| Cattleya percivaliana 'Carla Porto' | |
Duas características sempre me chamaram a atenção em relação ao entrevistado
de hoje. Primeiro, o vasto conhecimento que ele possui sobre orquídeas e
orquidofilia. Foi através de seus artigos, mensagens e tutoriais que aprendi a
maior parte das coisas que hoje sei sobre o assunto. A segunda característica,
não menos importante, é justamente esta generosidade em ajudar e compartilhar
sua experiência com todos. Sempre fui muito bem amparado quando lhe solicitei
ajuda e costumo ouvir o mesmo de várias pessoas que o conhecem. Foi com este
espírito que Carlos Keller, paisagista e orquidófilo do Rio de Janeiro,
concordou em conceder esta entrevista especial ao blog.
O.A. Como está composta a sua coleção? Quantos exemplares você
possui?
Carlos Keller: A minha coleção possui cerca de mil plantas e está composta tanto por híbridos quanto por espécies. O enfoque principal está nas cattleyas e nos híbridos de cattleya, mas tenho também algumas orquídeas chamadas de “botânicas”. Outra espécie que gosto muito é a Laelia purpurata. A escolha do plantel está focada na qualidade. Tenho um pouco de tudo, mas só entram no orquidário plantas boas, clássicas, ou de beleza ímpar. A seleção é rigorosa e para isso eu costumo comprar apenas orquídeas quando estão floridas, para ter certeza do que estou levando para casa, salvo é claro, quando compro meristemas de fornecedores de confiança.
Tenho umas poucas orquídeas mais comuns, que geralmente têm origem em presentes de amigos. Essas estão na coleção por valor sentimental e não me desfaço delas por nada. Aqui o fator limitante é o clima, que no Rio é quente e com pouca amplitude térmica entre o dia e a noite, o que não é bom para as orquídeas. Tenho quase todas as cattleyas nas suas principais variedades, mas algumas, como as Cattleya trianaei, por exemplo, não estão se desenvolvendo como eu gostaria. Sentem calor à noite. Curiosamente, algumas orquídeas notadamente de clima frio, como a Cattleya percivaliana e o Zygopetalum, estão se dando bem por aqui. Não sei explicar o motivo, mas procuro ir sempre movendo o vaso desse tipo de orquídea para lá e para cá dentro do orquidário, até encontrar um micro-clima em algum canto que satisfaça as necessidades da planta.
Quanto aos híbridos, tenho a maioria dos meristemões clássicos importados e que foram premiados pela AOS. O principal motivo disso é que estou juntando material para fazer um site e quero postar no site para consulta os principais híbridos à venda no mercado brasileiro e internacional. Nesse caso, só podem entrar ali os híbridos registrados. Quanto às cattleyas espécie, procuro ter na coleção também as antigas, as clássicas, pois essas têm um passado muito interessante para ser contado, o mesmo se dando com as Laelia purpurata. Preciso ter a planta na coleção, para poder fotografá-la no momento em que estiver florida.
O.A. Em linhas gerais, como é feito o cultivo?
Carlos Keller: A chave para o bom cultivo das orquídeas está na rega. A maioria das espécies de orquídea tem as raízes ao ar livre e não enterradas na terra como as demais plantas, então essas raízes têm que secar entre as regas, senão elas apodrecem. Todo o resto do cultivo, como o substrato, o vaso, as instalações, etc., estão pendurados nessa premissa. Se a umidade está correta tudo vai bem. Orquídea gosta de umidade no ar e não no pé. Prefiro como construção os orquidários técnicos, com estufas agrícolas cobertas. Plástico leitoso no teto e sombrite ou aluminette logo abaixo, telas essas que tanto podem ser abertas ou fechadas, dependendo da época do ano. O orquidário deve ter pelo menos 4 metros de altura para um bom arejamento e se possível deve ser fechado dos lados com uma tela bem leve e clara. O orquidário coberto propicia um melhor controle das regas, pois não é afetado pelos períodos chuvosos.
No meu caso, podemos dizer: “casa de ferreiro, espeto de pau”. O meu
orquidário é muito velho e ruim. É baixo demais e está apertado para a
coleção. Ainda não fiz melhoramentos ali, pois estou eternamente à procura de
uma área mais alta, nas montanhas que circundam a cidade, para mudar para lá o
meu orquidário. Nessa região o clima é bem mais favorável, para não dizer
excelente, mas vocês sabem que as montanhas do Rio estão tomadas por favelas,
o que torna os terrenos disponíveis, ou muito caros se forem seguros, ou muito
perigosos.
