontrar um exemplar amarelo, imagine dois,
para que sejam cruzados entre si. É por isso que muitas orquídeas raras são
submetidas a uma auto polinização, do tipo self, em que o pólen de uma mesma planta é utilizado em sua
fecundação. Alternativamente, pode-se tentar multiplicar uma orquídea rara
através da propagação de seus tecidos meristemáticos, em laboratório. Desta
forma, os indivíduos resultantes deste processo serão clones, geneticamente
idênticos à planta mãe.
Os diversos exemplares de Sophronitis coccinea amarela que encontram-se
na coleção do profissional Yoshio Sano foram desenvolvidos ao longo de anos,
através de inúmeros cruzamentos realizados pelo Prof. Dr. Gilberto Barbante
Kerbauy, do Departamento de Botânica do Instituto de Biociências da Usp.
Cattleya violacea alba |
Outra joia da coroa presente no orquidário de Yoshio Sano é a
Cattleya violacea alba. Como o próprio nome diz, a coloração da planta
tipo é violeta ou púrpura. No entanto, esta orquídea nativa dos estados da
região norte do país, de difícil cultivo aqui embaixo, pode apresentar uma
raríssima e cobiçadíssima forma alba. Trata-se de uma orquídea rara, que pode
ser encontrada em seu habitat original no estado de Roraima.
Para os colecionadores aficionados, é quase uma miragem ver uma
Cattleya violacea totalmente branca. Sim, o interior do labelo, a
garganta, apresenta um tom amarelado, mas isto não conta. É típico de muitas
orquídeas albinas.
Cattleya leopoldii albescens |
Neste contexto, é igualmente raro e surpreendente ver esta forma albescens
(quase alba) da Cattleya leopoldii, orquídea conhecida por seu vibrante
padrão de pétalas e sépalas ricamente pintalgadas, com um proeminente labelo
magenta. No caso da planta albescens do Yoshio Sano, a ausência de pigmentação
só não é total devido a discretas pintas nas extremidades das flores. O que
torna, a meu ver, o resultado ainda mais unique. É importante ressaltar
que nem todas as flores em sua forma alba são necessariamente brancas. A
ausência de pigmentação, característica do exemplar albino, pode revelar a cor
original do tecido vegetal, que é verde. Neste caso, a
orquídea é verde, mas alba. O amarelo também é uma coloração presente em muitas flores de
orquídeas albinas.
Cattleya dormaniana caerulea 'Cristal' e 'Guri da Serra' |
E, por fim, uma dupla de orquídeas raras, crème de la crème. Elas
não são grandes, coloridas nem repolhudas, mas têm uma importância fenomenal.
Já não é muito comum encontrar a Cattleya dormaniana nas coleções.
Trata-se de uma orquídea brasileira cujo habitat de origem é exclusivamente o
estado do Rio de Janeiro. A forma tipo desta orquídea apresenta pétalas e
sépalas em uma coloração esverdeada, com detalhes amarronzados. O labelo é
púrpura.
Através de muita pesquisa, o orquidófilo Yoshio Sano, que tem vasta expertise
e olhar clínico, acabou localizando, no Japão, uma raríssima variedade cerúlea
de Cattleya dormaniana. A partir de então, não mediu esforços para
importar esta planta. Até a data de sua chegada ao país, não havia registro da
existência desta rara forma cromática em nenhuma coleção conhecida.
Após muitos anos de cultivo, eis que as duas primeiras descendentes da planta
original finalmente florescem. Como podemos ver na foto acima, os exemplares
Cristal e Guri da Serra ostentam seus diferenciados labelos da cor do céu. Até
onde se sabe, são os dois únicos representantes cerúleos de
Cattleya dormaniana do Brasil.
Publicado em: | Última atualização:
Por Sergio Oyama Junior
Bacharel em biologia pela Unicamp, com mestrado e doutorado em bioquímica pela Usp, escreve sobre o cultivo de orquídeas, suculentas, cactos e outras plantas dentro de casas e apartamentos.
São Paulo, SP, Brasil
Bacharel em biologia pela Unicamp, com mestrado e doutorado em bioquímica pela Usp, escreve sobre o cultivo de orquídeas, suculentas, cactos e outras plantas dentro de casas e apartamentos.
São Paulo, SP, Brasil