| Solange Menezes | |
A entrevista de hoje é, na verdade, um perfil detalhadamente elaborado pela
jornalista e orquidófila Solange Menezes, presidente da SOCAN, Sociedade
Orquidófila Cantareira. Apenas mantive o título para alinhá-lo à série de
personalidades que já passaram por este espaço.
Conheci a Solange em uma exposição da Sociedade Bandeirante de Orquídeas, em
2013, ocasião em que eu estava expondo uma série de fotos publicadas aqui no
blog. Apesar do cliché, neste primeiro encontro, tive de fato a
sensação de já a conhecer há bastante tempo. Demos boas risadas e adorei o
papo. A seguir, a matéria que esta talentosa profissional preparou
especialmente para o blog. Desde já, deixo à Solange o meu muitíssimo
obrigado pelo privilégio de tê-la conosco em nossa galeria de orquidófilos
de renome.
SOLANGE MENEZES E SUAS ORQUÍDEAS
Uma paixão que começou com um anúncio na revista
Há 19 anos, a jornalista e orquidófila Solange Menezes, presidente da SOCAN –
Sociedade Orquidófila Cantareira, não entendia nada de orquídeas. Apenas as
achava bonitas, mas não conseguia manter vivo um simples
Dendrobium nobile. Foi quando ela viu um anúncio numa revista
informando que iria começar um curso gratuito de cultivo de orquídeas no
Parque Previdência, na Zona Oeste de São Paulo. “Me inscrevi no curso, porque
era perto da minha casa, embora não tivesse uma única orquídea para cuidar”.
Foi o começo de uma paixão sem fim.
“Durante as aulas, vários alunos trouxeram vasos para replantar. Eu levei um
vaso de orquídeas da minha avó. Aí começaram as trocas de mudas e eu iniciei
minha pequena coleção”, lembra Solange. “Logo vieram outras trocas, compras e
presentes de amigos”. O interesse pelas orquídeas se intensificou de tal forma
que ela passou a pesquisar sobre as espécies, conheceu muitos orquidófilos de
vários países na internet e passou a trocar informações e a aumentar seus
conhecimentos. Em pouco tempo, a jornalista passou a dedicar parte do seu
tempo à orquidofilia e à sua coleção, que hoje beira a mil plantas.
“Minha dedicação foi tanta, que alguns anos depois voltei a ensinar os
fundamentos do cultivo de orquídeas no Parque Previdência, onde ainda
permaneço, e no Orquidário Paulista”, recorda. “Logo começaram os convites
para palestras em ONGs, parques públicos, clubes, entrevistas para revistas
especializadas e televisão. Percebi que minha dedicação estava fazendo a
diferença”.
Em 2009 a Solange se associou à SOCAN e no ano seguinte foi eleita presidente
da associação. “Fui para a SOCAN para ser diretora técnica, mas alguns
imprevistos mudaram nossos planos e os associados me elegeram presidente,
cargo que ocupo até hoje”, diz. Nesses seis anos de gestão ela conseguiu mudar
o perfil da associação e atraiu novos integrantes. “Nosso objetivo era agregar
pessoas com conhecimentos técnicos para juntos divulgarmos a orquidofilia como
um instrumento de preservação ambiental. Para isso realizamos palestras,
fizemos exposições, fechamos parcerias com instituições públicas e privadas e
conseguimos dar o recado”.
Como a SOCAN sempre mantém as portas abertas aos amantes das orquídeas, muitos
leigos se associaram também e hoje já estão se familiarizando com os nomes
científicos e cultivo específico para cada espécie. A associação mantém um
grupo no
Facebook
e outro no WhatsApp onde os associados trocam informações diariamente, tiram
dúvidas, exibem suas plantas floridas, pedem ajuda para identificação de
orquídeas, marcam encontros etc. “Queremos que os colecionadores chamem suas
orquídeas pelo nome certo e parem de chama-las por ‘olho de boneca’, ‘orquídea
borboleta’, ‘chuva de ouro’. Mostramos que os nomes não precisam ser decorados
exaustivamente. Basta o colecionador aprender mais sobre as orquídeas que tem
e o nome da planta entra no aprendizado naturalmente”, diz a presidente da
SOCAN orgulhosa do seu grupo.
Aldeia indígena
Além do trabalho à frente da SOCAN e no Parque Previdência, Solange Menezes
começou há três anos um trabalho de conscientização em uma aldeia Guarani, em
Mongaguá (SP). Ela explica que o convite partiu de uma amiga voluntária da
FUNAI de Itanhaém, Miriam Macedo. “Uma senhora da tribo indígena disse à minha
amiga que queria aprender a cultivar orquídeas, pois com a retirada em massa
das plantas da mata estava cada vez mais difícil encontrar orquídeas para
vender. A Miriam veio para São Paulo fazer o curso do parque Previdência, mas
achou difícil transmitir os ensinamentos ao pessoal da aldeia. Então me propus
a fazer uma palestra”, lembra Solange. Mas o envolvimento nesse trabalho foi
tão grande que os ensinamentos não ficaram só na primeira palestra. Depois
disso, Solange e Miriam arrumaram mais um parceiro, o orquidófilo Antonio
Monteiro, e juntos estão há três anos acompanhando o desenvolvimento do
orquidário da aldeia.
“Eles foram tão receptivos aos ensinamentos que a FUNAI enviou material para a
construção de um orquidário na aldeia”, conta Solange. “Nós fornecemos várias
mudas de orquídeas e seedlings para que a índia Jaxuká desse início à
sua coleção sem retirar plantas da mata. Também a ensinamos a polinizar as
flores para que novas mudas de orquídeas pudessem nascer”. Depois desse
trabalho realizado pelos três amigos, a senhora que queria apenas aprender a
cultivar, hoje tem um orquidário com várias mudas muito bem cultivadas em
tocos de madeira ou cacos de telha e poliniza com maestria as flores das
orquídeas. O trabalho deu tão certo que despertou o interesse em outras
aldeias da região e os três amigos – Solange, Miriam e Antonio – já começaram
a ensinar uma tribo Tupi, na mesma região.
Solange conta que na última visita à aldeia Guarani ficou emocionada com o
cuidado da Jaxuká com suas orquídeas. Ela disse que não resistiu e perguntou
se ela estava vendendo mais, já que as plantas agora estavam bonitas, bem
plantadas e enraizadas. A índia respondeu que não, que agora ela tinha pena de
vende-las. A família passou a cultivar verduras, batata doce e mandioca para
vender. As orquídeas são apenas para coleção e devolução à mata. “Estava
orgulhosa por ela ter aprendido a cultivar orquídeas. Mas me emocionei quando
vi que conseguimos passar mais do que conhecimentos técnicos; que ela tinha
entendido a importância de preservar as orquídeas na mata”, comenta.
Nova sede
Depois de seis anos de parceria com o Hospital Militar, os associados da SOCAN
estão se reunindo agora na biblioteca do Parque Lions Clube Tucuruvi. Além das
reuniões mensais – onde são tratados temas como cultivo das diferentes
espécies, combate a pragas e doenças de orquídeas, testes a novas fórmulas de
adubos e defensivos – também são agendadas visitas técnicas a orquidários de
associados ou outros interessados, excursões e passeios a orquidários e
exposições.
A cada dois meses a SOCAN também dará palestras de cultivo a iniciantes
usuários do Parque.