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Orquídea Cattleya labiata


Orquídea Cattleya labiata
| Cattleya labiata |

Quando falamos em orquídeas brasileiras, a Cattleya labiata é provavelmente uma das primeiras plantas que nos vêm à cabeça. Trata-se de um clássico muito apreciado pelos colecionadores, principalmente os mais antigos. Dentre as mais de cem espécies que compõem o diversificado gênero Cattleya, a labiata destaca-se pelo seu perfume exclusivo, forma e armação impecáveis, além de uma rica gama de colorações, cada qual devidamente catalogada pelos orquidófilos que se dedicam ao estudo desta orquídea.

Não por acaso, a Cattleya labiata foi a primeira espécie descrita dentro do gênero que homenageia William Cattley, um cultivador apaixonado por plantas na Inglaterra do século XIX. De tão abundante à época de seu descobrimento, em 1818, esta orquídea costumava ser utilizada como enchimento nos inúmeros caixotes que eram enviados à Europa, repletos dos mais variados tipos de plantas coletadas em território brasileiro. Na época, ninguém sabia como seriam as flores da maioria das plantas que estavam sendo enviadas.

Orquídea Cattleya labiata
Cattleya labiata

Origem da Cattleya labiata


Os pesquisadores só foram conhecer a beleza do material que haviam coletado nos trópicos quando a primeira Cattleya labiata floresceu em solo europeu, em estufas, pelas mãos de William Cattley. Foi uma surpresa descobrir que aquele amontoado de pseudobulbos e folhas usados como forração nas cargas dos navios poderiam produzir uma flor púrpura tão bonita, de perfume tão inebriante. Em seguida, esta orquídea de rara beleza foi classificada em 1821, por John Lindley. Iniciava-se, então, uma das mais frenéticas corridas intercontinentais de caçadores de orquídeas em busca das preciosidades brasileiras. Além da Cattleya labiata, a cobiçadíssima Cattleya walkeriana também passou a ser bastante coletada. Outra orquídea belíssima é a Cattleya bicolor, embora não seja tão intensamente cortejada pelos colecionadores.


Todo este extrativismo vegetal, que só se intensificou ao longo dos séculos, por coletores nos dois lados do Atlântico, colocou inúmeras espécies de orquídeas brasileiras sob risco de extinção, sendo que muitas foram efetivamente exterminadas em seus habitats de origem, infelizmente.

É importante salientarmos que, a despeito deste início histórico torto, de coleta desenfreada, hoje em dia é proibido retirar orquídeas nativas da natureza. Existe um controle rígido sobre esta atividade, que é reservada a pesquisadores que realizam retiradas de cunho científico ou de preservação. O comércio de orquídeas nativas, embora continue a ocorrer de forma indiscriminada, é proibido por lei.

Orquídea Cattleya labiata
Cattleya labiata

A Cattleya labiata é uma orquídea que ocorre exclusivamente no Brasil, sendo típica de vários estados da região nordeste do país. Devido ao seu habitat de origem, é conhecida como a rainha do sertão ou a rainha do nordeste. Esta orquídea especial é encontrada na caatinga nordestina, único bioma exclusivamente brasileiro, em brejos de altitude, como planta de hábito epífito (vegetando sobre árvores) ou rupícola (vivendo sobre pedras).

Existe uma semelhança morfológica muito grande da Cattleya labiata com a Cattleya warneri. Muitas vezes, elas são confundias. Alguns chegam a considerá-las a mesma espécie, outros classificam uma como variedade da outra. O fato é que as duas orquídeas possuem algumas características distintivas, tais como o porte vegetativo, época de floração e geolocalização de seus habitats originais.


Enquanto a Cattleya labiata é tipicamente encontrada na região nordeste do Brasil, a espécie warneri é típica dos estados do sudeste. A labiata costuma apresentar pseudobulbos mais organizados verticalmente, alinhados com as folhas. Já a Cattleya warneri é conhecida por suas folhas e pseudobulbos deitados, distribuídos de forma mais randômica na touceira. De forma grosseira, a Cattleya labiata costuma florescer no final do verão e outono, ao passo que a warneri floresce na primavera. Há variações dependendo do clima da região em que as orquídeas são cultivadas.

Como cuidar da Cattleya labiata


Trata-se de uma orquídea que aprecia altos níveis de luminosidade, podendo inclusive tolerar algumas horas de sol direto, principalmente no início da manhã e no final da tarde. Durante os meses mais quentes do ano, e nos horários mais quentes do dia, convém proteger a Cattleya labiata do sol pleno com telas de sombreamento, que podem ter a gradação de filtrar 50% da luminosidade. Desta forma, evitamos a ocorrência de queimaduras em suas folhas, que podem provocar lesões que servem como porta de entrada para infecções ocasionadas por fungos e bactérias.

