| Paphiopedilum híbrido | |
As
orquídeas
terrestres, também conhecidas como orquídeas de chão, orquídeas de jardim ou
orquídeas de terra, são mais uma demonstração da grande diversidade encontrada
na família Orchidaceae. As
fotos
de diferentes tipos de orquídeas terrestres ao longo deste artigo dão uma
ideia desta incrível variabilidade Como sabemos, as orquídeas podem ser
agrupadas em diferentes categorias, de acordo com seu hábito vegetativo. Mas
não se trata de uma classificação rígida. Frequentemente, uma mesma espécie de
orquídea pode apresentar mais de uma forma de desenvolvimento na natureza.
Existem os mais variados tipos de orquídeas terrestres, distribuídos em
diferentes gêneros e espécies. A seguir, daremos mais informações sobre este
interessante grupo de orquidáceas, bem como dicas quanto ao seu cultivo.
Aquelas
orquídeas
chamadas de epífitas, que vivem sobre as árvores, são as mais numerosas
representantes da família, sendo mundialmente apreciadas e colecionadas. Um
exemplo clássico é o da
orquídea Cattleya. No entanto, há também as
orquídeas rupícolas, que costumam vegetar sobre as rochas. Suas raízes, na verdade, estão sendo
nutridas pelo material orgânico que se deposita nas fendas entre as pedras. Lá
também encontram a umidade necessária para sobreviverem.
Da mesma forma, há um subgrupo de
orquídeas
terrestres, composto pelas orquídeas humícolas. Estas, apesar de parecerem
terrestres, por viverem no solo, têm na verdade suas raízes apoiadas sobre o
húmus, uma camada de folhas em decomposição e demais detritos que se acumulam
no chão das florestas. Sendo assim, suas raízes não estão efetivamente
enterradas.
Este é o caso das orquídeas terrestres dos gêneros
Paphiopedilum
(na foto de abertura deste artigo) e
Phragmipedium
(na foto abaixo). Aqui no Brasil, é comum encontrarmos a orquídea
Paphiopedilum Leeanum, a famosa
orquídea sapatinho, sendo cultivada em vasos de terra ou diretamente no solo, como uma planta
de jardim. Muitos nem sabem que se trata de uma orquídea. Ela é bastante
resistente e se adapta perfeitamente aos mais diferentes ambientes, muito
embora sua origem seja asiática. Apesar desta possibilidade de plantio na
terra pura, e devido à natureza humícola destas plantas, a maioria dos
orquidófilos costuma utilizar misturas de substratos para o cultivo de
orquídeas destes dois gêneros. Na composição pode estar presente a terra, mas
geralmente predominam cascas de árvores, areia, vermiculita, perlita, musgo
sphagnum, dentre outros materiais. Estes dois gêneros,
Paphiopedilum e Phragmipedium, são exemplos de orquídeas
terrestres que apreciam locais mais sombreados, florescendo apenas com uma
luminosidade difusa, indireta.
Phragmipedium Sedenii |
Passando para uma orquídea de cultivo mais simples, temos a famosa
orquídea bambu, Arundina graminifolia. Neste caso, temos um exemplo típico de
orquídea terrestre. Esta é uma planta que pode ser cultivada diretamente na
terra, exposta às intempéries, sem problema algum. É a típica orquídea de
jardim, bastante utilizada no paisagismo de condomínios residenciais e
empreendimentos comerciais. Forma belas cercas vivas e maciços elegantemente
decorados com as altivas flores, no topo de suas longas hastes. Aprecia sol
pleno e solo rico em matéria orgânica. Quando mantida em apartamento, precisa
estar em uma varanda bem iluminada. O local tem que ter um bom pé direito, já
que a orquídea bambu atinge grandes proporções. Ainda assim, a
Arundina tem a tendência de se inclinar na direção do sol, hábito
que resulta em caules tortuosos, caso o vaso não seja girado com frequência.
Quando bem desenvolvida, mesmo em vasos, a orquídea bambu propicia um
espetáculo de floração, que atinge seu auge durante o verão, com graciosas
flores imponentes no ápice de longos caules que lembram o bambu. Embora durem
apenas dois ou três dias, as flores surgem de maneira sequencial, mantendo a
haste florida por meses. É uma orquídea terrestre de muito fácil cultivo,
resistente e que requer pouca manutenção.
