| Cymbidium híbrido | |
Quando comecei a
cultivar orquídeas, li que não deveríamos mudar a planta de lugar quando a mesma estivesse com
botões florais. Aquilo me deixou assustadíssimo. Cheguei a marcar o lugar do
vaso com caneta e fita adesiva, para não movê-lo um centímetro. Com o tempo,
vi que as coisas não eram bem assim. Mas é verdade que os botões de orquídeas
são bastante sensíveis e temperamentais. Não é raro observarmos o
desenvolvimento dos botões até um momento em que eles ficam estagnados. Por
diversas razões, há ocasiões em que os botões de algumas
orquídeas
simplesmente não abrem. Ficam dias paralisados, feito múmias, até que secam e
caem.
Neste artigo, gostaria de descrever as pequenas tragédias que podem acontecer
(e volta e meia acontecem) ao longo do percurso entre o botão da orquídea e a
flor propriamente dita. É um caminho tortuoso que nem sempre leva a um final
feliz. O curioso é que os relatos mais frequentes de botões de orquídeas que
abortam a floração ocorrem com o gênero
Phalaenopsis. Talvez porque seja simplesmente a orquídea mais comercializada e
presenteada. O fato é que o fenômeno pode ocorrer com vários outros gêneros,
como os dos botões florais que ilustram esta matéria. A seguir, dou algumas
dicas sobre o que fazer para evitar que os botões das orquídeas deixem de
abrir.
Mudanças bruscas nas condições climáticas
Este é um parâmetro complicado para que nós, cultivadores domésticos e
amadores, possamos controlá-lo. É por este motivo que as orquídeas cultivadas
em estufas, com todas as condições finamente ajustadas, ficam tão
esplendorosas e impecáveis. Lá, diferentes telas de sombreamento filtram os
raios solares, fornecendo a
luminosidade
ideal para que cada orquídea floresça. Além disso, umidificadores de ambiente
mantêm a umidade relativa do ar em níveis ótimos e ventiladores promovem a
correta circulação do ar. Em nossas casas e apartamentos, no entanto, pouco
podemos fazer quando uma frente fria ou uma onda de calor mexe bruscamente com
as temperaturas. Também é trabalhoso manipular a umidade do local de cultivo
ou a incidência de ventos maléficos, como o vento sul. Em muitos casos, quando
as orquídeas são cultivadas ao ar livre, elas ficam sujeitas às intempéries,
sofrendo danos com o excesso de chuva, por exemplo.
Cattleya labiata |
Todas estas alterações nas condições normais de temperatura e pressão podem
acarretar na interrupção do desenvolvimento do botão floral, que
amarela, murcha e cai. Uma verdadeira visão do inferno para quem aguarda meses ou
até mesmo anos para ver uma florzinha. No jargão popular, costuma-se dizer que
o botão da orquídea abortou a floração. Em inglês, o termo para este fenômeno
é bud blast. Infelizmente, é um processo bastante comum e nem sempre é
culpa do cultivador.
De qualquer forma, sempre que possível, é interessante transferir a orquídea que está prestes a florescer para um local mais protegido, como uma varanda, por exemplo. Este ambiente também vai fazer com que a luz incida a partir de uma única direção, uniformizando a orientação da haste floral e seus botões. Também pode ser um local interno, próximo a uma janela bem iluminada, sem sol direto. O importante é que, nesta etapa, os botões da orquídea não sofram com ventos excessivos, sol forte ou quedas bruscas de temperatura. A falta de água também pode fazer com que os botões abortem.
De qualquer forma, sempre que possível, é interessante transferir a orquídea que está prestes a florescer para um local mais protegido, como uma varanda, por exemplo. Este ambiente também vai fazer com que a luz incida a partir de uma única direção, uniformizando a orientação da haste floral e seus botões. Também pode ser um local interno, próximo a uma janela bem iluminada, sem sol direto. O importante é que, nesta etapa, os botões da orquídea não sofram com ventos excessivos, sol forte ou quedas bruscas de temperatura. A falta de água também pode fazer com que os botões abortem.
Mudando as orquídeas de lugar
Este é um ponto polêmico. Já perdi botões florais em orquídeas que, posso
jurar, não foram movidas um milímetro de seu local original. Por outro lado,
vi orquídeas que comprei pela internet, e que chegaram já em botão, produzirem
belíssimas florações. Imaginem uma orquídea ser arrancada de seu
vaso, ter o substrato retirado, para então ser embrulhada em jornal e passar dias
confinada em uma caixa apertada, de lá para cá. Por fim, após esta odisseia,
os botões florais abrem-se normalmente. Portanto, acho que esse não é um fator
com o qual devamos nos preocupar muito.
