| Reginaldo Vasconcelos | |
O convidado de hoje é um dos nomes mais requisitados para proferir palestras
em encontros orquidófilos em todo o país. Natural de Governador Valadares,
MG, é um profundo conhecedor das orquídeas e do habitat de cada espécie
nativa. Apesar de bastante jovem, já descobriu mais de 50 novas espécies de
plantas, entre orquídeas, bromélias e carnívoras.
Tive o prazer de conhecê-lo pessoalmente em novembro de 2013, quando fui
proferir uma palestra sobre o cultivo de orquídeas, em São Bernardo do
Campo. Já estava nervosíssimo e quase tive uma síncope quando o vi sentado
na plateia. Confesso que fiquei intimidado por uma sumidade com tanto
conhecimento sobre o assunto. Pois, ao me ver meio atrapalhado com o
microfone e o datashow, o Reginaldo prontamente saiu de seu lugar e
passou a operar o notebook, ao longo de toda a palestra.
É esta pessoa inteligente, competente e, ao mesmo tempo, acessível e generosa, que se dispôs a contar para nossos leitores um pouco da sua história em companhia das orquídeas.
O.A. O que despertou o seu interesse pelas orquídeas? Há quanto tempo as
cultiva?
R.V. Meu interesse pelas orquídeas foi uma consequência do amor que crescia a
cada dia em mim pela natureza, pelas plantas primeiramente. Desde criança eu
me sentia atraído pelas plantas, todas as partes dos vegetais despertavam em
mim uma curiosidade sem tamanho. Eu fiquei “encucado” quando vi uma orquídea
pela primeira vez, ela estava enraizada em uma árvore e me perguntei como
aquilo era possível. Depois daquele encontro mágico com a primeira orquídea eu
comecei a querer saber cada vez mais sobre elas, mas, quando me despertou esse
interesse, eu não tinha acesso a livros e revistas que falavam sobre elas. Não
desisti, eu procurei pessoas que poderiam me ensinar sobre elas e logo fui
aprendendo cada vez mais. O mundo das orquídeas é apaixonante, sempre nos
surpreendemos! Ah, eu cultivo orquídeas há 23 anos.
O.A. Quais os principais conselhos você daria a quem está começando a
cultivar orquídeas?
R.V. Ter paciência, o cultivo das orquídeas é um jogo de erros e acertos e
estudar bastante sobre o assunto. Atualmente as informações estão muito
acessíveis, os novos cultivadores não terão tantas dificuldades como eu tive
(risos). Basicamente o cultivador tem que saber sobre as condições climáticas
da região onde ele vive e adaptar seu cultivo baseado nessas informações.
Luminosidade, umidade, substrato, adubação, ventilação e tipo de vaso devem
ser bem adequados. Cada lugar terá um micro ambiente que deve ser trabalhado
para o sucesso no cultivo.
O.A. Como está organizada a sua coleção? Há predominância de algum gênero
ou espécie?
R.V. Minha coleção não é grande então eu tenho exatamente o que eu realmente
gosto e posso ter. Gosto muito das
Cattleyas
e Encyclias e esses gêneros se adaptam muito bem ao clima de onde eu
vivo que é bem quente e relativamente seco.
O.A. Entre cultivo, expedições, palestras, qual atividade relacionada à
orquidofilia lhe é mais gratificante?
R.V. As expedições são, sem sombra de dúvidas, a atividade que me traz mais
alegria. Ter contato com a natureza já é algo transformador, a natureza lhe
oferece uma energia fabulosa. Ver as orquídeas no seu habitat natural lhe
proporciona uma visão do que realmente elas são e do que elas precisam para
serem cultivadas fora dali. Esse contato com as plantas na natureza é muito
importante, pois é no habitat natural que realmente conhecemos o modo em que
elas vivem, do que realmente elas necessitam. As palestras também me enchem de
alegria, gosto muito de passar o meu conhecimento sobre as orquídeas e
incentivar o cultivo e o estudo sobre elas.
O.A. Quais são as plantas que você já descobriu? Como se dá este processo,
do achado ao registro científico?
R.V. Não sei bem ao certo quantas espécies eu já descobri, acredito que são
mais de 50 espécies, só de orquídeas são cerca de 20 espécies. Sabemos que
existem muitas espécies novas para serem descobertas, locais nunca visitados
que abrigam uma enorme riqueza biológica repletos de plantas desconhecidas.
Infelizmente muito foi destruído e esse processo de destruição não parou!
Quando encontramos uma possível espécie nova começa um grande trabalho de
estudo sobre aquela planta, uma busca para ver se existe um registro sobre
ela. Iniciamos fazendo analises sobre o gênero no qual tal espécie pertence,
fazemos comparações entre elas para ver as semelhanças e as diferenças.
Se a espécie encontrada tiver características suficientes que a diferencia das
demais espécies do gênero em que ela pertence, iniciamos o processo de
descrição onde escolhemos um nome para espécie, fazemos uma exsicata para
depositar num herbário, descrevemos todas as características daquela espécie
(folhas, raízes, flores, frutos) e, finalmente, fazemos sua publicação no meio
científico.
É um processo um pouco demorado e que precisa ser muito coerente. Esse
trabalho traz a luz novas espécies para o conhecimento de todos. Pretendo
continuar esse trabalho, desvendar e perpetuar o conhecimento sobre nossas
espécies de orquídeas.
O.A. Não tenho palavras para agradecer ao Reginaldo Vasconcelos por esta
rica e detalhada entrevista. Tem sido para mim um prazer e uma honra poder
acompanhar este importante trabalho de pesquisa, conservação e descoberta de
novas orquídeas. Ao Reginaldo, meus parabéns e meu muito obrigado!