Arundina graminifolia |
Uma orquídea terrestre que costumamos encontrar com frequência nas
floriculturas é o
Cymbidium, geralmente híbrido. Este é um exemplo de orquídea bastante popular, mas que
raramente nos remete ao mundo das plantas de chão. Poucos saber que se trata
de um tipo de orquídea terrestre. Por este motivo, muitos acabam colocando a
orquídea Cymbidium amarrada aos
troncos das árvores, que não é o local mais apropriado para seu desenvolvimento. Plantado em
vasos altos, envoltos por laços e celofane, o Cymbidium nem parece ser
aquela orquídea resistente, que pode ser cultivada diretamente no chão do
jardim, sob sol pleno. Sua única exigência é quanto ao clima, que não pode ser
muito quente. Aqui em São Paulo, capital, ele ainda costuma florescer bem,
durante o inverno. Há quem tente colocar
gelo
no vaso da orquídea, ou regá-la com água gelada, para tentar simular uma
temperatura mais baixa, situação que, teoricamente, induziria a floração.
Novamente, esta é outra orquídea terrestre que necessita de bastante
luz para florescer, preferencialmente sol direto.
Cymbidium híbrido |
Para quem dispõe de bastante espaço, sol em abundância e clima mais quente,
inclusive ao nível do mar, e procura uma orquídea terrestre, o
Epidendrum fulgens
e seus inúmeros híbridos são companheiros ideais. Esta é uma planta que pode
ser encontrada na natureza vegetando como epífita ou terrestre, dependendo da
região. No entanto, é mais conhecida no litoral como orquídea da praia. Suas
raízes toleram o solo arenoso, a salinidade e a maresia. Existem híbridos
belíssimos de Epidendrum, com as mais diferentes colorações.
Ultimamente, têm surgido no mercado variedades compactas, ideais para quem
vive em apartamento. Estes tipos de orquídeas terrestres são bastante
resistentes, de fácil cultivo e requerem poucos cuidados. O mais importante é
dispor de bastante luminosidade, preferencialmente sol direto, para que a
planta floresça em abundância.
Epidendrum fulgens |
Neste especial com fotos de diferentes tipos de orquídeas terrestres, não
poderia deixar de mencionar a famosa
orquídea joia,
Ludisia discolor. Esta é a planta que atrai a atenção de todos mesmo quando não está florida,
graças ao aspecto rico e aveludado de suas folhas cobreadas, com veios
avermelhados. Este é mais um exemplo de orquídea terrestre que não necessita
de muita luminosidade para florescer. A Ludisia discolor é ideal para
quem
cultiva orquídeas em apartamento, já que pode se desenvolver e produzir flores apenas com uma luminosidade
indireta. Muitos colecionadores, inclusive, cultivam estas orquídeas joia
apenas pela beleza de sua folhagem, sem se importarem com as flores.
Embora possa ser plantada diretamente na terra, preferencialmente rica em
matéria orgânica, há quem utilize o substrato clássico para orquídeas,
composto por casca de pinus, carvão vegetal e fibra de coco. Mistura deste
substrato com terra também dá bons resultados. O importante é que o material
seja bem drenado e não acumule umidade por muito tempo, já que os caules
suculentos desta orquídea tendem a apodrecer com facilidade, caso fiquem em
contato com o solo úmido por muito tempo. Tendo em vista o fato de que muitos
consideram suas flores de importância ornamental secundária, não é necessário
um esquema muito pesado de adubação. Eu apenas evito a adubação orgânica,
devido ao mau cheiro e aos insetos.
Ludisia discolor |
Fechando o desfile das orquídeas terrestres que já passaram aqui pela sacada
do apartamento, apresento a orquídea conhecida como flor do paraíso,
Paradisanthus micranthus. Esta é uma orquídea não muito conhecida do
público em geral, mas bastante interessante. Produz delicadas flores verdes
ornamentadas com pequenos riscos acastanhados e um labelo branco, de grande
efeito ornamental, como podemos observar na foto abaixo. Parecem ter sido
pintadas à mão. O cultivo é um pouco mais complicado, já que a orquídea não
possui pseudobulbos e se desidrata com facilidade. Por outro lado, não tolera
o solo encharcado por muito tempo. Este é um tipo de orquídea terrestre que
aprecia locais bem iluminados, porém sem sol direto. Nas florestas, ela está
acostumada a viver no solo, protegida pela sombra das copas das árvores.