O substrato que sempre usei depois que o xaxim foi proibido é o musgo do Chile, também chamado de sphagnum do Chile. Esse é um ótimo substrato para as orquídeas, desde que nunca entre em contato com matéria orgânica, senão ele se decompõe rapidamente e leva junto as raízes. Devido ao calor da minha área (Guaratiba, no sul da cidade), fui obrigado a descobrir o orquidário para melhorar a ventilação, retirando o teto de plástico e mantendo só o sombrite. Por conta disso, tive que mudar o substrato para algo de secagem super rápida e estou usando no momento cubos de casca de peroba (aprox: 3 x 3 cm ou 4 x 4 cm), tanto dentro de vasos de barro, quanto dentro de cachepots de madeira. As raízes estão se adaptando muito bem a esse substrato e não apodrecem como fariam se estivessem no musgo debaixo de chuva. Esse substrato de rápida secagem também é imune aos funcionários que pensam que orquídea é igual a samambaia e molham demais quando não estamos olhando.
Algumas orquídeas, no entanto, geralmente as “botânicas” como as catasetíneas, por exemplo, quando fora da dormência gostam de ter certa umidade constante nas raízes e para isso eu as mantenho no sphagnum, o qual apesar da umidade interna é muito arejado. Para esse tipo de orquídea mantenho parte do orquidário coberto com plástico como era originalmente. No mais, adubo semanalmente com Peters e a cada mês aplico Superthrive e micronutrientes. Tanto o adubo, quanto os complementos, variam ao longo do ano de acordo com as necessidades de cada planta na época.
O.A. Além de adubos e defensivos, existem aditivos capazes de melhorar a floração?
Carlos Keller: Como eu já disse acima, uso o Superthrive, que é uma mistura não detalhada pelo fabricante de vitamina B e hormônios. Uso também o Cal-Mag da Peters, micronutrientes da Vallagro (Brexil) e nos replantes ou dependendo da necessidade, uso o hormônio enraizador AIB, que é o ácido indobutílico. Gosto muito do adubo “Viagra” da AOSP, uma espécie de Bokashi, mas esse eu uso apenas nas poucas orquídeas terrestres que tenho. Nos cubos de peroba ele não se fixa e para o sphagnum ele é a morte, pois é matéria orgânica concentrada. O adubo orgânico que uso nos vasos com cubos de peroba é o Vitan, que é foliar e também possui micronutrientes. Na verdade ele é um adubo organomineral.
O.A. No que o iniciante deve focar, ao começar a sua coleção?
Carlos Keller: O iniciante deve antes de tudo estudar. Ele deve ler tudo o que puder sobre as orquídeas, deve fazer buscas na internet e deve visitar o maior número possível de orquidófilos. Só assim ele não fará erros estruturais básicos, difíceis depois de consertar. Ele deve também procurar se inteirar sobre todas as orquídeas que estão à venda no mercado, para poder então dentre todas, fazer a seleção do que vale a pena ser adquirido, evitando as compras de impulso e as compras redundantes. Não estou falando aqui de plantas caras, pois o orquidário de cada um é o reflexo do seu bolso. Não se deve valorizar a orquídea por ser cara e sim pelo seu bom cultivo. Os meristemas possuem no geral a mesma faixa de preço e um meristema belo custa o mesmo que um sem graça. O que vale é a escolha. Uma orquídea sem carisma ocupa o mesmo espaço e recebe a mesma água e adubo que uma espetacular, embora os preços se equiparem. Estou me dirigindo àqueles que desejam ser colecionadores amadores de orquídea. Os que desejam fazer cruzamentos e melhoramentos, esses só terão sucesso depois de muita prática e experiência. Isso não é algo que se aprende da noite para o dia.
O.A. Existe alguma orquídea que você ainda não tenha e que ainda gostaria de adquirir?
