| Evandro Tambarussi | |
O entrevistado de hoje, Evandro Vagner Tambarussi, é uma pessoa que sempre
admirei pela sua inteligência, trajetória acadêmica e, acima de tudo,
simplicidade. Engenheiro Florestal formado pela Unesp, é mestre em ciências
pela Esalq/Usp, tendo a fisiologia e bioquímica de plantas como área de
concentração. É doutor em ciências (genética e melhoramento de plantas),
também pela Esalq/Usp. Estagiou na Universidade de Oxford. Apesar de ser uma
pessoa bastante atarefada, prontamente aceitou o convite para conceder esta
entrevista ao blog, onde contou um pouco da sua jornada com as
orquídeas.
O.A. Como se deu o início da sua relação com as orquídeas?
E.T. Foi exatamente na floração das Cattleya loddigesii que minha
paixão pelas orquídeas começou. No ano de 1996 em visita a um amigo já
falecido prematuramente vi, entre tantas plantas de seu jardim, uma
“parasita” com flores róseas e tênues partes mais esbranquiçadas.
Aproximando-me do belo espécime de C. lodigesii pude ver alongados
pseudobulbos e raízes que espalhavam-se feito o curso de um rio entre as
partes de um xaxim já velho e debruçado no chão. Naquele mesmo dia, quando
meu pai passou para me buscar na casa deste amigo, pedi envergonhadamente
para ele, que é homem criado no interior com hábitos peculiares de quem
acharia aquilo no mínimo estranho, que me comprasse uma orquídea. Para minha
surpresa ele, sem hesitar, passou na primeira floricultura da cidade e me
pediu para escolher a que mais me agradava. Comprei um
Dendrobium híbrido lindo o qual definhou até a morte por ter sido
cultivado dentro de casa. Naquele mesmo ano, me Associei ao já extinto COI
(Círculo Orquidófilo de Itajobi/SP).
O.A. Dentre as espécies de orquídeas, existe alguma que seja a sua
favorita?
E.T. Nas reuniões do COI, as quais eram realizadas nas últimas
quartas-feiras de cada mês, era comum que os membros trouxessem suas plantas
floridas para que as outras pessoas as apreciassem. Em uma dessas reuniões,
um de nossos membros levou uma C. walkeriana tipo com duas flores e
pontuada pela CAOB com cinco pontos. Acredito que aquele evento aliado ao
Boletim n. 24 de 1996 (se não me engano) fizeram eu me apaixonar por esta
espécie. A
Cattleya walkeriana
albecens “Denise Cavasini”, apresentada naquele Boletim, em especial, tirou
meu fôlego. De fato, até hoje acho que esta planta é a mais bela orquídea já
encontrada na natureza para esta espécie. Desde então, tenho tentado
adquirir exemplares melhorados ou não desta espécie com grande veemência.
Lembro-me que eu era fã de carteirinha da C. walkeriana alba
“Orquidglade”, um verdadeiro sonho de consumo. Depois de mais de dois meses
economizando moedas que serviriam para comprar meu lanche no recreio
escolar, adquiri a planta do já falecido Suzukinho de Dracena/SP. Nesta
oportunidade entreguei uma sacola com R$150,00 em moedas e ele me entregou
em um posto de gasolina de Itajobi, quase às margens da rodovia, dois
pseudobulbos da planta. O Sr. Suzuki estava a caminho da exposição de
orquídeas de Matão daquele ano, 1999, se não me engano. Tenho a planta até
hoje. O mais impressionante é que ela floriu apenas uma vez desde a compra.
Uma das causas deste fenômeno é a depressão por endogamia que deve estar
atuando nela já que esta planta é fruto de autofecundação da planta
original. Isto foi comprovado por marcadores moleculares e apresentado em
uma de minhas palestras (dados ainda não publicados).
O.A. Conte-nos um pouco sobre a importância das orquídeas em sua
trajetória acadêmica.
E.T. Bem, cultivei minhas plantas até 2002 quando me mudei para Botucatu/SP
para cursar Engenharia Florestal por influência direta de uma das maiores
orquidólogas do mundo, a Eng. Florestal e Bióloga Lou C. Menezes, a qual
guardo profundo carinho e admiração. De 2002 até hoje minhas plantas são
cuidadas e cultivadas pela minha mãe e meu pai, Adelaide e Altair. Os quais
preferem todas as amarelas...rs (híbridos amarelos). De 2003 até 2011
busquei aumentar meu plantel de C. walkeriana as quais eu ainda
cultivo e vou continuar cultivando. Alguns eventos entre 2013 e 2015 me
fizeram adentrar pelo mundo da orquidologia, por assim dizer. Tenho tentando
estudar as C. walkerianas, C. nobiliors e
C. lodigesiis com marcadores moleculares do tipo microssatélies e uma
nova tecnologia chamada “DNA Barcode” afim de determinar possíveis híbridos
entre os clones famosos. Para isto uso plantas sabidamente nativas e algumas
que são incógnitas em nosso meio. Ou mesmo plantas já tidas como híbridos
como é o caso da “Pedentive” e a “Kenny”. No ano de 2009, a
American Orchid Society considerou que a C. walkeriana "Kenny"
poderia ser uma Cattleya Snowblind (C. angelwalker x
C. walkeriana “Pendentive”).
Agora em 2016, publiquei os primeiros marcadores microssatélites
específicos para C. walkeriana em uma conceituada revista da
Universidade de Cambridge (Inglaterra). Este trabalho servirá para
determinar a variabilidade genética em populações naturais, conservação dos
recursos naturais da espécie e também determinar possíveis eventos de
hibridação entre C. walkeriana, C. nobilior e
C. lodigessi, bem como servirá para estudos em
Cattleya mesquitae.
O.A. Quais gêneros de orquídeas ocupam lugar de destaque em sua
coleção?
E.T. Atualmente, tenho cultivado as catasetíneas e algumas
Encyclias. Cycnoches e Chysis são as minhas prediletas e as
Encyclias maiores como a E. cordigera são as que mais gosto.
Estou muito realizado no mundo da orquidofilia por estar contribuindo com
informações científicas e participando de algumas palestras quando sou
convidado.
O.A. Fiquei fascinado com a profundidade e importância da pesquisa
científica do Evandro Tambarussi. Que bom ver tecnologia de ponta sendo
utilizada para o estudo das orquídeas nativas. Ao Dr. Evandro, deixo meu
muitíssimo obrigado pela honra de poder entrevistá-lo. Parabéns pela
belíssima trajetória!