A Cattleya labiata é o tipo de orquídea que até pode ficar dentro de casa, durante o período em que estiver florida. Contudo, tão logo as flores murchem, é necessário transferi-la para um local mais iluminado, preferencialmente externo. Ainda que seja uma varanda de apartamento, mas que recebe bastante luz solar.

A questão da luminosidade é primordial para que a Cattleya labiata floresça de forma apropriada. Sob condições insuficientes de luz solar, a orquídea pode até se desenvolver bem, emitindo novos pseudobulbos, mas pode parar de florescer. Todos os aspectos que correlacionam luz e floração podem ser melhor compreendidos no artigo abaixo:


A umidade relativa do ar precisa ser elevada, assim como ocorre no habitat em que se encontra a Cattleya labiata. As regas podem ser abundantes, mas o substrato precisa secar rapidamente. Como a grande maioria das orquídeas, não tolera raízes úmidas por muito tempo. Neste sentido, o ideal é cultivar a Cattleya labiata da mesma forma em que é encontrada na natureza, com as raízes aderidas aos troncos das árvores. É importante que elas tenham as cascas rugosas e que não percam as camadas mais externas, o que dificulta a aderência das raízes. Também é aconselhável que as copas não sejam muito densas, para não atrapalharem na luminosidade.

Orquídea Cattleya labiata
Cattleya labiata

Alternativamente, para tentar mimetizar este hábito epífito, muitos cultivadores mantêm a Cattleya labiata em pedaços de madeira ou de troncos. Nestas condições de cultivo, a umidade relativa do ar deve ser elevada e as regas mais frequentes.

Para quem cultiva orquídeas em vasos, o ideal é que eles sejam de barro, uma vez que este material permite que o substrato seque mais rapidamente e que as raízes da Cattleya labiata respirem melhor. Há, inclusive, vasos de barro próprios para o cultivo de orquídeas. Eles costumam ser mais largos e baixos, com furos nas laterais. Os vasos de plástico, por sua vez, oferecem a vantagem de apresentarem um peso menor, ficando mais práticos para serem pendurados. Por outro lado, este material mantém as raízes das orquídeas abafadas por mais tempo, retendo mais a umidade. Este pode ser um ponto positivo em locais de clima muito seco. Além disso, o plástico facilita na hora de mudar a orquídea de vaso, facilitando o desenvase.

Independentemente do material, uma prática que prejudica bastante o cultivo da Cattleya labiata, e de orquídeas epífitas de modo geral, é a utilização de pratinhos sob os vasos. O ideal é que eles sejam evitados completamente, já que acumulam a água das regas e favorecem o apodrecimento das raízes por excesso de umidade. Colocar areia grossa, brita ou qualquer outro tipo de pedrisco neste pratinhos ajuda a evitar este problema. Desta forma, a lâmina de água não entra em contato direto com as raízes e a estrutura funciona como uma pequena bandeja umidificadora.


O substrato ideal é aquele desenvolvido para o cultivo de orquídeas epífitas, como a mistura de casca de pinus, carvão vegetal e fibra de coco. Atualmente, existe uma tendência de se utilizar a casca da macadâmia como substrato. Outro material que pode ser utilizado no cultivo da Cattleya labiata é o musgo sphagnum, puro ou misturado a outros componentes. Neste caso, a frequência das regas deve ser ajustada com cuidado, já que o sphagnum tende a reter grandes quantidades de água, demorando mais a secar. Há, ainda, quem cultive a Cattleya labiata em brita pura. Este método de cultivo é similar ao cultivo em semi-hidroponia.

A adubação da Cattleya labiata é um capítulo à parte. O assunto é muito amplo porque cada cultivador desenvolve um método de fertilização preferido, de acordo com seu ambiente de cultivo e estilo de vida. Existem adubos químicos, orgânicos e mistos, denominados organominerais. Eu, particularmente, costumo evitar a utilização de fertilizantes orgânicos, por uma questão prática e pessoal. Como cultivo orquídeas em apartamento, prefiro evitar materiais que se decomponham, exalando odores desagradáveis e atraindo insetos.