Carlos Keller: Eu ainda não estou produzindo orquídeas a ponto de poder pagar com as vendas as minhas aquisições. Isso vai demorar a acontecer, pois as minhas instalações são pequenas. As compras são pagas com parte do meu salário, o que não é fácil de se dispor hoje em dia. Por conta disso, ficaram para trás algumas orquídeas mais caras, as quais dentre elas estão uma boa Cattleya walkeriana caerulea e uma boa Cattleya labiata caerulea. Eu tenho alguns bons exemplares das citadas acima, mas uma espetacular de cada ainda está me faltando. Carlos.
O.A. Não tenho palavras para agradecer por tão rica e detalhada entrevista. Com certeza, será uma referência importante para todos aqueles que se dedicam a esta atividade tão cativante. O Carlos permitiu que divulgássemos seu e-mail para contato, uma informação que já me foi bastante útil no passado: carlosgkeller@terra.com.br. Carlos Keller, muito obrigado por tudo!
Carlos Keller: A minha coleção possui cerca de mil plantas e está composta tanto por híbridos quanto por espécies. O enfoque principal está nas cattleyas e nos híbridos de cattleya, mas tenho também algumas orquídeas chamadas de “botânicas”. Outra espécie que gosto muito é a Laelia purpurata. A escolha do plantel está focada na qualidade. Tenho um pouco de tudo, mas só entram no orquidário plantas boas, clássicas, ou de beleza ímpar. A seleção é rigorosa e para isso eu costumo comprar apenas orquídeas quando estão floridas, para ter certeza do que estou levando para casa, salvo é claro, quando compro meristemas de fornecedores de confiança.
Tenho umas poucas orquídeas mais comuns, que geralmente têm origem em presentes de amigos. Essas estão na coleção por valor sentimental e não me desfaço delas por nada. Aqui o fator limitante é o clima, que no Rio é quente e com pouca amplitude térmica entre o dia e a noite, o que não é bom para as orquídeas. Tenho quase todas as cattleyas nas suas principais variedades, mas algumas, como as Cattleya trianaei, por exemplo, não estão se desenvolvendo como eu gostaria. Sentem calor à noite. Curiosamente, algumas orquídeas notadamente de clima frio, como a Cattleya percivaliana e o Zygopetalum, estão se dando bem por aqui. Não sei explicar o motivo, mas procuro ir sempre movendo o vaso desse tipo de orquídea para lá e para cá dentro do orquidário, até encontrar um micro-clima em algum canto que satisfaça as necessidades da planta.
Blc. Waianae Leopard 'Melody Point' |
Quanto aos híbridos, tenho a maioria dos meristemões clássicos importados e que foram premiados pela AOS. O principal motivo disso é que estou juntando material para fazer um site e quero postar no site para consulta os principais híbridos à venda no mercado brasileiro e internacional. Nesse caso, só podem entrar ali os híbridos registrados. Quanto às cattleyas espécie, procuro ter na coleção também as antigas, as clássicas, pois essas têm um passado muito interessante para ser contado, o mesmo se dando com as Laelia purpurata. Preciso ter a planta na coleção, para poder fotografá-la no momento em que estiver florida.
Carlos Keller: A chave para o bom cultivo das orquídeas está na rega. A maioria das espécies de orquídea tem as raízes ao ar livre e não enterradas na terra como as demais plantas, então essas raízes têm que secar entre as regas, senão elas apodrecem. Todo o resto do cultivo, como o substrato, o vaso, as instalações, etc., estão pendurados nessa premissa. Se a umidade está correta tudo vai bem. Orquídea gosta de umidade no ar e não no pé. Prefiro como construção os orquidários técnicos, com estufas agrícolas cobertas. Plástico leitoso no teto e sombrite ou aluminette logo abaixo, telas essas que tanto podem ser abertas ou fechadas, dependendo da época do ano. O orquidário deve ter pelo menos 4 metros de altura para um bom arejamento e se possível deve ser fechado dos lados com uma tela bem leve e clara. O orquidário coberto propicia um melhor controle das regas, pois não é afetado pelos períodos chuvosos.
