| Dendrobium kingianum | |
Ao longo dos anos que venho
cultivando orquídeas, aqui no apartamento, sem que tenha me apercebido do fato, acabei adquirindo
vários exemplares do gênero
Dendrobium. Somente depois de algum tempo, acabei me dando conta de que esta é uma das
minhas orquídeas preferidas. Dentre elas, a espécie estrela do artigo de hoje,
Dendrobium kingianum, destaca-se pelo porte compacto e por suas flores
em miniatura, extremamente delicadas, que surgem ao longo de pequenas hastes
florais, despontando a partir dos ápices dos pseudobulbos, como uma mini
Denphal. Trata-se de uma inquilina perfeita para apartamentos ensolarados.
O Dendrobium kingianum é uma
orquídea
tipicamente australiana. A ocorrência desta espécie, em particular,
encontra-se restrita a uma faixa litorânea, situada na costa leste do país.
Esta orquídea é endêmica das florestas tropicais de uma pequena região da
Austrália, não sendo encontrada naturalmente em nenhum outro local do
mundo.
No seu habitat de origem, a orquídea Dendrobium kingianum apresenta
um comportamento predominantemente
rupícola, o que significa que ela vive sobre as rochas. Por este motivo, é
conhecida como the pink rock orchid. Muito raramente, pode ser
encontrada como uma orquídea epífita, desenvolvendo-se sobre outras plantas.
Embora este hábito de vida possa parecer desfavorável, muitas outras
orquídeas
adaptaram-se à vida neste ambiente, como é o caso das
Laelias rupícolas. Como exemplo, temos a
Laelia lucasiana, que já foi tema de um artigo aqui no blog.
Neste contexto, o Dendrobium kingianum estabelece suas raízes nas fendas entre as rochas, nutrindo-se da matéria orgânica em decomposição que se acumula nestes interstícios. Além disso, a água das chuvas é acumulada nestas fendas, provendo umidade à orquídea.
Neste contexto, o Dendrobium kingianum estabelece suas raízes nas fendas entre as rochas, nutrindo-se da matéria orgânica em decomposição que se acumula nestes interstícios. Além disso, a água das chuvas é acumulada nestas fendas, provendo umidade à orquídea.
O Dendrobium kingianum foi assim nomeado em homenagem ao
capitão Phillip Parker King, conhecido explorador das terras
australianas durante o século XIX. Por este motivo, esta orquídea também
pode responder pelo apelido de Captain King's Dendrobium.
Esta é uma orquídea de fácil cultivo, desde que se disponha de um ambiente
com bastante
luminosidade
e níveis adequados de umidade relativa do ar. Trata-se de uma interessante
miniatura para se cultivar dentro de pequenos espaços. Embora cresça sobre
as pedras na natureza, o mais comum é que se cultive o
Dendrobium kingianum em substratos mistos, contendo casca de pinus,
carvão vegetal e fibra de coco. Musgo sphagnum também pode ser
adicionado, para conferir mais umidade ao material. Para não errar, o
cultivador pode recorrer a substratos prontos, próprios para o cultivo de
orquídeas epífitas, à venda em lojas especializadas e garden centers.
Não convém tentar mimetizar o habitat original desta orquídea e cultivá-la
nas pedras, uma vez que nossas condições de cultivo doméstico são mais
desafiadoras, principalmente no quesito umidade relativa do ar.
As
regas
do Dendrobium kingianum somente devem ocorrer quando o substrato
secar completamente, independentemente da periodicidade. Para evitar que o
material fique encharcado por muito tempo, convém eliminar o uso do pratinho
sob o vaso, que pode acumular a água das regas.
Cachepots decorativos, sem furos no fundo, também são um perigo para
orquídeas, de maneira geral. Para garantir uma boa drenagem, o
vaso
precisa ter, além dos furos, uma camada de pedrisco, brita ou argila
expandida, no fundo.
A floração deste delicado Dendrobium kingianum costuma ocorrer entre
o final do inverno e a primavera. As hastes florais surgem eretas a partir
dos ápices dos pseudobulbos. As flores são pequenas e graciosas, dispostas
ao longo das hastes, podendo apresentar diversos tons de pink e
púrpura, havendo também variedades albas, completamente brancas. Como a
maioria das orquídeas do gênero Dendrobium, a
espécie kingianum precisa de um período de restrição de
água, chamado de stress hídrico, durante os meses do outono e
inverno, para que possa florescer adequadamente. Embora possa parecer
complicado, trata-se de um procedimento simples, no qual as regas e a
adubação são drasticamente reduzidas, no período que antecede a floração.