Paradisanthus micranthus |
Infelizmente, aqui encerra-se a lista de fotos de orquídeas terrestres,
dos mais variados tipos, com suas respectivas informações. Estas são apenas as
plantas que já tive o prazer de cultivar aqui no apartamento. Não são muitas,
já que o espaço é pequeno e não permite o acúmulo de muitos exemplares. O
grosso da minha coleção é composto por orquídeas epífitas. No entanto, tenho
grande admiração por esta categoria de orquídeas terrestres, e tenho inclusive
o desejo de colecioná-las. Certamente o faria, caso dispusesse de mais espaço.
Como já mencionei em outras ocasiões, não acho ético roubar fotos de orquídeas
terrestres de outros cultivadores, apenas para escrever um artigo neste blog,
cujo conteúdo é totalmente autoral. As orquídeas que apresento aqui são
aquelas que eu mesmo cultivei e fotografei, ao longo dos anos que tenho de
cultivo. Neste contexto, muitas das minhas compilações ficam incompletas, em
termos dos diferentes tipos de orquídeas apresentadas.
Apenas para mencionar mais alguns tipos de orquídeas terrestres, cujas fotos
não mostrei aqui, temos a famosa
orquídea grapete,
Spathoglottis unguiculata, cujas flores exalam um
perfume
que lembra a uva ou o antigo refrigerante de nome grapete. Ao menos é o que
dizem os relatos de pessoas que já cultivaram esta orquídea. Morro de
curiosidade em relação a este aroma. O pequeno porém é que esta orquídea, além
de apreciar o sol pleno, demanda bastante espaço, já que forma grandes
touceiras. Por alguma razão que desconheço, não costumo encontrar orquídeas
terrestres nos orquidários, exposições e garden centers que costumo
frequentar.
Outra orquídea terrestre bastante utilizada no paisagismo é o Phaius tankervilleae, popularmente conhecida como orquídea capuz de freira. Também dentre as
comumente encontradas nos jardins brasileiros está a orquídea Sobralia macrantha. Temos uma bela touceira aqui na entrada do condomínio, plantada em um
canteiro com terra, sob sol pleno. Ainda não tive a oportunidade de
fotografá-la florida. No entanto, já tive a sorte de presenciar suas
abundantes florações. A morfologia da flor desta orquídea terrestre,
curiosamente, lembra muito à da
Cattleya. Infelizmente, a armação das flores, no caso deste tipo de orquídea
terrestre, deixa um pouco a desejar. Pelo menos nos exemplares que já vi, as
flores são enormes, mas apresentam as pétalas e sépalas meio cabisbaixas.
Uma planta que todos possuem por aqui é a Oeceoclades maculata, um
tipo de orquídea terrestre que não costuma ser mencionado nos círculos
orquidófilos. Muitos consideram esta planta comum demais. Por fim, existe uma
grande variedade de orquídeas europeias, como as dos gêneros
Orchis e Ophrys, que se desenvolvem no solo e que,
infelizmente, não se adaptam ao clima brasileiro.
Por sinal, uma orquídea do gênero Orchis foi a primeira a ser descrita,
há 300 anos antes de Cristo, ainda na Grécia Antiga, por um discípulo de
Aristóteles, chamado Teofrasto. Ele é considerado o pai da botânica.
Como pudemos perceber, observando os diferentes tipos de orquídeas terrestres
e suas fotos, ao longo deste artigo, não há um padrão único para o cultivo
desta diversificada categoria de orquídeas. Existem orquídeas terrestres de
sombra, outras que apreciam sol pleno. Há aquelas que vivem ao nível do mar,
outras são de altitude. Temos plantas tropicais e de regiões de clima
temperado. Até mesmo o hábito vegetativo, a despeito do fato de serem
orquídeas predominantemente terrestres, pode variar. Para um cultivo
bem-sucedido destes diferentes tipos de orquídeas terrestres, o importante é
que cada espécie seja devidamente identificada em nossas coleções, e suas
condições de cultivo sejam implementadas individualmente.
Publicado em: | Última atualização:
Por Sergio Oyama Junior
Bacharel em biologia pela Unicamp, com mestrado e doutorado em bioquímica pela Usp, escreve sobre o cultivo de orquídeas, suculentas, cactos e outras plantas dentro de casas e apartamentos.
São Paulo, SP, Brasil
Bacharel em biologia pela Unicamp, com mestrado e doutorado em bioquímica pela Usp, escreve sobre o cultivo de orquídeas, suculentas, cactos e outras plantas dentro de casas e apartamentos.
São Paulo, SP, Brasil