Carlos Keller |
O substrato que sempre usei depois que o xaxim foi proibido é o musgo do Chile, também chamado de sphagnum do Chile. Esse é um ótimo substrato para as orquídeas, desde que nunca entre em contato com matéria orgânica, senão ele se decompõe rapidamente e leva junto as raízes. Devido ao calor da minha área (Guaratiba, no sul da cidade), fui obrigado a descobrir o orquidário para melhorar a ventilação, retirando o teto de plástico e mantendo só o sombrite. Por conta disso, tive que mudar o substrato para algo de secagem super rápida e estou usando no momento cubos de casca de peroba (aprox: 3 x 3 cm ou 4 x 4 cm), tanto dentro de vasos de barro, quanto dentro de cachepots de madeira. As raízes estão se adaptando muito bem a esse substrato e não apodrecem como fariam se estivessem no musgo debaixo de chuva. Esse substrato de rápida secagem também é imune aos funcionários que pensam que orquídea é igual a samambaia e molham demais quando não estamos olhando.
Algumas orquídeas, no entanto, geralmente as “botânicas” como as catasetíneas, por exemplo, quando fora da dormência gostam de ter certa umidade constante nas raízes e para isso eu as mantenho no sphagnum, o qual apesar da umidade interna é muito arejado. Para esse tipo de orquídea mantenho parte do orquidário coberto com plástico como era originalmente. No mais, adubo semanalmente com Peters e a cada mês aplico Superthrive e micronutrientes. Tanto o adubo, quanto os complementos, variam ao longo do ano de acordo com as necessidades de cada planta na época.
O.A. Além de adubos e defensivos, existem aditivos capazes de melhorar a floração?
Carlos Keller: Como eu já disse acima, uso o Superthrive, que é uma mistura não detalhada pelo fabricante de vitamina B e hormônios. Uso também o Cal-Mag da Peters, micronutrientes da Vallagro (Brexil) e nos replantes ou dependendo da necessidade, uso o hormônio enraizador AIB, que é o ácido indobutílico. Gosto muito do adubo “Viagra” da AOSP, uma espécie de Bokashi, mas esse eu uso apenas nas poucas orquídeas terrestres que tenho. Nos cubos de peroba ele não se fixa e para o sphagnum ele é a morte, pois é matéria orgânica concentrada. O adubo orgânico que uso nos vasos com cubos de peroba é o Vitan, que é foliar e também possui micronutrientes. Na verdade ele é um adubo organomineral.
O.A. No que o iniciante deve focar, ao começar a sua coleção?
Carlos Keller: O iniciante deve antes de tudo estudar. Ele deve ler tudo o que puder sobre as orquídeas, deve fazer buscas na internet e deve visitar o maior número possível de orquidófilos. Só assim ele não fará erros estruturais básicos, difíceis depois de consertar. Ele deve também procurar se inteirar sobre todas as orquídeas que estão à venda no mercado, para poder então dentre todas, fazer a seleção do que vale a pena ser adquirido, evitando as compras de impulso e as compras redundantes. Não estou falando aqui de plantas caras, pois o orquidário de cada um é o reflexo do seu bolso. Não se deve valorizar a orquídea por ser cara e sim pelo seu bom cultivo. Os meristemas possuem no geral a mesma faixa de preço e um meristema belo custa o mesmo que um sem graça. O que vale é a escolha. Uma orquídea sem carisma ocupa o mesmo espaço e recebe a mesma água e adubo que uma espetacular, embora os preços se equiparem. Estou me dirigindo àqueles que desejam ser colecionadores amadores de orquídea. Os que desejam fazer cruzamentos e melhoramentos, esses só terão sucesso depois de muita prática e experiência. Isso não é algo que se aprende da noite para o dia.
O.A. Existe alguma orquídea que você ainda não tenha e que ainda gostaria de adquirir?
Carlos Keller: Eu ainda não estou produzindo orquídeas a ponto de poder pagar com as vendas as minhas aquisições. Isso vai demorar a acontecer, pois as minhas instalações são pequenas. As compras são pagas com parte do meu salário, o que não é fácil de se dispor hoje em dia. Por conta disso, ficaram para trás algumas orquídeas mais caras, as quais dentre elas estão uma boa Cattleya walkeriana caerulea e uma boa Cattleya labiata caerulea. Eu tenho alguns bons exemplares das citadas acima, mas uma espetacular de cada ainda está me faltando. Carlos.
O.A. Não tenho palavras para agradecer por tão rica e detalhada entrevista. Com certeza, será uma referência importante para todos aqueles que se dedicam a esta atividade tão cativante. O Carlos permitiu que divulgássemos seu e-mail para contato, uma informação que já me foi bastante útil no passado: carlosgkeller@terra.com.br. Carlos Keller, muito obrigado por tudo!