Assim que os primeiros botões florais começarem a surgir, o cultivo pode
voltar ao ritmo normal.
Esta orquídea precisa de uma
adubação
apropriada, composta por macro e micronutrientes, química ou orgânica,
principalmente durante os meses de primavera e verão, quando novos
pseudobulbos estão se desenvolvendo. Sendo bem cultivado, o
Dendrobium kingianum forma belíssimas touceiras, que propiciam um
espetáculo à parte, ao florescerem.
Dendrobium kingianum |
Claro que este não é o caso das Orquídeas no Apê e nem deste pobre
Dendrobium, que cultivo há anos, sem nunca ter visto uma flor sequer.
Eu comprei uma muda jovem, ainda sem flores, e somente observei o
crescimento da touceira, com a formação de novos pseudobulbos, ano após ano.
Trata-se de uma orquídea que se multiplica com bastante rapidez.
Há algumas semanas, notei o surgimento de pequenas estruturas no topo de alguns pseudobulbos que, a princípio, julguei serem keikis. Keiki é uma palavra havaiana que significa bebê. São pequenos brotos que surgem a partir de gemas localizadas ao longo dos pseudobulbos. No caso do Dendrobium kingianum, e de várias espécies do gênero, é muito comum observarmos o surgimento destes brotos, principalmente quando não executamos o stress hídrico adequadamente, e acabamos regando demais a orquídea durante o inverno.
Desta vez, felizmente, não foi o que ocorreu. Para minha felicidade, aquelas pequenas protuberâncias nos ápices dos pseudobulbos eram as tão aguardadas hastes florais do Dendrobium kingianum. Passei a vigiá-las dia e noite e, de tão estressadas que ficaram, várias acabaram secando, para meu desgosto. Aqui no apartamento, é assim. Quanto mais eu cuido e vigio uma orquídea, pior é o seu desempenho. Os americanos costumam afirmar que orchids thrive on neglect, ou seja, que as orquídeas ficam exuberantes quando negligenciadas.
Há algumas semanas, notei o surgimento de pequenas estruturas no topo de alguns pseudobulbos que, a princípio, julguei serem keikis. Keiki é uma palavra havaiana que significa bebê. São pequenos brotos que surgem a partir de gemas localizadas ao longo dos pseudobulbos. No caso do Dendrobium kingianum, e de várias espécies do gênero, é muito comum observarmos o surgimento destes brotos, principalmente quando não executamos o stress hídrico adequadamente, e acabamos regando demais a orquídea durante o inverno.
Desta vez, felizmente, não foi o que ocorreu. Para minha felicidade, aquelas pequenas protuberâncias nos ápices dos pseudobulbos eram as tão aguardadas hastes florais do Dendrobium kingianum. Passei a vigiá-las dia e noite e, de tão estressadas que ficaram, várias acabaram secando, para meu desgosto. Aqui no apartamento, é assim. Quanto mais eu cuido e vigio uma orquídea, pior é o seu desempenho. Os americanos costumam afirmar que orchids thrive on neglect, ou seja, que as orquídeas ficam exuberantes quando negligenciadas.
Apenas uma haste com três botões sobreviveu ao meu olho gordo. À medida que
se desenvolveram, dois botões florais acabaram secando e caindo, só de
pirraça. Sobrou esta pequena flor solitária, que mostro nas imagens acima. A
única vantagem desta tragédia grega é que, desta forma, pude fotografá-la em
destaque, isolada e evidenciando seus detalhes e texturas.
Como a nomenclatura das orquídeas tem sido constantemente sacudida por
reviravoltas, há quem proponha que este Dendrobium seja transferido
para outro gênero, Thelychiton. Tenho sérias dúvidas de que isso
um dia vá pegar...
Publicado em: | Última atualização:
Por Sergio Oyama Junior
Bacharel em biologia pela Unicamp, com mestrado e doutorado em bioquímica pela Usp, escreve sobre o cultivo de orquídeas, suculentas, cactos e outras plantas dentro de casas e apartamentos.
São Paulo, SP, Brasil
Bacharel em biologia pela Unicamp, com mestrado e doutorado em bioquímica pela Usp, escreve sobre o cultivo de orquídeas, suculentas, cactos e outras plantas dentro de casas e apartamentos.
São Paulo, SP, Brasil