| Lou Menezes | |
Conhecida mundialmente por seus livros e estudos sobre as orquídeas
brasileiras, engenheira florestal e bióloga com especialização em botânica e
ecologia, Lou Menezes prontamente aceitou conceder esta franca e contundente
entrevista, com exclusividade para o blog.
Lou Menezes foi, por muitos anos, chefe do Orquidário Nacional do Ibama e
responsável pelo projeto Orquídeas do Brasil. Neste artigo, ela fala sobre sua
trajetória, suas lutas, pesquisas e publicações.
Agradeço imensamente à Lou Menezes pelo carinho e atenção. Foi um privilégio
saber mais sobre seu importante trabalho e dispor o blog para a divulgação de
suas opiniões.
O.A. Quais motivos a levaram a escolher a família Orchidaceae como
tema central de suas pesquisas?
Lou Menezes: Ciente de que a vida é tocada pelo acaso, foi durante uma
visita acidental às florestas da Serra de Uruburetama, no Ceará, que me
deparei com populações de
Cattleya labiata
floridas sobre rochedos e árvores. O impacto visual de suas grandes flores e
de coloridos diversos, bem como o seu perfume inebriante, fascinaram-me e
tornaram-me dependente emocional da espécie, dita Rainha do Nordeste e também
Rainha do Brasil.
A partir desse encontro, na minha adolescência, as orquídeas brasileiras
passaram a nortear meu desejo de conviver e pesquisar esses maravilhosos
organismos.
O.A. Quais são os livros de sua autoria, sobre as orquídeas, que já
foram publicados? Existe um que seja seu preferido?
Lou Menezes: Livros publicados:
Cattleya labiata Lindley (1987)
Cattleya warnerii T.Moore (1994)
Laelia purpurata Lindley (1995)
Genus Cyrtopodium (2000)
Cattleya labiata autumnalis (2002)
Orquídeas / Planalto Central Brasileiro (2004)
Laelia purpurata / A Rainha (2009)
Cattleya walkeriana Gardener (2011)
Orquídeas / Planalto Central Brasileiro II (2014)
Dos livros citados, não há preferência, pois sou emocionalmente dependente e
apaixonada por todos eles.
O.A. Como estão as plantas da coleção do Orquidário Nacional do Ibama,
após as intervenções recentes? Houve muitas perdas?
Lou Menezes: O Orquidário Nacional do Ibama e o Projeto Orquídeas
do Brasil foram desativados após a derrubada criminosa da gigantesca estrutura
que, consequentemente, ocasionou o sepultamento do Projeto. Crimes patrimonial
e ambiental perpetrados pela ira incontida da Ministra do Meio Ambiente
Izabella Teixeira. É inacreditável que um dirigente público ache-se no direito
de derrubar uma Instituição de Pesquisa, evidenciando o desrespeito e
desinteresse pelo erário do governo.
Destruição do Orquidário Nacional do Ibama A cobertura central e as telas de sombreamento foram retiradas sem aviso prévio, o que resultou na exposição direta das orquídeas aos raios solares, colocando em risco toda a coleção. Muitas plantas foram perdidas, devido às queimaduras. |
Tal atitude levou-me a entrar com ações no Ministério Público contra o ato
tresloucado. Estou aguardando os trâmites burocráticos legais referentes à
análise dos meus direitos e pelas punições que a causa nobre exige.
Após trinta anos de trabalhos exitosos reconhecidos no exterior e que me
renderam prêmios, credibilidade no Projeto Orquídeas do Brasil, que divulgou
nossas Orquídeas ao mundo, e a luta para preservar nossa flora de orquídeas,
somente me restou salvar, às pressas, parte da coleção de plantas
excepcionais, graças à ajuda de orquidófilos amigos e revoltados com o
acontecido.
Grammatophyllum speciosum Considerada a maior orquídea do mundo, sua floração ocorreu após cinco anos sob os cuidados de Lou Menezes, no Orquidário Nacional do Ibama, fruto do Projeto Orquídeas do Brasil. A planta atinge 3 metros de altura, com suas hastes que portam mais de 400 flores. |
Minhas atividades no Ibama estão encerradas e, de agora em diante, continuarei
com as minhas publicações sem a participação deste órgão federal, que tanto
divulguei.
Estou com um novo livro prontíssimo para ir ao prelo, mas ainda dependente de
financiamento ou patrocinador.
O.A. Conte-nos um pouco sobre seu importante trabalho de educação
ambiental para crianças. Como tem sido o retorno?