O que, de fato, deve ser observado, é quanto à orientação da luz durante o desenvolvimento e desabrochar dos botões florais. Neste caso, realmente, não podemos ficar girando a orquídea de lá para cá, sob o risco de termos flores totalmente desalinhadas, além de hastes florais tortas. Assim que o processo de floração se inicia, é importante fixar um ponto principal de iluminação e manter a orquídea voltada a esta direção, sem alterações bruscas.
O que, de fato, deve ser observado, é quanto à orientação da luz durante o desenvolvimento e desabrochar dos botões florais. Neste caso, realmente, não podemos ficar girando a orquídea de lá para cá, sob o risco de termos flores totalmente desalinhadas, além de hastes florais tortas. Assim que o processo de floração se inicia, é importante fixar um ponto principal de iluminação e manter a orquídea voltada a esta direção, sem alterações bruscas.
Dendrobium Stardust |
Substâncias químicas
Todos nós sabemos que as frutas, à medida que amadurecem, exalam o gás
etileno, que contribui para acelerar a maturação do fruto. Quem já não
embrulhou as bananas em jornal? O que pouca gente sabe é que este mesmo gás
pode acelerar o desenvolvimento dos botões das orquídeas e, em alguns casos,
fazer com que eles abortem. O gás metano também tem esta propriedade.
Portanto, é bom manter as orquídeas longe destes compostos químicos. Na
prática, o ideal é que os botões de orquídeas não fiquem próximos a frutas
maduras ou outras flores que já estejam murchando.
Orquídea Denphal |
Além disso, o contato dos botões com inseticidas, fungicidas ou mesmo
fertilizantes pode prejudicar seu desenvolvimento. Adicionalmente, estes
elementos podem manchar e causar danos físicos às orquídeas já floridas.
Portanto, devemos evitar pulverizar os botões de orquídeas com defensivos
químicos ou adubos. Mesmo durante as regas, o ideal é evitar que os botões e
flores sejam molhados. O excesso de umidade sobre os tecidos florais faz com
que os mesmos sejam atacados pelo fungo Botrytis cinerea, que causa
manchas amarronzadas nas flores e botões das orquídeas.
Ataques de pragas
É batata. Sua orquídea está lá, crescendo bela e faceira, sem ser importunada.
Basta emitir alguns botões florais para que uma legião de bichos do mal
apareça do nada. É pulgão, cochonilha, tripes e por aí vai. Como são
estruturas mais macias e delicadas, flores e botões de orquídeas são alvo
fácil para estes parasitas. Em casos assim, o controle diário e a vigilância
são os melhores procedimentos. Já vi cultivadores borrifando óleo de neem nos
botões, afirmando que afasta os insetos e não os danifica. Quando a infestação
está instalada, o jeito é fazer a eliminação manual, para evitar os danos
causados pelos inseticidas.
Epidendrum fulgens |
Formigas também costumam se refestelar com as gotículas adocicadas que os
botões das orquídeas produzem. Não se sabe ao certo a função desta substância,
mas o fato é que ela acaba atraindo vários insetos, que podem prejudicar o
desenvolvimento e desabrochar dos botões florais. Neste caso, basta apenas
redobrar a atenção e não deixar que a infestação se avolume.
Como vimos, pequenos cuidados nesta etapa crítica de desenvolvimento das orquídeas podem fazer a diferença e evitar que os botões deixem de abrir. Nem sempre é possível controlar tudo, mas vale a pena refinar as condições de cultivo, durante este período. Generosas que são, as orquídeas sempre podem nos presentear com novas florações, caso algo saia errado.
Como vimos, pequenos cuidados nesta etapa crítica de desenvolvimento das orquídeas podem fazer a diferença e evitar que os botões deixem de abrir. Nem sempre é possível controlar tudo, mas vale a pena refinar as condições de cultivo, durante este período. Generosas que são, as orquídeas sempre podem nos presentear com novas florações, caso algo saia errado.
Publicado em: | Última atualização:
Por Sergio Oyama Junior
Bacharel em biologia pela Unicamp, com mestrado e doutorado em bioquímica pela Usp, escreve sobre o cultivo de orquídeas, suculentas, cactos e outras plantas dentro de casas e apartamentos.
São Paulo, SP, Brasil
Bacharel em biologia pela Unicamp, com mestrado e doutorado em bioquímica pela Usp, escreve sobre o cultivo de orquídeas, suculentas, cactos e outras plantas dentro de casas e apartamentos.
São Paulo, SP, Brasil