| Oncidium ornithorhynchum | |
Poucas
orquídeas
têm um perfume tão controverso como a estrela do artigo de hoje,
Oncidium ornithorhynchum, que, na realidade, chama-se
Oncidium sotoanum, como veremos a seguir. Alguns amam, outros odeiam o
aroma exalado pelas flores desta belíssima orquídea, de pétalas e sépalas
rosadas, que contrastam com um vibrante calo amarelo gema, logo acima do
labelo. Embora esta saliência seja a marca registrada dos representantes do
gênero Oncidium, é no Oncidium ornithorhynchum que ela se revela em todo seu
esplendor.
Esta é uma orquídea típica da América Central, vivendo sobre as árvores de
florestas úmidas da região que vai do México à Colômbia. É uma planta que vive
em regiões de clima ameno e localizadas em altitudes mais elevadas. Seu nome
científico correto é Oncidium sotoanum. Devido a uma confusão história,
no momento de seu registro, em 1836, esta perfumada orquídea rosada ficou
erroneamente conhecida como Oncidium ornithorhynchum, confusão que
acabou se perpetuando até os dias de hoje.
Oncidium ornithorhynchum |
Por uma questão comercial, muitos orquidários e produtores continuam a adotar
o nome consagrado. Caso alguém deseje adquirir uma muda desta orquídea ou
procurar informações a respeito de seu cultivo, dificilmente obterá sucesso
caso procure por Oncidium sotoanum. É por esta razão, e por uma questão
de melhor entendimento, que seguiremos chamando esta orquídea de
Oncidium ornithorhynchum, ao longo deste artigo.
O Oncidium ornithorhynchum tem sido extensivamente utilizado na produção de diversos híbridos famosos, cuja principal característica é o aroma por eles exalado, como a orquídea chocolate, o Oncidium Sharry Baby. Outra orquídea bastante perfumada, que descende do Oncidium ornithorhynchum, é o Oncidium Twinkle. Esta última exala um aroma adocicado, que lembra a baunilha. Este híbrido primário produziu diferentes cultivares, que podem produzir flores brancas, amarelas ou em uma coloração tendendo ao vinho. O clone que já cultivei e apresentei aqui no blog é o Oncidium Twinkle 'Yellow Fantasy'.
Devido ao tamanho diminuto das flores destas orquídeas, elas acabaram desenvolvendo mecanismos capazes de chamar a atenção dos agentes polinizadores. Um deles é a produção de flores em grande quantidade, o que se pode notar através das inflorescências apresentadas pelo Oncidium ornithorhynchum, sempre generosas e repletas de cachos de flores rosadas. Outra estratégia de atração consiste no fato de grande parte das espécies serem orquídeas perfumadas.
Oncidium ornithorhynchum |
Controvérsias à parte, o que realmente me chama a atenção, no Oncidium ornithorhynchum, é o formato de suas pequenas flores, que me lembram seres alados. O prefixo ornitho, por sinal, faz referência à semelhança com pássaros. A saliência central, na coloração amarelo gema, também é outro espetáculo digno de nota.
Aqui no apartamento, o Oncidium ornithorhynchum é cultivado em uma varanda face oeste, protegida durante a tarde por tela de sombreamento, em um ambiente com alta umidade relativa do ar. O uso de bandejas umidificadoras, com uma camada de pedrisco ao fundo e uma lâmina de água, sem contato direto com os vasos, garante um ambiente saudável para o cultivo desta orquídea.
O Oncidium ornithorhynchum não se desenvolve muito bem ao nível do mar, já que é uma planta originária de regiões de altitudes elevadas. Aqui em São Paulo, no planalto, ele se desenvolve a contento. Também não é uma orquídea propícia para o cultivo em regiões de climas muito quentes, já que as altas temperaturas dificultam seu crescimento. Sob luminosidade muito intensa, é comum observarmos um adensamento das pintas nas folhas. Outro fenômeno que ocorre com frequência é a queima das pontas das folhas, resultante do excesso de adubação.
Oncidium ornithorhynchum |
No quesito adubação, eu apenas evito a utilização do adubo orgânico, frequentemente composto por farinha de osso, torta de mamona, além do famoso bokashi. Isto porque todo material orgânico precisa se decompor, para liberar os nutrientes às raízes das orquídeas. Este processo exala gases, que emitem odores bem desagradáveis. Além disso, este fenômeno acaba atraindo insetos, o que não é muito desejável, principalmente para quem cultiva orquídeas em apartamento.
Como toda orquídea epífita, particularmente as pertencentes ao gênero Oncidium, a espécie ornithorhynchum não tolera ficar com as raízes úmidas por muito tempo. Portanto, a forma ideal de cultivo seria com a planta aderida ao tronco de uma árvore. Em casas e apartamentos, a melhor solução é recorrer ao cultivo em vasos. No entanto, eles devem permitir que o substrato seque rapidamente, entre uma rega e outra. Os vasos de barro, por serem mais porosos, desempenham esta função a contento. Caso se opte pelo vaso de plástico, deve-se espaçar mais as regas, uma vez que este material ajuda a reter a umidade por um período mais prolongado.
Aqui no apartamento, tenho obtido bons resultados com o cultivo do Oncidium ornithorhynchum em vasos de plástico preenchidos com musgo sphagnum. No entanto, cada cultivador acaba testando e encontrando a combinação perfeita para seu ambiente de cultivo e hábito de regas.
A luminosidade para o cultivo do Oncidium ornithorhynchum não precisa ser muito intensa. No entanto, em ambientes muito sombreados, esta orquídea pode deixar de florescer. O ideal é que a luz seja filtrada por uma tela de sombreamento, do tipo capaz de reter 50% dos raios solares.
Esta é uma orquídea que eu adoro, sendo uma das primeiras espécies que adquiri. Todo outono, já começo a ficar ansioso à espera desta delicada floração, de colorido único e aroma indescritível.
Publicado em: | Última atualização:
Por Sergio Oyama Junior
Bacharel em biologia pela Unicamp, com mestrado e doutorado em bioquímica pela Usp, escreve sobre o cultivo de orquídeas, suculentas, cactos e outras plantas dentro de casas e apartamentos.
São Paulo, SP, Brasil
Bacharel em biologia pela Unicamp, com mestrado e doutorado em bioquímica pela Usp, escreve sobre o cultivo de orquídeas, suculentas, cactos e outras plantas dentro de casas e apartamentos.
São Paulo, SP, Brasil