Lou Menezes: O programa de Educação Ambiental voltado para as
crianças nas escolas foi de grande importância, não só pela preservação da
nossa flora de orquídeas, como também pelo fato que tornou possível elas
passarem a saber o que era uma orquídea e a sua importância no contexto
ambiental, com destaque para os polinizadores, uso comercial das plantas
reproduzidas em laboratórios e usos medicinal e industrial. Fato interessante
diz respeito à cobrança das crianças no seio familiar, exigindo que a família
fosse mais participativa.
O.A. O que precisa ser feito para proteger as orquídeas ameaçadas de
extinção? Quais as espécies correm maior risco?
Lou Menezes: Educação Ambiental é a chave para a proteção de nossa
flora de orquídeas e consequentemente da natureza. Acredito que os seguintes
passos devam ser seguidos:
✓ Abolir a prática predatória de coletar orquídeas - um dever de todos e
que a omissão implica na conivência com o processo depredatório.
✓ Demanda zero na compra de plantas nativas oferecidas pelos mateiros e
coletores orquidófilos de orquídeas, independentemente de supostas alegações
de suas boas intenções.
✓ Reintrodução de espécies nos habitats dos quais elas foram
originalmente retiradas numa tentativa de repovoar os habitats.
✓ Tratamento seletivo das populações com o objetivo de melhoramento
genético da espécie com orientação ou ajuda de notáveis estudiosos que nos
últimos anos tem se destacado nessa área, como o Professor Doutor
Evandro Tambarussi, uma autoridade inconteste no assunto com trabalhos publicados em Cambridge
e Revista Brasileira de Melhoramento Genético - CBAB.
✓ Criação de áreas específicas de conservação ambiental para os hábitos
de espécies diversas.
✓ Redução da pressão humana nos habitats, proporcionando aos coletores de
direito uma geração de renda por meio da produção de mudas “in vitro”,
possivelmente introduzindo-os ao melhoramento genético das espécies e assim
resultando na obtenção de flores de alta qualidade do ponto de vista da
textura, cor e forma.
✓ É importante desmistificar o uso do termo conscientização do linguajar
popular, quando o correto é o uso do termo educação. A conscientização é o
estágio final de um longo processo de educação. Assim sendo, vamos educar para
conscientizar todos numa luta insana pela preservação da natureza.
Quanto ao maior risco de extinção, acredito que absolutamente todas as espécies estão no mesmo barco, ou seja, iminência de extinção caso as abordagens acima citadas sejam ignoradas.
O.A. Muitíssimo obrigado!
Após o término da entrevista, a Lou Menezes solicitou-me que incluísse, ao final da matéria, algumas frases de impacto, de sua autoria. Sua intenção é que estas afirmações fiquem registradas como seus slogans. 'São três frases que representam com fidelidade o que penso e faço no complexo de meus trabalhos com orquídeas', disse-me ela.
Quanto ao maior risco de extinção, acredito que absolutamente todas as espécies estão no mesmo barco, ou seja, iminência de extinção caso as abordagens acima citadas sejam ignoradas.
O.A. Muitíssimo obrigado!
Após o término da entrevista, a Lou Menezes solicitou-me que incluísse, ao final da matéria, algumas frases de impacto, de sua autoria. Sua intenção é que estas afirmações fiquem registradas como seus slogans. 'São três frases que representam com fidelidade o que penso e faço no complexo de meus trabalhos com orquídeas', disse-me ela.
"A cultura de um povo se mede pelos seus livros e suas bibliotecas, pois
povo sem livros e sem bibliotecas não tem memória."
(prova disso é que, apesar da destruição do orquidário, várias de suas
obras puderam ser publicadas com base nos estudos realizados com a coleção
de orquídeas da instalação)
"A ecologia é a meretriz de todo proxeneta."
(em referência ao oportunismo de uma grande quantidade de 'paraquedistas' que têm pousado como doutores em ecologia, notadamente em ONGs e no serviço público)
"Os críticos são como eunucos em um harém, ou seja, eles sabem como a coisa é feita, mas são incapazes de fazê-la."
(segundo ela, esta frase aplica-se com perfeição àqueles que se sentem incomodados com o sucesso ou produção daqueles capazes de executar o que sabem)
"A ecologia é a meretriz de todo proxeneta."
(em referência ao oportunismo de uma grande quantidade de 'paraquedistas' que têm pousado como doutores em ecologia, notadamente em ONGs e no serviço público)
"Os críticos são como eunucos em um harém, ou seja, eles sabem como a coisa é feita, mas são incapazes de fazê-la."
(segundo ela, esta frase aplica-se com perfeição àqueles que se sentem incomodados com o sucesso ou produção daqueles capazes de executar o que sabem)
Lou Menezes