Existem, no mercado, várias formulações químicas, do tipo NPK, com macro e micronutrientes, próprias para o cultivo de orquídeas. Eu costumo alternar fertilizantes para manutenção e floração, semanalmente, utilizando metade da dose recomendada pelo fabricante. Todos os detalhes para quem quer saber mais sobre o assunto foram compilados no artigo abaixo:


Em resumo, os princípios básicos para o cultivo bem-sucedido de orquídeas, não somente em apartamentos, podem ser conferidos neste artigo, que é o mais acessado aqui do blog:


Orquídea Cattleya labiata caerulea
Cattleya labiata caerulea

Floração da Cattleya labiata


A orquídea Cattleya labiata floresce tipicamente durante o outono, principalmente entre os meses de fevereiro a abril. Há, no entanto, variações regionais, dependendo do clima do local em que esta orquídea é cultivada. Além das questões de luminosidade, temperatura e adubação, alguns outros fatores interferem na floração da Cattleya labiata.

Aqui no apartamento, noto que a orquídea deixa de florescer nos anos em que realizo cortes ou replantes. Após estes procedimentos mais drásticos, a Cattleya labiata tende a ficar um ano sem dar flores, recuperando sua parte vegetativa. Também é possível notar que, quanto maior o número de pseudobulbos, que tendem a ficar maiores à medida que a planta se desenvolve, melhores e mais abundantes serão as florações da Cattleya labiata.

Orquídea Cattleya labiata
Cattleya labiata - Desenvolvimento dos pseudobulbos

Na foto acima, observamos a dinâmica do crescimento dos pseudobulbos de uma Cattleya labiata. Cada novo pseudobulbo é maior do que o anterior. Este é o principal indício de que o desenvolvimento da orquídea está sendo satisfatório. Quando há algum problema, os pseudobulbos começam a diminuir de tamanho ou ficam com o crescimento estagnado.

No início da sequência de pseudobulbos desta Cattleya labiata da foto, à direita, é possível observar que muitos deles não apresentam espatas, as estruturas que precedem o surgimento dos botões florais. Apenas no último pseudobulbo, na extrema esquerda da foto, que é a frente da orquídea, houve o desenvolvimento de uma bela espata. Este é um sinal de que a orquídea está madura e bem desenvolvida o suficiente para que ocorra sua floração.


Outra característica importante a ser observada, no desenvolvimento vegetativo da Cattleya labiata, é a coloração das folhas. Elas dão um indicativo do nível de luminosidade que a orquídea está recebendo. O ideal é que as folhas e pseudobulbos apresentem um tom de verde claro, semelhante ao da alface. Folhas em um verde muito escuro indicam que a planta está recebendo luminosidade insuficiente. Já folhas amareladas podem ser sinal de que há excesso de sol. O amarelamento é um estágio anterior à queimadura, caracterizada por manchas arredondadas, com linhas concêntricas, que são lesões invadidas por fungos e bactérias.

Orquídea Cattleya labiata
Cattleya labiata - Botões florais surgindo da espata

Suas flores exibem uma grande multitude de cores e padrões, cada qual recebendo sua nomenclatura técnica apropriada. Há formas albas, semi-albas, caeruleas, concolor e rubras, para citar algumas. A coloração da Cattleya labiata tipo é predominantemente púrpura. Esta é a forma originalmente encontrada e descrita. Também é a coloração mais comumente encontrada na natureza.

Considerações finais


Não tenho plantas raras ou caras, mas guardo relíquias de grande valor sentimental. A Cattleya labiata caerulea que ilustra este artigo foi cultivada pelo meu tio-avô durante as décadas de 1950 e 1960. Após seu falecimento, ela passou vários anos meio que abandonada, nos fundos da casa onde antes havia um belíssimo orquidário. Quando comecei a cultivar orquídeas, em 2009, acabei ganhando vários exemplares desta Cattleya labiata como herança. Trata-se de uma planta especial pela qual tenho o maior carinho. Embora sofra com as condições adversas da varanda aqui do apartamento, onde venta muito e o sol é inclemente, esta orquídea vem florescendo razoavelmente, falhando apenas nos anos em que é cortada ou replantada. Ela não gosta de ser perturbada.

Ao longo dos anos, fui fotografando diversos estágios do desenvolvimento desta Cattleya labiata, particularmente durante suas florações. Tenho paixão por acompanhar o desabrochar dos botões florais, tendo já registrado uma sequência aqui no blog.

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Bacharel em biologia pela Unicamp, com mestrado e doutorado em bioquímica pela Usp, escreve sobre o cultivo de orquídeas, suculentas, cactos e outras plantas dentro de casas e apartamentos.

São Paulo, SP, Brasil